Olho atentamente a minha camisa
e vejo que o azul está sujo
de milhares de nuvens cinzas...
É assim, nada mais, a tempestade se aproxima e não há mais como evitar, inútil é a teimosia desse meu sol... Parece até a brincadeira de um menino brincando de esconde-esconde naquele meu quintal pequeno que era bem maior que o mundo...
Bem-te-vis e pombos dividem o espaço
mas é aquele meu canto triste
parecido com um réquiem qualquer...
Algumas carpideiras usam rosa e deslumbram-se com sua juvenil nudez nesses nossos tempos... Gargantas são calçadas onde a bebida barata canta chamando a morte adiantada... Eu faço desenhos com as pontas dos dedos na espessa poeira da própria memória...
A minha luneta enxerga muito
mas por mais que me esforce
não consigo divisar meu umbigo...
Os meus cigarros são sinceros condenados de uma moderna inquisição disfarçada... Rasguei minha fantasia de cima abaixo para provar falsas teorias... Os meus fantasmas agora tremem de medo por conta da minha eterna tristeza...
Invertem-se todos os papéis
e não me importo de ser o vilão
caprichem bem em suas vaias...
Qualquer dia eu acabo me irando, pego a chave, abro a gaveta e acho minhas asas... Coloco-as novamente em minhas costas e pulo no abismo... Se irei morrer, isto é uma outra história e não cabe a mim contá-la... Os prisioneiros tocarão sempre suas gaitas como em filmes antigos que quase fazem chorar...
Não tenha pena algum de mim
eu escondo minhas cartas na manga
e ainda sei destruir alguns castelos...
Pena que eu não sei dar conselhos, não sou mais nada que eu mesmo e isso já é o suficiente... Minhas preces são apenas para que as bombas falhem... A minha ternura permanecerá até quando nada mais existir... Eu sou o pano sujo que enxuga as lágrimas que rolam no rosto dos meninos...
Vão se apagando minhas letras
porque um vento malvado chega
e sopra tudo que a areia aceitou...
Gostaria de ser o campeão, mas ele é apenas um só, outros deverão perder e eu talvez deva ser um deles... As minhas feridas devem sempre doer e algumas vezes sangrar... Os espelhos aceitam toda e qualquer coisa... Contraditoriamente acabaram-se todas as minhas contradições...
Olho atentamente a minh'alma
e vejo que estou todo sujo de azul
como naquele terninho que avó me deu....
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