domingo, 17 de junho de 2018

Alceu, Almeu, Alnosso (Homenagem mais que evidente para o grande Alceu Valença)


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Coloquem a La Ursa mais bonita do mundo em meio à praça. Alegria, minha gente, alegria! O Rei de Olinda acabou de chegar. E eu, que sou teu humilde servo, te rendo todas as possíveis homenagens que os dias tristes não irão de forma alguma atrapalhar.
Cada um dos meus dias, pelo menos os que me lembro sem amargor, foram teus. E o mais de um coração bobo quisera eu que fosse meu.
Chegue mais perto, moleque abusado, a sorte está lançada. E mais versos coloco em minha bagagem, e olha aqui, nem sei que vou, mas a pressa é muita, tanto que escrevi para a lua sonetos sem pé nem cabeça.
O trem sobe serras sem limites e eu acho isso tudo muito engraçado. Já coloquei língua para as carpideiras e elas, bondosas senhoras, nem se importaram.
Eu não sei dançar, meus pés estão velhos demais para isso, mas o frevo é como um trago novo e o maracatu a bebida feita como índios e negros tiveram a douta paciência de ensinar. Dispenso quadro negros e vastidões verdes, se a alegria é logo ali.
Um cheiro no cangote da morena já me anima, batons mostram bons caminhos de boca e eu quero mais, muito mais, sem escalas em Milão, eu quero a rua. Sou dono delas, quase como Exu, meu rei e minha causa.
Acendam velas! Acendam velas! As janelas estão abertas desde cedo e solenes procissões já vêm aí.  Sabe aquela ali? Qual? A mais bela de todas, é minha, mesmo que só em sonhos...
Pare o trânsito! Parem os carros! Não há motivo nenhum para tal atrapalho, mas é parte do corpo de baile dançar até a exaustão, como os lampiões acesos até que o querosene se acabe.
Não está frio, de forma alguma, mas me dê pelo menos um casaco de couro, nada me atrapalha mais que o vento maldado de galope certo. As minhas esporas de prata estão por aí e, como bom descuidado que sou, não consigo encontrar de jeito maneira.
Perdi todas as cores, mas pelo menos me restou uma. E os sinais de acordes bem feitos servem de terno consolo. Eu sou o povo! Mesmo quando estrangeiro em minha própria terra natal...
Acabei de gravar um vídeo do caos e ele será exibido, em primeira mão, na sessão da tarde. Há cenas memoráveis, entre elas batalhas entre mouros e cristãos e partidas emocionantes de futebol de botão.
Nem me lembro mais do mais. Só sei que era. Uma partida eletrônica de arranjos perfeitos e flautas barrocas dum tempo nem de muita, nem de pouca seda. Eis a rota. A grande muralha já não causa tanto frisson como antes, mas ainda está lá.
Não tente decifrar meu enigma, eu inverto as regras, meu apetite hoje está grande demais...

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