Foi mais ou menos assim:
Eu não tinha intenção de nada,
Aliás passou desapercebido
Porque as minhas preocupações eram outras,
Eram meu pai que me batia,
Minha que sofria com os ciúmes bobos do meu pai,
De sofrer perseguição na escola,
Das judiações que meus colegas faziam,
Era o sentido da vida que não aprendi até hoje...
A tia me chamou na diretoria
O que eu teria feito de errado?
Logo eu, que tentava ser o melhor
Para ver se sofria um pouco menos...
A minha cara ficou vermelha, muito,
Saí quase batendo o pé
(O que eu não costumava fazer
Apesar do meu gênio ruim que escondia)
Quer poema? Então vai ter...
Um poema bobo qualquer
Que pelo tempo nem me lembro dos versos
Uma folha de papel ofício
Na Olivetti portátil que vô Raymundo me deu
Depois num envelope daqueles de carta
Naquela caixa com cara de idiota
Nem fui na gincana naquele dia
Morava perto, mas meu pé doía muito
Caí naquele jogo de handebol que jogamos na rua
E acabei ganhando...
Desculpe, Roberto, o prêmio deveria ter sido o seu
Eu não fui buscar os livros que eram o prêmio
Alguém me falou isso (nem sei quem me falou)
Mas acreditei na época e acredito até hoje
Você falou sobre a morte e eu falei sobre a vida...
Não sei se você escreve até hoje
Mas a poesia em mim virou um vício
Um pedaço do corpo que se tirar me mata
Companheira que não se importou com nada
Que me acompanhou nos piores momentos
Que não teve nojo das minhas bebedeiras
E saiu ilesa das loucuras que fiz um dia
A poesia virou uma sina
A inspiração virou respiração
Sem fantasia só haveria desespero
Eu antes não era poeta, foi Roberto quem ganhou...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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