sexta-feira, 31 de julho de 2020

Camaleão


Como o camaleão muda de cor?? | 🐾 Pets Em Geral 🐾 Amino

Todas as cores 
para não ter cor nenhuma
sobreviver nesta selva chamada mundo
nesse risco chamado vida...

Azul, vermelho,
paixões que doem,
sonhos que matam,
tristezas que chegam,
saudades que vão...

Todos os botes
querer voar sem ter asas
como nas chamas de um incêndio brusco
fortes e fracos todos perdem...

Cinza, amarelo,
insônias que ferem,
paixões que matam,
mentiras que cortam,
amores que não são...

Todos os lugares
isso não mais nos importa
eu transformo tudo no seu oposto
perdi o medo da maldade...

Verde, dourado,
flores que morrem,
dúvidas que matam,
gritos que ecoam
dentro da escuridão...

Todos as cores
para ter a cor mais necessária
viver nessa farsa que se chama vida
esperando um sem final - a morte...

Meditação

Simbolismo de Shiva – Vida de Yoga
Faltam cães em largados passeios
enquanto a mente se distrai até demais
eu não gosto desses dias tão frios
mas acabo sendo perseguido por eles...

É simples descobrir os maiores enigmas
basta apenas não pensar em mais nada
há muitas folhas caídas por estes chãos
e nem preciso desviar o rosto para vê-las...

Uma nota só quebrando o meu silêncio
todo agora se movimenta até o imóvel
acabaram-se todas as naturezas-mortas
e até meu coração está doendo menos...

Estas velhas asas são mais que suficientes
vou à qualquer lugar sem esforço algum
perdi por completo o medo dos abismos
não me faz tremer as profundezas do mar...

Eu inverto todas essas regras possíveis
e faço da minha loucura a mais sã que há
sei agora que os choros são inevitáveis
mas viver é o que podemos sempre fazer...

Faltam também donzelas para eu defender
mas não importa os dragões foram embora
as velas das naus conhecem seus ventos
e à cada segundo eu invento uma nova cor...

Os castelos da maldade caem diariamente
mesmo que teimem em construir outros
e eu aqui tranquilo e intranquilo como Shiva
mesmo sem o Ganga entre meus cabelos...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Não Tive, Não Tenho, Não Terei

Menino Solitário | No meu último passeio ao Rio, estava no A… | Flickr
Não tive,
não tenho, 
não terei,
tantas alegrias para perder as contas,
tantas delas para poder esquecê-las,
que possa dizer que são como as estrelas,
impossíveis de se contar...

Não tive,
não tenho,
não terei,
amores suficientes para encher meu peito,
amores possíveis para declarar-me humana,
quando muito fui e sou apenas um arremedo,
apenas vivo por acaso...

Não tive,
não tenho,
não terei,
muitas aventuras para poder um dia contar,
muitos riscos que realmente valeram a pena,
todos os meus medos foram vividos em vão,
como todo o resto...

Não tive,
não tenho,
não terei,
as palmas de uma plateia que eu queria ter,
uma saudade que deixasse quando eu partir,
quando ir embora serei apenas mais um,
esquecido então serei...

Não tive,
não tenho,
não terei...

Tudo de Nenhum

Dédalo e Ícaro de Anthony van Dyck | Tela para Quadro na Santhatela
toda cor de cor nenhuma
a inocência de dias mortos
todo som de som nenhum
a felicidade indo embora

misturam-se na minha mente
tantas figuras indefiníveis
que tudo parece um pesadelo
feito de retalhos de insônia

toda luz de luz nenhuma
eu só conheço madrugadas
todo amor de amor nenhum
me feri com tantos espinhos

num carnaval já passado
a poeira acaba nos cobrindo
não seremos mais o futuro
somos o passado sem presente

toda fé de fé nenhuma
meu desespero vem vindo
todo ar de ar nenhum
minhas palavras me sufocam

a maior de todas as doenças
é importar com alguma delas
viver pode ser um sofrimento
mas é o que temos para hoje

toda paz de paz nenhuma
as bombas valem dinheiro
todo mar de mar nenhum
acabaram-se os mistérios

a transformação em opostos
meu medo foi minha coragem
dos abismos o mais profundo
de lá é que eu alcei meu voo

toda cor de cor nenhuma
a inocência do meu demônio
todo som de som nenhum
a felicidade afinal nunca veio...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida),

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Seja

todas as respostas em uma só
silêncio absoluto em todas as palavras
os meus olhos perseguem cenas
que nunca afinal aconteceram
e mesmo assim trazem suas saudades
(é tudo uma partida que não houve)
eu devoro todos os meus sonhos
como quem chega do nada aflito
esperando sofregamente a hora de morrer
como quem engole com rapidez
cápsulas de cianeto num fim de guerra
(mas isso em vão por permanecer vivo)
deixa que meus devaneios funcionem
como um invento que acabou falhando
todas as proximidades acabam enojando
e eu procuro a caverna mais profunda
de onde só sairei no Juízo Final
(mesmo assim sob protestos)
alguns insetos que não identifico
dão seus voos rasantes nas lâmpadas
e o cheiro de tabaco impregna em tudo
é melhor do que sentir falta dos perfumes
que acabei inventando pra sentir falta
(numa poética idiota que eu invento)
simples simples e ainda mil vezes simples
quebra-cabeças de milhares de peças
prontas para teimarem e saírem do lugar
como as centenas de transeuntes apáticos
que compõem os quadros dantescos
(cidade ou cemitério? nem faço ideia...)
o garoto-propaganda faz seus programas
e as famílias ideais em seus anúncios
nos incentivam a perder nossas chances
de tentar viver um pouco mais talvez
antes que o vento nos derrube de vez
(uma salva de palmas pra nossa idiotice)...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 28 de julho de 2020

Poema Morno

Nunca subestime a vida dos velhos sentados nos bancos de praça!
o que eu fiz ou não fiz
agora tanto faz
o tempo escorreu pelos dedos
e toda agonia cessada está
não gostaria de ter sido mais um
mas pensando bem
até que tive alguma sorte

o dia não está quente
nem tampouco frio
e fico imaginando 
que a morte deve ser 
apenas desse jeito

o que eu amei ou não amei
agora já é tarde
o coração se endureceu
mais que uma pedra
mas ele não foi o culpado
a culpa foi da vida
que apronta essas coisas

a noite não está quente
nem tampouco fria
e lá fora o silêncio
parecido bem mais 
com o fim de tudo

tudo apenas morno...

Guerra

Pelo menos 200 crianças perderam a vida no mar da morte | TVI24
Um botão apertado
algumas moedas à mais
a realização das pragas
típicos seres humanos...

Um fogo sem sentido
um ar mais violento
uma dança louca
de todas as pedras...

Não há mais volta
a ida foi chorada
mesmo que o heroísmo
finja destemor...

Moderno ou antigo
agora pouco importa
a voz dos profetas
é costurada com arame...

Todas as regras quebradas
toda a inocência profanada
as mentiras são imagens
refletidas nos espelhos...

A nossa esperança
é uma pomba branca
que voa placidamente 
entre ruínas e cadáveres...

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Estrela Decadente

EBC | Céu terá várias 'estrelas cadentes' nos próximos dias
E a estrela caiu...
Não era apenas um pedaço de fogo
(apesar de quente estar)
Não tinha luz suficiente
(perdi o medo do escuro)
Era apenas alguém...

Não veio do céu...
Veio da loucura dos meus dias
(quando a solidão me matava)
Menos demônio que agora
(eu sou o demônio de mim)
Mas eu não sou ninguém...

Me tirem logo daqui
Não há nada mais perigoso que isso
(viver sem reparar que é morto)
Deve haver mais um motivo
(que meu silêncio me ajude)
Ainda sorrirei de maldade...

E a estrela caiu...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

É Mais Que Um Fato

É mais que um fato, é um grito..
Garganta acima, garganta abaixo, nada mais importa...
Onde estamos? Em todos os lugares e em nós mesmos...
Eu me perco por estes dias de muitos temporais e mesmo assim tenho tempo de rir de mim mesmo. Vejo o bailado eterno de folhas mortas correndo pelas águas que escorrem nas ruas solitárias. O mundo em silêncio e eu também...
É mais que um fato, é um choro...
Feridas fechadas, fechadas abertas, nada mais importa...
Pra onde fugir? Pra algum onde minha sombra não vá...
A realidade tem toda a calma possível, tudo vai embora no momento exato, nada vai restar. Vejo o sol atravessando o céu como um menino que anda e anda. Até parados o caminho anda por nós...
É mais que um fato, é um dilema...
Tanto amor, pouco amor, nada mais importa...
De onde partiu o tiro? Não importa porque nos atingirá...
Os amargos e os doces acabam se misturando, tentar impedir isso é apenas mais uma impossibilidade. Eis a lua rasgando o véu do noite, ela em breve sucumbirá. A minha memória tem andado tão curta...
É mais que um fato, é um escândalo...
Sonhos perdidos, sonhos achados, nada mais importa...
Para não olhar, não basta fechar os olhos, a alma enxerga mais e o peito entende todos os idiomas possíveis. A brutalidade me causa inúmeros enjoos complicados de se descrever...
É mais que um fato, é um espetáculo...
Brinquedos quebrados, brinquedos inteiros...
Cavei com as mãos a terra seca para esconder fatais amores, mas quanto mais eu escondia, a evidência afligiu-me com seus sinais. Gostaria de ser como uma pedra, mas algumas delas sentem mais que os homens...
É mais que um fato, é uma dissonância...
Versos perdidos, versos achados...
Minhas asas já nasceram com defeitos de fábrica, não alcançam alturas, somente abismos. Eu tenho medo de tanta coisa, principalmente de ter medo na hora errada e errar novamente, obedecendo as instruções de uso de minha natureza...
É mais que um fato, é um explosivo...
Guerras de dentro, guerras de fora...
Na velocidade alta que eu corro, não vejo a curva e o acidente acaba acontecendo. Todos os vidros quebram-se, sobretudos os meus espelhos e eu acabo esquecendo que ter dor é mais normal do que se possa pensar...
É mais que um fato, é uma história...
Talvez em breve, talvez daqui um tempo...
Quando menos esperar baterão na porta, serei cobrado pelo que deixei de fazer, dos milhares de desencontros que tive e das paixões que tive um dia. A fogueira vai se apagar e só vão restar velhas cinzas...
É mais que um fato, é a própria vida...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 26 de julho de 2020

Dia Nenhum

Petchburee, tailândia - 27 de fevereiro de 2018: homem mendigo ...
Eu, você, todos nós,
filhos de um acaso nomeado destino,
em que absurdos misturam-se aos sonhos
dando resultado final a tristeza,
essa mesma que salga nossos rostos
sem ao menos se importar...

Eu, você, todos nós,
convidados para uma grande festa
que chegamos atrasados, no final,
que tropeçamos e caímos na partida
de uma grande disputa impensada,
assumindo compromissos inexistentes...

Eu, você, todos nós,
que ferimos com os nossos carinhos,
que magoamos com a nossa ternura,
que não medimos palavras erradas,
que invertemos nossas intenções,
que acabamos amando com ódio...

Eu, você, todos nós,
simples escravos de outros escravos,
submissos à uma juventude passageira,
solitários participantes de rebanhos,
com um deus em nossos estômagos
e com um demônio no meio das pernas...

Eu, você, todos nós,
sentimos frio bem próximos às fogueiras,
andarilhos tão sujos e maltrapilhos,
confundimos alegrias com números,
ostentamos a pobreza de nossas almas,
os mais miseráveis de toda a criação...

Eu, você, todos nós,
olhamos sem noção algumas nos espelhos,
oramos pela chegada de novas mentiras,
crucificados no macio sofá da sala,
indiferentes aos muitos gritos de socorro,
donos de um imenso dia nenhum...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Feito Transe

O Que Pode Causar o Suor Frio?
Essa minha sudorese 
acompanhada de graves tremores
dos pés à cabeça
e o pálido incômodo
de um tal imprevisto...
Não há como escapar!
Se andasse todas as ruas
deste nosso mundo
mesmo assim não fugiria
assim como as sombras
obedecem o nosso ritmo...
Uma hora serei capturado!
Escuto milhares de palavras
que entram na mente atordoada
como só os loucos conseguem
e fica tonto e cambaleio
como bêbado mesmo sem beber...
Nas horas mais imprecisas!
Recordo histórias antigas
ressuscito tristezas velhas
e o mesmo gosto amargo
se repete como se sofrer
só uma vez não bastasse...
Preciso fugir, fugir, fugir!
Me pego com vontade 
de dançar feito um bobo
sem que haja festa alguma
e faço da minha solidão
a mais bem vinda acompanhante...
Eu sei o que isso é!
Ela chegará sem pedir licença
muito mal-educada que é
e rirá do meu desconsolo
e dirá com todas letras:
Não podes fugir de mim...
Eu cheguei, sou tua inspiração!...

sábado, 25 de julho de 2020

Os Restos

Conjunto de copos e pratos vazios com talheres numa toalha de mesa ...
Os restos do prato
os restos do copo
a solidão...

A solidão que tudo acaba
tudo consome
me tira do sério...

O sério sem risos
a impaciência vindo
talvez até tristeza...

A tristeza ferindo
como faca afiada
sem compaixão...

A compaixão de mim mesmo
um frio vai invadindo
e eu tenho tanto medo...

Medo de não estar aqui
na hora que deveria
para achar a felicidade...

Mas a felicidade é malvada
não chega e nem chegará
falharam todos os planos...

Os planos que eu fiz
que acabaram matando
os meus sonhos...

Os sonhos já morreram
mas permanecem
são tantos restos...

Os restos do prato
os restos do copo
a solidão...

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Fatais Desencontros

Olhar, menino, adolescente, costas, paisagem.
Tudo não aconteceu
a história foi contada
de forma inversa
Eu vim antes e você depois
muito depois mesmo
E aí eu já tinha ido embora...
Todos os sonhos fugiram
para lugares entre sombras
de forma medrosa
O meu choro tinha começado
e águas não são detidas
é a força da gravidade...
A vida foi ruim?
De certa forma todas são
algumas mais outras menos
A minha foi apenas pesadelo
em que acordava
e via nascer tristes manhãs...
Sobe a fumaça dos incensos
seu perfume entristece
infeliz paradoxo
Lembro do que não queria
porque tudo que queria
já partiu faz tempo...
O silêncio é resposta
quando não existe
mais nada para se dizer
Viver é apenas um acaso
alguma esqueceu de apertar
o botão e desligar a máquina...

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Eu Não Sou O Pássaro

Cosmologia Pesquisa: MENSAGEM DAS ANDORINHAS
Eu não sou o pássaro,
O pássaro voa, eu rastejo,
O pássaro vive de sonhos,
Eu só acredito no que vejo...

A vida é que me cegou,
Não posso mais enxergar,
É triste, mas é o que sou,
Não tenho o verbo amar...

Eu não sou o pássaro,
O pássaro voa, eu rastejo,
O pássaro vive em liberdade,
Eu só vivo por um ensejo...

Mesmo se alguém o prende,
Maldito de quem o prendeu,
Enquanto eu vivo acorrentado,
Quem fez as correntes fui eu...

Eu não sou o pássaro,
O pássaro voa, eu rastejo,
O pássaro tem todas as cores,
Só conheço a cor do desejo...

Eu queria também ser pássaro,
Andar nos céus pelo dia,
Mas seria preciso ser alegre
E eu nunca tive alegria...

Eu não sou o pássaro,
O pássaro voa, eu rastejo,
O pássaro tem o seu ninho,
Não tive sequer o teu beijo...

Eu não sou o pássaro...

Muda de Roupa

Sonhar com cova - Teu Sonhar
Um muda de roupa, uma só... O suficiente para cobrir o que perdeu a vergonha, o que perdeu qualquer preocupação, o que não tem mais sentido para nada...
Não há mais frio, não há mais calor... O medo foi jogado fora, a tristeza perdeu sua importância... Não há mais sentido em desespero algum, já foi cumprido seu papel... 
A hora chegou, inesperada como sempre... Tudo é mentira, não há conformação, não há compreensão... Mesmo que assim o decida, o fará por aflição...
Não há mais fome... A sede acabou... Não há mais preocupação de fiz de mês... As contas não são mais suas, o cobrador não pode mais ir na sua porta... A vaidade terminou, o endereço não pode ser trocado... Os vizinhos não incomodam mais...
Uma muda de roupa, uma só... Sem poema, sem canção, sem som e sem cor alguma... Nada atrapalha, nem ajuda... Nada está perto, longe ou logo aqui... Nem arrependimento vale mais alguma coisa...
O que falam, não aborrece e nem agrada mais... O cansaço se cansou de lhe perseguir, a doença não precisa de mais nenhum remédio... O tédio perdeu a sua vez...
O tesão acabou, a falta dele também... Não há opinião mais válida, não há mentira, nem briga por partido ou por time... As segundas-feiras não são mais desagradáveis e nem os finais-de-semana bem vindos...
A traição e a fidelidade partiram... Loucura e sensatez cessaram... Nem a sabedoria nem a tolice agora dão palpite... Não há mais erros e nem acertos... Não se sonha mais, nem há mais pesadelos...
Um muda de roupa, uma só... Pode ser nova ou pode ser usada... Comprada com esforço ou ganha... A que se gostava ou não... Limpa ou suja, ninguém vai reclamar...
Não há amor e nem ódio... Quem amamos não mais vamos conviver, não beijaremos mais amada, nem olharemos os filhos ternamente quando dormem... Os inimigos não poderão mais se vingar, mas a revanche não existirá mais...
Não há ciência, nem religião, nem mais nada que possa se dar opinião... A boca calada, os olhos fechados, enquanto ainda houverem... Num sono sem sono algum, sem nada que possa aborrecer...
Todos juntos um dia, os que mataram também, os que sonharam, os que destruíram sonhos... Independentes se velhos ou novos... Se feios ou bonitos... Se grandes ou pequenos... Os que conheceram o mundo todo, os que não conheceram mais que a cidade, os que só conheceram uma lata de lixo clandestina...
Uma muda de roupa, uma só... Os mortos não precisam de mais nada...

terça-feira, 21 de julho de 2020

AmarÉ

Um menino senta-se na alvenaria com um barquinho de papel na mão ...
A maré subiu... subiu demais...
e não mais desceu como em outros mares...
E meu coração afogado pede paz...
apesar de todos esses meus pesares...

O dia escureceu... foi tão ligeiro...
e eu dentro de uma noite quase infinita...
Não teve carnaval no meu fevereiro...
e a tristeza em pareceu tão bonita...

A solidão seguiu-me os rastros...
veio me caçar... eu era a sua caça...
Esse era o meu destino... quase nefasto...
de viver morrendo... pura pirraça...

A maré desceu... desceu demais...
e não mais subiu como em outros mares...
E meu coração não se salva mais...
não preciso mais nem dos seus pesares...

Poema da Felicidade Procurada

♥ Jardim da Fé ♥: O QUE É O NATAL?
Eu trago todas as cores esmaecidas
de um passado que nos persegue
como o mais cruel dos perseguidores
Milhares de teias em minha mente
como num pesadelo em que aranhas
dançam sobre os nossos cadáveres
Nada mais podemos então fazer
senão termos uma calma resignação
tudo some e nada porém se apaga
Os cristais agora estão quebrados
mas o seu brilho continua pelos cacos
como a luz das estrelas não se apaga
Coloquem o vinil na antiga vitrola!
Quero dançar até não poder mais
e cair morto sobre mim mesmo
Eu presto atenção em mínimos sons
nas mais repetitivas e pequenas flores
e tento enfrentar todo esse meu tédio
Não me lembro de ter sido bom 
em lugar nenhum em nenhum tempo
pois me lembro sempre que sou humano
Tudo nos passa de forma desapercebida
principalmente o que seria melhor
e que depois nos arrependemos 
Todos os sonhos são tão breves!
Mas acabam nos ferindo gravemente
como pequenos dardos envenenados
Eu espero minhas palavras se acabarem
e não haverá mais nenhum discurso
os versos fecharão suas bocas de uma vez
Tudo é e não é em um tempo só
a minha saudade me dá socos na cara
e eu nem ao menos posso me defender
Nada é proibido senão a felicidade
que sai andando de forma despreocupada
se esquivando de todos que a procuram...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Um Poema Para O Talvez

Eu ando andando na corda bamba
com os olhos vendados 
e as pernas muito trêmulas
como quem entra em desespero
por qualquer um motivo banal...
Limpo o suor que escorre da testa
com meus dedos amarelados 
de muita nicotina que ingeri
não cuidado bem da vida
para poder escapar da morte...
O meu peito é embalagem vazia
que reaproveitei pra guardar
todos os meus mais velhos sonhos
foram muitos os que morreram
mas que continuam gritando...
Não sei mais o que eu faço
desorientado feito um cão no trânsito
desta grande rua chamada mundo
e os mísseis caem direto do alto
mesmo quando não há guerra alguma...
Mais uma dose no mesmo copo
o fogo desce garganta abaixo
fico mais tonto e não me importo
a tolice brota de qualquer chão
e até os ventos acabam rindo também...
Deixe que eu ande sempre adiante
seja dia ou em qualquer madrugada
o perigo só troca a sua roupa
pula de surpresa em nossas costas
e corta impiedoso nossas gargantas...
Caio redondo no chão da sala
a minha grande queda sem testemunha
os nossos maiores ridículos são os sós
aqueles que ninguém ri somente nós
somos testemunhas de nossos pecados...
Quero dormir até o outro dia
acordar com a cara toda amassada
mais um gosto amargo na pobre boca
um não batendo em minha porta
talvez menos malvado que um talvez...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Sem Floreios

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Até o próximo minuto é um célebre desconhecido que por nós vai passar sem uma palavra sequer...
O que somos perante o tempo? Apenas um pequeno rabisco que um menino fez rápido numa branca parede antes de lhe tomarem o lápis de sua mão. Um pequeno chuvisco que mal umedeceu a terra antes que o sol saísse mais quente ainda...
O que queremos nada importa para o que o destino assim nos tem reservado...
O que significamos para a roda da história? Apenas uma fotografia amarelada num infinito catálogo que praticamente ninguém folheará. Nossas palavras emudecerão, nosso canto será disperso pelo ar e nunca mais ouvido...
Todo amor acaba partindo para uma viagem sem volta e nem nos dará sequer um aceno de mão...
Qual a importância do que sentimos? Devemos responder esta pergunta para nós mesmos, ela somente a nós interessa. O amor sendo correspondido ou não acaba sempre cumprindo o seu papel...
Nada temos de realmente nosso, isso é a maior de todas as ilusões que um mágico faz para nos enganar...
Qual será o resultado de toda essa corrida? Ela poderá apenas nos dar a mais insistente das exaustões. Todas as paredes cairão um dia, o mato crescerá tirando a beleza do jardim, o resultado da corrida que nos esforçamos para ganhar será apenas um simples fato...
A mocidade que tentamos guardar, pula muros, foge em cada ruga nova que o espelho nos mostra pois em cada olhada já somos outros...
O que fazer diante de tal desastre? Existe apenas um modo: preservemos a alma do mesmo jeito, rindo mais, brincando mais, não perdendo nosso tempo em conseguir o que não nos pertence porque isso também temporário é...
A vida e a morte são igualmente boas, mas se soubermos o grande segredo: viver sem morrer dentro da própria vida...
E quando a nossa hora chegar? Não há nada mais o que fazer, já que nunca sabemos quando ela chega, nada poderemos evitar por esta ser inevitável, apenas aceitemos como um breve sono em que apenas fechamos os olhos serenamente, sem comédias ou tragédias, sem floreios...         

domingo, 19 de julho de 2020

Poemeto Para As Luzes da Noite

Luzes da Noite | Luzes da noite, Luzes, Noites
Quando anoitece
tremo de medo
enquanto não deveria
as noite também tem luzes
talvez mais que o dia...

As luzes das estrelas
que são tantas
que eu nunca contaria
quem me dera ter uma
pois para lá eu partiria...

Ia embora logo
sem ter saudade
de tudo que eu deixaria
aqui só tem tristeza
aqui morreu a alegria...

Quando anoitece
morro de sono
enquanto sinto não deveria
as luzes me chamam agora
talvez mais que o dia...

sexta-feira, 17 de julho de 2020

As Sobras da Festa


A imagem pode conter: árvore, planta, atividades ao ar livre e natureza

Não sei a que ponto chega a sandice humana, já que sou um deles e pelo menos reconheço-me um canalha com a consciência menos intranquila. Todos nós precisamos mais de ares e mais um pouco de tempo mesmo que seja para meras banalidades. Nossos objetivos, a maioria deles, é apenas um desperdício do que poderíamos ter vivido mais.
Brincadeiras devem ser levadas à sério, a nossa ganância acaba nos enterrando até o pescoço, não na areia, mas no concreto. A seriedade pode nos dar rugas extras, isso não é nada bom.
Os que sonham choram menos, os sonhos lhes ocupa a agenda com sorrisos, sejam eles por algum motivo ou, ainda, por motivo algum, mas isso vale mais a pena do que certas vitórias que, além de banais, podem ser extremamente malvadas.
A maioria das pessoas desconhece a verdade razão de existirmos, por isso atiram em direções opostas ao que deviam, se acertam o alvo errado é pior ainda. Nunca discutamos com a bondade, isso é um convite a passarmos vergonha, perdendo a questão.
A dor não é agradável, nunca foi, nunca será, à não ser para certos gostos excêntricos, mas é extremamente necessária. Assim como sem conhecer a tristeza, a alegria acabará morrendo na hora que menos esperamos. A dicotomia não é uma coisa boa, mas quem disse que somente coisas boas fazem parte da vida? 
Nenhuma guerra durou para sempre, por maior que ela tenha sido e todos os que mataram, também possuem a dádiva da morte. A morte em si não é um castigo, vindo em seu tempo certo é apenas a troca de um lugar para outro. Porém, que isso seja bem entendido, a vida deve ter sido vivida de forma que a sua continuação valha a pena.
A loucura é, na maioria das vezes, mais lúcida do que a própria lucidez. Os preconceitos são feridas que não se fecham até que o doente tenha coragem suficiente de arrancar esse pedaço de si como quem opera um câncer. Tentar ser maior do que se é, é a forma mais rápida de nos diminuirmos. A imortalidade persegue á todos.
As palavras e as cores possuem um poder tão grande que se tivéssemos uma ideia exata do que representam, andaríamos sempre de olhos fechados e em respeitoso silêncio. Não há beleza sem cores para as formas e nada teria sentido sem elas. Não há muros que sejam mais potentes que as palavras que podem derrubar tudo ou tudo preservar.
Por isso, pelo menos por isso, não se desespere amigo, mesmo quando seu desespero pareça necessário. A escuridão não possui muito fôlego e uma hora ela acaba morrendo, a tristeza se enfada rapidamente de afligir a mesma pessoa. A solidão pode se transformar uma ótima companhia e aí não será mais o que é. 
Não reclame se não foi convidado, festas sempre haverão. E se foi e acabou chegando atrasado, lembre-se que nem sempre as sobras da festas são ruins...

É Melhor Morrer Do Que Estar Morto

Menino, adolescente, olhos fechados, careta, beijo. Menino ...
Há muitos que andam de cabeça baixa
enquanto alguns nunca abaixam a cabeça
Há muitos com segredos trancados na caixa
enquanto outros não esperam que aconteça
Há muitos que vibram numa mesma faixa
enquanto outros assinam sua própria sentença

Muitos vivem na sua idiota zona de conforto
mas é melhor morrer do que estar morto...

Há muitos que lutam para não terem nada
enquanto outros tem tudo e o tudo não tem valor
Há muitos que a vida só lhes dá porrada
enquanto outros vivem tão cheios de amor
Há muitos que acham que a vida é uma caçada
enquanto outros até agora só conhecem a dor

Muitos embarcam mas não encontram porto
mas é melhor morrer do que estar morto...

Há muitos que são escravos do dinheiro
enquanto outros nunca o teve em sua mão
Há muitos que vendem a alma por inteiro
enquanto outros só vendem só uma fração
Há muitos que o ano todo é só um fevereiro
enquanto outros preferem somente escuridão

Muitos fazem o que é reto se tornar torto
mas é melhor morrer do que estar morto...

Há muitos que comem o dia todo todo dia
enquanto outros comem só de vez em quando
Há muitos que são parceiros da alegria
enquanto outros nunca estão comemorando
Há muitos que são escravos da monotonia
enquanto outros estão o tempo todo voando

Eu vejo tanta coisa que até fico absorto
pois é melhor morrer do que estar morto...

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Paradoxo Segundo C.A.

Esse é o mínimo do máximo
tantas palavras bonitas 
num quadro tão feio
minha loucura ao extremo
minha natureza conforme
paradoxalmente rude e terna
transcendente porém ordinária
As roupas nos varais
as bandeiras em seus mastros
e as fitas nos pandeiros das ciganas
ou no cetro dos mortos
esqueci de tudo porém sorrio
acertei fora do alvo
chutei o traseiro da prudência
perdi todo o cuidado
Nem todo belo embeleza
as amenidades talvez agridam
e a surpresa é mais normal
tenho asas para não voar
e minhas orações são negadas
com o maior dos afincos
a derradeira das tristezas
acabou me dando a melhor
de todas as crises de riso
Filmes de terro no chá das cinco
a amizade todos os meus inimigos
tapamos a peneira com o sol
eu nunca fui o que sou
mesmo se assino algum contrato
a solenidade veio de qualquer jeito
e eu me lambuzo de mentiras
como um qualquer marciano
que nasceu ali na esquina
logo agora há mais meio século
Dois desconhecidos apaixonados
a vista cega para mais enxergar
tantos tiroteios pelos silêncios
e a minha confissão de culpa alguma
certamente a certeza não é certa
e é muito amarelo o meu lilás
é coisa fina é coisa boa
tudo aquilo que o dinheiro paga
mesmo não sendo moralmente certo
os números sabem gritar alto
e calam até o que eles fizeram
Eu sou apenas um saltimbanco...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Aflição Por Aí

loja na rua 7 a principal conj urucania santa cruz 🥇 【 OFERTAS ...
Eu fui bucólico como a morte
nas piruetas mais mortais possíveis
Nem tempo longe e perto
que nem eu mesmo sei mais dizer
Só sei que pulei os abismos
para aqui mesmo estar...

Muitos desenhos pelas paredes
e palavras-chaves que não esclareciam
Mas por que isso?
Respostas só existem para perguntas
E você bem o sabe
eu não costumo perguntar nada...

Talvez ainda haja alguma dor
guardada escondida em meus bolsos
Mas não sei se o fogo acenderia
no meio de um temporal tão grande
Talvez o meu riso debochado
queira fazer alguma nova pantomina...

Eu olhei para o alto certas vezes
como quem deflora nuvens sem maldade
Explodi muitas e muitas bombas
sem ter ao menos noção exata disso
Foi apenas puro desespero
ao ver o sangue que escorria nas mãos...

O destino ri agora da minha cara
e as andorinhas acabam fazendo coro
Tudo é possível para a tristeza
e os sonhos ajudam a matar-me mais
Escute meu grito pela noite afora
na mais inútil das procuras por você...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Poema da Pedra do Sino

Olhos verdes: 5 coisas para saber sobre essa rara cor de olhos ...
Pedra do Sino
onde numa primavera rasgada
em muitos pedaços
deixei minha alma
Em sinais incompreensíveis
meu silêncio foi bem maior
que o próprio mundo
descobrindo o que já conhecia
Eu não tinha mais o mar
nem mais a Marina
mas do verde dos teus olhos
vi nascerem as flores
Eu não sabia a saída
de todos os eternos labirintos
mas segurava em suas mãos
mesmo não havendo voo
A maldade me acompanhou
até que pudesse me ferir
e te levar pra bem longe
para nunca mais te ver
O tempo passou e passou
nem sei os sons que houveram
mas o desamor me consumiu
e ao te ver nada mais sinto
Pedra do Sino
o mundo é dos maus...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Música Para Cegos

Meu Menino Cego! (Imagine Taehyung - Bts) - Vampira187 - Wattpad
Eu careço de toda a lógica
deitado nessa cama de pregos
ainda prefiro a ternura
mas os homens andam cegos...

Meus instintos adormeceram
e os outros cultuam seus egos
eu vou andar por aí na vida
mas os homens andam cegos...

Não sou bom e não sou mal
isto é verdade eu não nego
mas me esforço até a exaustão
mas os homens andam cegos...

Fazem tanto desamor
esse pecado eu não carrego
é o amor que me feriu
mas os homens andam cegos...

Não sei se haverá amanhã
mas a minh'alma entrego
só quero a luz das estrelas
mas os homens andam cegos...

Febre Número 1

Menino, criança, infancia, contemporâneo, febre Banco de Imagem ...
Tenho saudade da saudade da saudade e os ardis de minha temperatura colaboram com tal obra. Paredes cruéis estas, transformaram-se de sólidos tijolos em zinco tremulante. E o calor chega mesmo quando frio demais.
Não há jogos de bola na rua com ou sem. Eu espero meu parabéns atrasado por todos os anos que não lhe conheci. Tudo é tão extremamente vicioso, sobretudo palavras. Serei um gato ou um cão? Dos dois o que mais molhado estiver. 
Meus dedos agora endurecem sobre as teclas, mesmo que sejam velhas conhecidas. Um suor quase inexistente corre pela testa que nem um leve inseto pelas areias sem deixar rastro algum. Invento ventos que não existem, sinto uma tontura por algo que desconheço. 
Tenho nojo do nojo do nojo e os odores piores chegam em bando com seus altos brados. Tudo é comum e raro ao mesmo tempo. Uma colcha velha num canto da rua me aparece com uma tela famosa exposta no Louvre. Uma cena pornográfica é tão banal numa cidade onde sangue, suor, urina, fezes e pus são apenas a mesma essência.
Levemente quase tudo é proibido, sobretudo sorrir de contentamento. Os rebeldes já depuseram suas armas e agora professam os mesmos argumentos falhos de seus opositores. Quase ninguém vê isso, mas eu vejo com esses olhos que a terra talvez coma ou talvez recuse.
Juro por todas as mentiras que disse até agora que não jurarei mais nada. Será o amor uma grande farsa? Não sei, alguns venenos são bem apreciados mesmo com aviso em seu rótulo. Boca fechada não entra comida. Os verdes não são mais azuis como já foram um belo dia.
Tenho medo do medo do medo. E as minhas unhas estão amareladas da nicotina do cigarro barato que posso comprar. Assim como a minha alma com tantas dívidas quanto qualquer um que possa existir. Ladrão de mim mesmo, é isso que eu sou. A minha sombra me persegue de teimosa e destemida que é.
A maciez de certas garras é admirável, assim como a inocência de algumas putas. A piedade não escolhe pacotes, nem a ternura foge de  certos enigmas. Uma letra pode mudar tudo, nisto consiste a força imensurável das palavras. Tudo que é invisível é o que temos de mais evidente.
A sanidade geralmente é perigosa, principalmente na mão dos sábios. É um brinquedos podem também nos ferir. O tempo está em falta no mercado há muito tempo, mesmo sendo isso imperceptível. Já o lirismo, estragou nas prateleiras, mas ainda não foi devolvido para as fábricas,
Tenho a febre da febre da febre. E em algumas ruas me escondo da forma mais visível que posso, mesmo quando erro acentos e vírgulas, agora isso não é mais anormal, virou regra. Quase tudo se inverteu, até mesmo as necessidades mais básicas. Até morrer pode ser a última moda.
Pretendia fugir em breve, mas acabei desistindo, aonde for também estarei lá e eu sou o maior dos meus estorvos. Eu me fantasio com o ridículo que tenho medo em todos os meus diários carnavais. Podem anotar aí, nenhuma ferida que tive alguém senão eu mesmo a fiz.
Numa ilusão mais que humana penso que tenho tudo, mas não há mais nada que possa chamar de meu, só os meus sonhos. Esses esquentam-me a alma como se ela fosse apenas mais um corpo e podem até fazer o favor de me matar sem que eu passe nenhuma vergonha...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 14 de julho de 2020

Nem Eu Mesmo Sei Como Cheguei Por Aqui

Menino com a rosa na mão - Home | Facebook
Nem eu mesmo sei como cheguei por aqui...
Só sei que foi numa madrugada de tempestade, cheia de ventos frios como só podem ser os de agosto. Uma madrugada de cara bem feia, dessas parecendo menino antes de chorar. Só sei que a minha mãe sentiu dores quase um dia inteiro antes (ela que me contava isso), fugindo do medo e das loucuras de meu infeliz pai.
Nem eu mesmo sei como cheguei por aqui...
Me lembro do menino franzino que o clarão do lampião entortou os olhos não mais azuis e que nem o médico conseguiu endireitar. O menino que vivia sob o medo constante, na pequena casa isolada do resto do mundo (que também deveria ser cruel), que fazia mágicas no seu quintal e desenhava sóis risonhos para que ele viesse espantando o tempo feio.
Nem eu mesmo sei como cheguei por aqui...
A casa pequena, o poço que dava medo, o canto do bacurau nas noites de eternidade. Os gibis velhos que minha mãe lia repetindo histórias memoráveis enquanto em nem sabia o que bem sonhar porque nada conhecia direito. O mundo era apenas o caminho entre que o carro preto antigo fazia até chegar ao mar.
Nem eu mesmo sei como cheguei por aqui...
As roupas pobres que eu nem podia escolher, os infinitos corredores de alegria e medo (elas andavam sempre de mãos dadas). Os inimigos amigos que partiram de um em um, assim são os ventos da vida. O amor que se recusou a ter alguma pena de mim. Eis o dedo da maldade apontada para mim - é ele!
Nem eu mesmo sei como cheguei por aqui.
Os muitos caminhos que tropecei e as feridas que nunca fecharam e não fecharão mesmo com toda a eternidade possível. As loucuras feitas do mais frágil dos papéis. Eram muitas as mentiras que eu engoli como quem engole o mortal veneno, mas acaba não morrendo. Era um silêncio de palavras gritantes onde só o paradoxo era o permitido.
Nem eu mesmo sei como cheguei por aqui...
Valas negras, caminhos tortos, quase solidão, psicopatias urgentes para a minha alma de rastreador solitário. Um belo conjunto de nuvens no céu. O paciente ainda vivo está. Não tem previsão de melhoras, mas isso seria pedir demais.
Nem eu mesmo sei como cheguei por aqui.
Talvez um barco, talvez um trem, talvez asas emprestadas de algum decaído, nunca se sabe o que será. Talvez pior, talvez melhor, lembrado ou esquecido, será o mesmo. O arrependimento pelo que deixei de fazer falará mais alto. Este sim, será um grito surdo que ecoará até não sei quando.
Nem eu mesmo sei como cheguei por aqui...
Se ficarei ou não, isso é uma outra história...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...