Agradeço de coração aos sem coração, que me ensinam neste caminho de tristeza que só a nossa dor importa. Que o choro alheio serve de mercadoria para que o nosso falso lamento mostre uma bondade que não temos e que nunca teremos.
Bons homens, bondosas mulheres, que o mundo desabe, que as crianças chorem, que o choro seja total, menos o seu. Que os que estão em sua volta lhes sirvam enquanto servem...
Agradeço de coração aos que dão apenas conselhos, assim como quem dá uma caixa de remédio vazia para o doente. Esta é a verdadeira natureza humana, chorar muito no funeral, mas sempre rir sozinho. A vida é passageira, fracasso é para qualquer um, menos para nós.
Bons homens, bondosas mulheres, fazedores de frases bonitas e donos da alma mais feia. Todo desespero do seu próximo é uma piada, todo o tombo que vemos tão engraçado...
Agradeço os que não tem paciência comigo, com a ferida que me dói tanto, é a lógica mais perfeita do mundo, cada um por si e o Diabo por todos. Por que atrapalhar o seu sono se o pesadelo não lhes pertence? Cada cão que lamba seu piru...
Bons homens, bondosas mulheres, a fome dos outros é apenas o destino, decisões de um Deus apático que habita os templos e que não gosta de ser contrariado mesmo quando isso nos parece apenas crueldade...
Agradeço aos que viraram as costas, que se fazem de desentendidos, isso é apenas a tática da guerra, uma guerra sem vencedores nem derrotados. Olha a morte! Vem na curva, buscar aos que riram e as que choraram também. Mas que o seu caixão seja mais lustroso e o cheiro das flores mais enjoativo.
Bons homens, bondosas mulheres, cidadães do mundo, fazedores de versos perfeitos em que o narcisismo enfeia até o sol. Jardineiros de flores egoístas, frequentadores da frente de um espelho que também se quebra um dia...
Agradeço aos que só souberam me dizer não, aos desconhecedores da compaixão pelo seu próximo, os que torcem pela minha derrota e que depois terão a justificativa de que isso seria o impulso para a corrida que perdi. Vocês sabem ser bons professores e estou aprendendo a lição direitinho.
Bons homens, bondosas mulheres, o meu nojo até embrulha meu pobre estômago, pelo jeito fomos feito à imagem e semelhança do Cão, tirem o sagrado desta história. Cada um constrói seu futuro inferno particular...
Agradeço, vão para o ventre da meretriz que lhes colocou no mundo...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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