os saltimbancos usam tamancos
os palhaços gostam de espaços
nunca fomos assim tão mancos
chorando alto por meus fracassos
as margaridas estão divididas
os beija-flores não sentem dores
eu ainda preciso de muitas vidas
para viver tão inúmeros amores
não há escadas por essas estradas
definitivamente eu acabei demente
precisaram de tudo para os nadas
foi minha alma que ficou doente
o faquir cego cegou um prego
só morre um burguês em cada vez
não há nada maior que nosso ego
que faz suas preces no fim do mês
tudo me engana se é tão bacana
o que escondi estava bem ali
lá vem um sábio cheio de cana
com a resposta que eu não pedi
todo o drama tem seu programa
tenho marcado o encontro errado
que cada um tire o pé da lama
para caprichar seu sapateado
a poesia torta já está bem morta
seu funeral foi num carnaval
eu tive e medo e tranquei a porta
porque meu bem me fez tão mal
peguei o estilingue e fui ao ringue
bati num dragão só com a mão
o bem e o mal tudo se extingue
antes mesmo de sua confissão
eu bebo vinho com todo carinho
uma dose a mais mal não faz
e quem me dera ser um espinho
para atravessar esses temporais
até a vela gosta de ver novela
até a morte tem medo da sorte
eu nunca mais uso da aquarela
desde que chorei com meu corte
os equilibristas não deixam pistas
até que eu ando de vez em quando
me tragam logo velhas revistas
se não desejam me ver chorando
é tão difícil qualquer ofício
fazer poema de qualquer tema
eu já morri e foi no início
ainda bem não tem problema...
(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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