Até gostaria que portas e janelas estivessem abertas
E um novo ar entrasse no quarto, em mim,
E todas as coisas sejam elas velhas ou não
Gostaria também que existisse algum sentido
Para o tempo que vem com suas variações mais absurdas
Mas tudo acaba sendo tão inútil...
Não reparem se falo coisas tão desconexas
Se a canção que canto nunca teve alguma letra
E se meu semblante ainda está fechado como sempre
A poeira entrou em meus pobres olhos
E nem sequer pediu licença para fazer isso
Tão ou mais mal-educada do que o menino que fui...
A fumaça dos meus cigarros poderia não ser desperdiçada
Bem queria conseguir fazer alguns desenhos pelo ar
Enquanto me falta uma simples régua para medir
A distância entre os amores que não pude ter
Os sonhos que morreram em sua maternidade
E o amargo na boca que acabei me acostumando...
Tudo é agora imóvel como sempre o foi
E ser insignificante e obscuro pode ser vantajoso
Os malvados não rirão de desajeitadas lágrimas
E não zombarão de meus passos que tropeçaram
Não comentarão as inúmeras feridas que carrego
E nem notarão minha impaciência até com a morte...
Eu continuo o mesmo que sempre não fui
E quem me dera fazer versos como Pessoa
Mas chego à conclusão que tudo tem o mesmo valor
O valor das coisas é um pedaço de vidro colorido
Que poderá refletir ou não qualquer luz vadia
E de acordo com a queda se tornará dois ou até mais...
Queria ter nascido em uma outra indeterminada data
Possuir mais um pouco de espaço em meu relógio
Não ter tantas necessidades desnecessárias
E nem ser um pobre testemunha ocular
Dos velhos erros que insistem em existir
No meio da mesma multidão desesperada que somos...
O sono agora vem leve como uma bigorna
E as pálpebras se preparam para me ajudarem
A mergulhar neste poço um pouco mais profundo
Prometo que tentarei ficar o mais quieto possível
Para a tarefa de esquecer as lágrimas de ontem
Porque as cada dia por si só já me bastam...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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