sábado, 4 de julho de 2020

Fora de Mim


Cinza e amarelo entre meus dedos
e uma distância dando socos em minha cara
Caminhos de um barro vermelho
num quase laranja que foi somente ontem
Os pássaros não voarão nunca mais
e as minhas saudades doerão ainda sempre
Algumas fotografias sobreviveram 
mas outras não escaparam deste holocausto
Devolvam todas minhas flores mortas
e todas as velas apagadas de meus funerais
Eu consegui de certa forma sobreviver
só não tenho a certeza de que se ainda vivo
Sonho alguns sonhos quase bonitos
mas os atores desse filme foram todos embora
Faço perguntas extremamente sérias
de como poderei manter essa minha futilidade
Olho com meus olhos sem ter visão
os metais que brilham em suas novas mentiras
Esforço-me com tosa cautela possível
para ser mais um idiota como tantos conseguem
Eu nunca consegui ser uma outra coisa
e esse eu mesmo sofre por ser apenas um único
Os sentimentos não possuem um rótulo
para que possamos saber o seu real conteúdo
Marchamos pelos dias sem ter fôlego
como quem carrega pedras pesadas em ladeiras
Não falo mais de tristezas ou alegrias
se quiser elas que falem o que quiser de mim
Eu troquei os chãos pelos ares
e acho que afinal de contas foi ótimo negócio
Todos os sabores fugiram da boca
e agora estou imune à todo tipo de saudade
A minha grande ideia foi não ter
e as expectativas foram parar em meus arquivos
Agora com simples apertar de teclas
posso trazer o impossível para quase perto
Vivo fugindo de tudo que é fora de mim
e os poemas saem aos montes sem que perceba
Cinza e amarelo entre meus dedos
feito à muitos anos passados ou quase agora...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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