Essa preocupação por nada acaba virando uma coleção de insônias. Discordo de todas opiniões exatas, principalmente das que acabam matando minha alegria. Nada do que vejo, realmente existe. Pedra é pedra, água é água, e o tempo é só aquilo que eu olhei de repente.
Essa minha ignorância me protege de certas tempestades. Não há livro algum que descreva o que levo em minha alma, nada consegue a exatidão de palavra alguma em idioma algum. Saudade é para os que vivem, número muito reduzido entre os meros mortais.
De repente o freio falha, as letras se embaralham e uma ideia nova surge, algumas distorções ferem e outras não. Todos os nuances são infinitos e os extremos se tocam. A distância tem o tamanho de quem mede, nada mais pode ser feito à respeito. Para tudo há um jeito, uma solução, menos para a vida.
A vida é tão simples que sua complexidade nos atinge direto, assim como o campeão ganha um direto no queixo e vai à lona. Uma dicotomia cai bem e nem isso percebemos com nossa douta ignorância.
Nenhuma novidade pode ser tão nova que não seja velha, aprendam isso. O minuto seguinte é o grande destruidor de tudo, todo desejo só tem valor se não for saciado. A esperança é alguns vírus desconhecido pela ciência que mata mais do que a peste. Mas as engrenagens da máquina não funcionam sem o combustível adequado.
Desculpem-me os sábios, não tenho academicismo algum e nem pretendo tê-lo. Nossas escolhas procedem de nossas naturezas e no meu corpo faltam muitas peças. Aos meus olhos agradeço tudo aquilo que vi e ainda o que não vim, isso me ajudou bem mais. À minha boca agradeço de igual forma, nela nasceram gritos que cuspi ou engoli dependendo da ocasião. Aos meus pés, meus respeitos, nunca me falaram coisa alguma, mas conheço terras e ares por sua ajuda. Às minhas mãos, agradeço a rudeza de alguns pobres versos que possibilitaram minha existência como ser errante.
Eu acho que o dia está meio frio, mas para o gelo ele deve estar bem quente. Eu preciso urgentemente de coisas que seriam como a água que o cachorro sacode depois de molhado para outros. E observando isso acabo misturando tristeza e não no mesmo copo e engolindo bem depressa como um suicida com sua última dose.
Toda imobilidade é aparente, os objetos bailam na minha frente sem que eu os note, os relógios gargalham suas maldições como atores de um filme de quinta categoria, folhas devem estar caindo e castelos também. Nesse exato momento algum milagre dispensável acaba de acontecer e uma mãe deu a luz a mais um enigma.
Quem sabe em que casinha o coelhinho está? Esta noite agora pertence à eternidade e suas brilhantes luzes também. O carra da história não pára, mas não me pergunte o que eu acho disso. A dúvida é a única que me consola quando consigo parar de andar um pouco.
Se me perguntasse o que quereria agora diria certamente que quero flores, delas mesmo e poder passear entre elas de leve...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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