eu deveria prestar mais atenção
em pequenas coisas ao invés das grandes
assim poderia chegar bem mais perto
da essência das coisas se é que existe
tenho lá minhas dúvidas e sempre terei
se até os números que um dia nos ensinaram
escondem atrás de si uma mentira barata
mas é que o vício da boca entorta o cachimbo
e eu já passei dessa fase de me importar
com quaisquer mentiras que acreditei
mas por ser moda do que outra coisa
nada no mundo compensa meu fôlego
ou quase nada nessa minha vã filosofia
que comprei um dia desses na promoção
a caixa de insetos que o aluno levou
não foi apenas uma tarefa de escola
foi um pequeno cemitério sem epitáfios
e engraçado que nem toda crueldade dói
isso falando quem fez não quem sofreu
porque o sofrimento de uns embrutece outros
na proporção mais digna de se notar
que o castigo teve sessões de hipismo
mas a recompensa ficou no engarrafamento
tudo o que acontece tem várias versões
e cada um leva aquilo que pescou
certamente que não há desculpa alguma
para aquilo que chamamos vontade própria
eu só quero esquecer e esquecer tanto
que ficarei mais drogado que qualquer um
dormirei todos os dias o sono dos justos
e nas noites o sono dos injustos até cai bem
esquecido estou e nem mais me importo
a cada dia basta ter seu sol mostrando fatos
nada supera a vida nem a morte consegue
flores as vezes brotam pelos asfaltos
e para isso é desnecessário qualquer motivo
o maior desejo de quem existe e sofre
era exatamente esse de não existir
silenciosamente e profundamente no nada
como pequenos insetos mortos boiando na água...
(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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