quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Carta ao Musa

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Prezado Musa:
Como estão as coisas por aí na terra da garoa? Espero que estejam boas, apesar de que, se olharmos as coisas por aí, por esse mundo, acho que não andam nada bem...
Gostaria primeiro de agradecer teu comentário na rede social. Sei que muita gente dá seus "likes" por dar, riem sem achar graça, choram mesmo sendo apáticos com a tristeza de alguém, dão corações mesmo faltando os seus, mas como você eu bem sei que é diferente. Por isso venho aqui, sei que o seu foi dado com toda sinceridade.
Pena, meu querido, que os meus choros sejam os mais reais possíveis, a tristeza que existem nos meus versos são o meio desse velho bobo desabafar. Sei que estou vivo e, bem vivo, por sinal, mas até agora desconheço o porquê disso.
Para escrever versos? Não sei... Talvez sim, talvez não... Há muitos por aí que escrevem bem melhor do que eu, coisa mais bonitas, mais leves, mais coloridas e que não trazem à tona um ofício muito cansativo hoje em dia - pensar.
Gostaria de poder dormir mais um pouco mais tranquilo, sofrer até um pouco mais tranquilo, mas isto é impossível. Carrego a dor de muitos comigo, uma dor profunda e sem limites. A minha dor é a dor das crianças que morrem nas guerras ou mais lentamente pelas ruas e nos barracos das favelas; a minha dor é a dor dos milhares de velhos abandonados no final da vida sem o amparo daqueles que um dia eles criaram e ampararam incondicionalmente; a dor constante de todas as mulheres do mundo, as jovens que desconhecendo as armadilhas do mundo se prostituem até quando não, as que sofrem da violência do velho machismo sórdido e sujo, das que perdem seus filhos para o crime, todas enfim; carrego a dor dos trabalhadores explorados e mal remunerados que não podem dar uma vida digna aos seus filhos; trago em meu peito doendo que nem tiro as mentiras dos nossos desgovernantes, suas sujeiras debaixo do tapete, seus roubos, suas trapaças, fazendo do nosso país um inferno no céu; enfim, carrego toda a dor...
Tenho muita saudade e isso também dói muito. Daquilo que já passou e me valia tanto, dos que eu amava e foram embora antes de mim. Não repare, deve ser coisa de velho, como dizem...
Não sei se há mais tempo para nada, sinceramente, não sei. Gostaria que meus versos se espalhassem por aí e dessem, pelo menos, um pouco da esperança que ainda carrego escondida nos bolsos da velha calça jeans. 
Não quero ocupar muito, as coisas da vida e da arte acabam consumindo nosso tempo e acaba que ele sempre é pouco. Obrigado, muito obrigado, por tudo, pela nossa amizade, mesmo quando não temos muito tempo para conversar; obrigado pelas lindas músicas que a sua arte nos concede, hoje e sempre. Quem sabe um dia tenhamos tempo para nos conhecermos pessoalmente? Seria muito e muito bom mesmo.
Até lá, fica um grande abraço desse teu amigo,
                                                                            Carlinhos.

(Para Maurício Musa, Músico e Amigo dos bons).

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