Vejo nuvens onde não deveria ter. Os céus estão cobertos, não é só a fumaça que nos cobre, são de coisas piores. Profecias, más notícias, piadas que um palhaço sem graça faz sobre nós.
Quem vai nos salvar? Os novos messias passeiam de com suas Mercedes enquanto os sinais de trânsito são disputados. Os profetas de uma nova ordem jogam seus papéis que agora comemos.
Acreditamos em tudo, sobretudo no nada.
Em cada lar uma oficina de máscaras, em cada canto uma fábrica de correntes, em cada cochilo um novo pesadelo. Eu, você, todos nós, escolhemos a escravidão que mais nos aprouver...
Admirável mundo novo. Admirável refrigerante novo. Admirável veneno novo. Vitrines sempre prontas para infelizes produtos. A maldade vencendo maratonas correndo de costas, pulando em um pé só.
Sábios inventores. Novas doenças como ases na manga de um desonesto croupier. Não sabemos se o nosso dia seguinte será no dia seguinte, mas será.
Estética da raça, estética da massa, quem morrer, verá. Tudo são, tudo não, tudo em vão. Meu cachorro conhece mais filosofia que eu, eu sou apenas humano...
Quem vai nos salvar? Organizem a fila, por favor. A morte só levará quem pegar a senha. Vivos, sim. estamos vivos, mais que vivos com inveja dos que partiram. Inveja em série, com número de fabricação, com espaço reservado no horário da televisão.
Não há mais perigos entre os escombros, os escombros somos nós. Não há mais perigos entre as ruínas, são descartáveis, biodegradáveis e não contém glúten.
Esqueçamos os poemas, Narciso acabou de chegar de sua viagem, vem tomar um café conosco. Espelhos são produtos de primeira necessidade.
De noite, todos os gatos são gatos. A lógica tomou um táxi para Marte. Todos sabem digitar, poucos sabem escrever. Mãe, o que é uma carta? É pra comer ou é de beber? Pai, o que é ser honesto? É contagioso? Tem que tomar vacina?
Quem vai nos salvar? Talvez um carro vindo na contramão...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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