O que será de nós, Peter? Se os sonhos andam em falta no mercado e tudo acaba sem graça como uma brincadeira de mau-gosto que ninguém quer brincar? Faltam muitas cores em nossa aquarela e com isso acaba estragando todos os nossos dias...
O que será de nós, Peter? Se cada um construiu sua própria jaula e carregamos os fardos de nossas dores sozinhos e ninguém tem mais compaixão de ninguém? As dores nem sempre são tão tristes, mas a falta de ternura, certamente, é bem mais...
O que será de nós, Peter? Se dançamos sem alma? Se agora festejamos a maldade? Se o sorriso aos poucos desaparece do próprio mundo? A cobiça acabou nos tirando qualquer remorso...
O que será de nós, Peter? Se somos cúmplices dos nossos próprios assassinatos? Se nos matamos dia-a-dia no tédio sem sentido? Se deixamos de ser nós mesmos quando recusamos nossos sonhos? Um pouco menos do que robôs somos e nem damos conta disso...
O que será de nós, Peter? Se temos a nudez, mas nos falta a sinceridade? Se rimos de tudo, mas nem de tudo se poder rir? Se a guerra não nos incomoda mais? Engolimos o tempo e esquecemos de viver...
O que será de nós, Peter? Se abaixamos a cabeça para os malvados? Se nos rendemos aos medos? Se fazemos questão de fazer parte do rebanho que pula no abismo? Somos escravos do preconceito e ele sangra nossa carne...
O que será de nós, Peter? Estamos presos em uma escuridão muito além da escuridão? Nossa idiotice agora virou moda? Não acreditamos mais na fantasia, mas idolatramos a mentira? Agora tropeçamos em nós mesmos...
O que será de nós, Peter? Se até os nossos versos agora são falsos, vazios e sem esperança? O que será de nós, meu caro Peter Pan? Continuaremos vivos mesmo estando já mortos? Terra do Nunca, lá vou eu...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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