segunda-feira, 29 de junho de 2020

De Leve


Essa preocupação por nada acaba virando uma coleção de insônias. Discordo de todas opiniões exatas, principalmente das que acabam matando minha alegria. Nada do que vejo, realmente existe. Pedra é pedra, água é água, e o tempo é só aquilo que eu olhei de repente.
Essa minha ignorância me protege de certas tempestades. Não há livro algum que descreva o que levo em minha alma, nada consegue a exatidão de palavra alguma em idioma algum. Saudade é para os que vivem, número muito reduzido entre os meros mortais. 
De repente o freio falha, as letras se embaralham e uma ideia nova surge, algumas distorções ferem e outras não. Todos os nuances são infinitos e os extremos se tocam. A distância tem o tamanho de quem mede, nada mais pode ser feito à respeito. Para tudo há um jeito, uma solução, menos para a vida.
A vida é tão simples que sua complexidade nos atinge direto, assim como o campeão ganha um direto no queixo e vai à lona. Uma dicotomia cai bem e nem isso percebemos com nossa douta ignorância.
Nenhuma novidade pode ser tão nova que não seja velha, aprendam isso. O minuto seguinte é o grande destruidor de tudo, todo desejo só tem valor se não for saciado. A esperança é alguns vírus desconhecido pela ciência que mata mais do que a peste. Mas as engrenagens da máquina não funcionam sem o combustível adequado. 
Desculpem-me os sábios, não tenho academicismo algum e nem pretendo tê-lo. Nossas escolhas procedem de nossas naturezas e no meu corpo faltam muitas peças. Aos meus olhos agradeço tudo aquilo que vi e ainda o que não vim, isso me ajudou bem mais. À minha boca agradeço de igual forma, nela nasceram gritos que cuspi ou engoli dependendo da ocasião. Aos meus pés, meus respeitos, nunca me falaram coisa alguma, mas conheço terras e ares por sua ajuda. Às minhas mãos, agradeço a rudeza de alguns pobres versos que possibilitaram minha existência como ser errante.
Eu acho que o dia está meio frio, mas para o gelo ele deve estar bem quente. Eu preciso urgentemente de coisas que seriam como a água que o cachorro sacode depois de molhado para outros. E observando isso acabo misturando tristeza e não no mesmo copo e engolindo bem depressa como um suicida com sua última dose.
Toda imobilidade é aparente, os objetos bailam na minha frente sem que eu os note, os relógios gargalham suas maldições como atores de um filme de quinta categoria, folhas devem estar caindo e castelos também. Nesse exato momento algum milagre dispensável acaba de acontecer e uma mãe deu a luz a mais um enigma.
Quem sabe em que casinha o coelhinho está? Esta noite agora pertence à eternidade e suas brilhantes luzes também. O carra da história não pára, mas não me pergunte o que eu acho disso. A dúvida é a única que me consola quando consigo parar de andar um pouco.
Se me perguntasse o que quereria agora diria certamente que quero flores, delas mesmo e poder passear entre elas de leve...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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