sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Alguns Signos

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Na nossa testa, nos cabelos, na nossa sombra. Assim a vida vai caminhando pela ponte do tempo até que ela caia. Um tombo certo, não há como impedir, o peito aberto, só nos resta dormir. E mesmo assim a teima de não ficarmos parados. Isso consiste a nossa natureza humana, profana, de qualquer fim-de-semana.
Nos nossos olhos, na nossa boca, vem aos ouvidos. Sons sem nenhum real significado. Nem certo ou errado, apenas são o que são. Maldade com prazo de validade, vire o rosto. Pois de verdade, não há mais gosto. Eu até que queria ser simpático, mas para isso preciso ser apático.
Nas mãos, nos pés, na rotina. Tudo tão inexplicavelmente explicável. Como se as fileiras precisassem ser preenchidas. Faltam livros, sobram besteiras. Faltam razões, sobram besteiras. É cada um fazendo solenes declarações que a posterioridade não notará. Pedimos o esquecimento para o garçom.
Nos poemas, na canção, na pedra. Tudo é possivelmente invertido sem compaixão alguma. Repetimos as lições até cansar. Olhar para a parede em forçado silêncio pode ser até bom. Não se mexe com o fogo até que seja necessário.
No coração, na mente, o que acha, o que sente. Vamos correr! Atrás vem gente. Os aviões cobrem o céu de cores cinzas. Cada papel deve ser bem interpretado. Corra o risco, é o corisco, bicho arisco. Nas curvas existe sempre alguma surpresa. Nada mais nada menos do que isso.
Meu relógio, os teus brincos. Ponha a mesa, chá das cinco. Elegantemente tropeçamos. Pois às vezes odiamos até quem amamos. Pare Chico, falta a rima. Falta até saliva na boca, podem dar gadernal pra essa louca. Eu já perdi as estribeiras, faço de mil e uma maneiras. Não encosta, deixa quieto. 
Os meus pés descalços, os teus tamancos. Até que seria bom alguns dias brancos. Procure lá na enciclopédia, sou um idiota acima da média. Ao avesso, não começa sem começo. Toda carne tem seu preço. Não puxo mais o saco de ninguém, quem tem seu rabo, tem. Até que meu cinismo me cai bem. Não entendo nada.
Minhas palavras, meus silêncios, tudo faz parte e não faz. Faço guerra e peço paz, nem acabei, já quero mais. Fechei porta e janela, assisti a novela, tão bela, somos tão banais. E na frente para o mar, lá na favela, tudo nivela, somos todos uns boçais. 
A cachaça, o vinho, a água benta. Tanto faz não ter vinte ou ter passado dos noventa, não esquenta, um dia a gente estica o pernil. Quem nunca teve desespero, nem um til. Ora veja, me dê lá uma cerveja, antes que seja o mês de abril. É um tango, ai meu rango, hoje nem é frango. É qualquer coisa que sobrou de ontem. Somos sobras apesar das manobras de guerra. E se eu meu calar, logo enterra...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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