sexta-feira, 12 de junho de 2020

Patrimônia

Meu filho tem olheiras. Isso é normal? - por Dra. Juliana Macéa ...
Vampiros imunes aos sóis mais quentes possíveis bailando sobre os cadáveres de folhas e gentes. Piso em cabeças de serpentes e esmago mosquitos em paredes. Todas as minhas taras são normais. Viva a estética das parabólicas com seus males diários!
Espirais retas cumprem seu papel o melhor possível em quentes dias tão frios. Perdi as chaves de todos os meus baús de tesouro e isso acabou sendo uma dádiva dos céus. As tempestades saíram correndo bem devagar. Viva o cinismo dos políticos de merda!
Gastadores de oxigênio andam por todos os cantos que possam existir. Meu sono me consome mais que um soco dado com luvas de box. Eu não durmo desde a criação do mundo e nem me importo mais com tal. Viva todos os estômagos que sabem discursar!
Chorar é a nossa maior obra-prima e são dispensados cinzéis ou quaisquer outros instrumentos de apoio. Os velhos lamentam sua velhice e os jovens envelhecem precocemente. Nunca faça perguntas com o risco de serem respondidas. Viva os aborígenes com seus dados móveis!
Poços abandonados são mais festivos que certas metrópoles que são invisíveis pela senhora fumaça. Ando caprichando para ser o pior e um dia ainda consigo essa proeza. Toda insignificância acaba tendo sua imensidão quase correta. Viva a cana descendo da goela!
Caí redondo num chão quadrado rindo de velhos conceitos e de nem tão novas piadas assim. Estamos no mês de junho e por isso é quase um agosto. Certas eternidades valem bem menos de dez centavos. Viva o cheiro da carniça dos mais requintados perfumes!
Monstros possuem pressa de pegarem seus diplomas e ministrarem suas aulas. Ser mau agora é apenas coisa de amador. A esperança me dá vários tapas na cara e eu não tomo jeito. Só consigo vez em quando deixar sofismas para o lixeiro levar. Viva tudo que não compreendi até hoje!
Recusa a entender tudo aquilo que fere sem proveito algum. Pardais espalhados por todos os cantos possíveis. Sou parecido com um bezerro desmamado e sei muito bem disso. Não sei nem mais fazer um laço em meus sapatos. Viva qualquer lugar mesmo sendo o inferno!
Percebo que minha percepção se arrefece aos poucos.  Os secos e os molhados acabaram chegando a um denominador mais que comum para decepção de nossa querida plateia. Estamos aí com toda ausência possível. Viva os vaga-lumes que estão sem vaga e não possuem mais lume!
Estética é um caminho doce para amargas conclusões e isso até constrange mais que um pouco. Prefiro bordões do que muitas bordoadas. A fera que eu fui ainda continua em boa forma. Não há mais areia para escrever belas frases. Viva os nudes que acabaram virando meras banalidades!
Guardas não protegem da eventualidade nada eventual da decomposição que temos. Zunem os ventos em nossos ouvidos vez por vez. Tudo escurece aos poucos e olhos acabam enganando. Não temos mais o que guardar por falta de bolsos. Viva o belo nada que somos!...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...