quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A Máquina

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A máquina era constante
em seu tedioso movimento
rápido rápido rápido
sem sangue algum
precisamente impreciso
cego sem errar os tiros
claro ou escuro
escrava do tanto faz
indiferente à vida ou morte
sem escolher palavras
ou sonhar em versos
nunca foi ou nunca será
tal criatura esta
(se assim podemos chamar)
rápido rápido rápido
mesmo quando a rapidez
é também a lentidão
sem fome com fome
sem sede com sede
presença constante
desde os primeiros dedos
lembrada e esquecida
dicotomia de um louco
eis a ir o ser humano -
pior do que todas as máquinas
que já existiram um dia...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Todo Dia

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Todo dia tem problema
Todo dia tem cinema
Todo dia tem esquema

Jogo as pedrinhas n'água
Onde estarão os beija-flores
Há nos meus olhos tanta água
Onde estarão meus amores?

Todo dia tem mais nada
Todo dia tem estrada
Todo dia tem escada

E sobe e também desce
Aonde irá essa fumaça?
E a minha vista escurece
Jogando cartas na praça

Todo dia tem todo dia
Todo dia tem alegria
Todo dia tem quem diria

As coisas são como são
Mas nada é como assim é
Já morreu esse coração
Mas o corpo está de pé

Todo dia tem problema
Todo dia tem cinema
Todo dia tem poema

Lombeira Sem Sono

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-... tudo que parece, é... - já dizia Lôló Bico-Doce em suas libações costumeiras que dão azar. Isso sim é coisa boa! Maria Balalaica na beira do fogão fazendo seus quitutes que não haverão jamais. Eu tenho muitas serras por aí e não abro mão delas. Podem contar nos dedos dos pés também. É vidro, meu senhor, é tudo vidro, inclusive a água limpinha.
Os tempos são outros, Lelê, não corra mais com essas pernas curtas e com esse riso quase bonito de lua cheia. Se essa rua fosse minha, eu seria o dono da rua e pronto. Não dava ela pra ninguém, nada disso. É minha, ninguém tasca, eu vi primeiro. Não entendeu? Joga no bicho, faz festinha pro primeiro pitbull que arreganhar a canjica no meio do baile.
Modéstia à parte, já fui mais modesto, mas os dentes não ajudam. Uns caem de pura emoção, outros no meio do caminho, isso é mais que certo. Agora as bolas das árvores de natal são feitas de chumbo, ajuda no tropeço. Até gosto de ver filmes com o televisão desligada. Nunca falem mal de mim, eu mesmo falo, Nada cansa senão a lembrança da bonança da esperança que balança.
É cada biboca que tem por aí. Chá das três para o xá da lima-da-pérsia, mas só se tiver biquinho. Eu gosto de ver, nem sempre, mas até que gosto. O mundo de pernas pro ar feito Sarita na barriga do falecido. Muito bom mesmo. Um pote cheio de uma ilusória realidade. Sem bronca, sem bronca. Nunca mais andei de costas, mas sempre faço questão. Um aqui, outro aqui e mais um aqui. De capa e espada.
Mil graus de febre para o febril freguês. Tudo que é noturno vem de noite. Até dinheiro pro sabão sobrou. Alegria geral. Exatamente exato. Cada foto no seu pato. Chama que ele vem, mas se tiver na preguiça, manda outro. No mínimo ele é o máximo. Quase que faltou água e eu fiquei no escuro. Sempre tem ou não. Bendito Benedito com a sua cabroagem. Muito sotaque ali na bucha.
Sou tão inteligente que chego à ser burro. Disfarço o medo com gritos histéricos e coisas tão óbvias que doem até meus amados calos. Ter sentido pra que? A vida passa, lava e cozinha pra fora e vai ganhando seus trocadinhos pros alfinetes e pras agulhas também. Saudade das garrafas de leite na porta da frente. Na dos fundos a gente ri de se borrar.
-... tudo que não parece também é... - falava o Furtado que foi furtado aquase agora. No começo as coisas começam como ratos no pandeiro, vil sentença da mais doce sociedade alternativa com a rotina dos velhos e modernos tempo. A visa não avisa mais. Pastel e caldo agora é banquete. A vodca corre pelas veias e babamos energético. Acabei de ter um treco e nem vi. Era muito biscoito e pouco dengo. 
A nudez ficou zangada. Cansada está com todo esse burburinho. Bateu feio e não adiantou vem cá meu nêgo. É chitãozinho puro, só falta a faxina. Quase meio metro correnteza abaixo. A água subindo pela parede todo santo dia e antes que se fez alguma coisa. É passo no passo do compasso. Farofa, cachaça, vela e charuto. Um banquete das Arábias. Chora de emoção, Sabiá. Sem laranjinha não dá. 
Eu bem que queria meio pão e meia tontura. Muita espinha e pouco gato. Se fosse só conhaque, eu morria. Se fosse abacaxi, eu pulava feio. É o maio desafio que se faz. Mandei o cara ir e ele foi. Nem falou gracinha e nem pediu voto. Catuaba das boas, de fechar o comércio. Babaram na fronha com banana e tudo. Quase um litro, litro e meio, nem bem sei. Aliás, sei de nada mesmo. Tropeça do salto alto, vai, vaca, tropeça e beija o tapete. Pra voar só faltam os chifres.
Manga com gosto de goiaba, raiva em pé dormindo feio. De meia e tudo, cocote feito as doidas do não-se-onde porque nem-sei-o-porquê. Vai que é água de novo. Tatu que dança frevo, dança mesmo. Falta bicho no Bicho. Periquito é um, joaninha é outro. É porque eu quero, cala a boca, burro. Doce de coco é bom, mas coitado dele. Caiu do alto sem colchão e nem bateram palmas. Aí a banana matou a mãe. E ficou por isso mesmo. É um em três, tá sabendo? Descobri isso quase ontem.
Inês tinha mais de um mês e nem notou. Tudo que envelhece fica novo já dizia o Mestre que não sabia nada. Era a especialidade dele. Ninguém fazia igual. A memória até que quebrava um galho, mas não sabia mesmo. Por isso lotou o cinema e a bolsa de valores ganhou uma bolsa na rifa. Parecia do Cão de tão tão da época que nem sei. Pra que saber? Pra botar pro lixeiro levar no dia que não tá marcado?
Eu sou mau que nem bacurau. Merendo até sem recreio e a pulga que se lasque. Barrigudinho de vala no vidro de maionese, tão bonitinho, parecia peixe. Peixe bom esse, só tem cabeça e espinha, um show. Cozido na água pura parece que tá sem nada. Eu não presto nem pra ir ali. Já pensou em pensar? Na hora do discurso nada melhor que uma bula. A nova Mula Papal explica tudo. Até que o caçador saiu da lona. Eu, hem, quero não, só tudo...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Salvador Dali

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Não adianta mais que o suor escorra em minha testa. Acordar no escuro do quarto pode ser um parto ou pode ser mais um simples pesadelo que sobrou da passada noite. Eu o fiz. Tateio aonde estão os cigarros na mesinha de cabeceira ao lado. Cabeceira de muitas águas, assim mesmo. A cabeça dói. A vida dói mais ainda. Onde está o coelho que não era? Muitos relógios pulsando agora feito malvados corações. Entender nada talvez seja a melhor das opções...
A preguiça é maior do que a própria vontade. Vá que tropece e caia em mim mesmo. Um poço fundo e escuro habita em muitos peitos. Por que não no meu? Já gargalhei fora de hora em tantos dias. E mesmo assim continuo fingindo grandes novidades. Talvez eu queira ouvir passos lá fora e convide o medo para um café quase frio da garrafa que jaz em minha desarrumada cozinha...
Eu sou inocente dos meus tantos crimes. Humanamente falando acabo ficando meio tonto, meio tanto. Não conheço compaixão que não faça discursos. Estou ferido como sempre. As cinzas não são mais cinzas, agora outras cores fazem o mesmo carnaval. Repito gestos e cenas. Não há mais salvação em antigos dilemas. Eu mesmo me aconselho e me despeço de vis amores. Tudo foi tão bom enquanto não foi. O sonho molda todas as peças...
O vento ajuda quando muito. Eu me chamo chuva grande, vento maior ainda. Por mera questão de comodismo. Dia sim, outro também. A boca da minha pobreza escancara, mas já perdeu todos os dentes. O mais pobre inveja qualquer fracasso. O antigo álcool ainda sobe procurando certos enigmas. E eu quase que rio descontroladamente feito as rodas de uma bicicleta. Todo o arremedo um dia chega lá...
Parei de contar muitas coisas. Elas não mais existem. Parei na parada e não vi mais ninguém. Acreditar pode ser muito perigoso de acordo com as calculadas circunstâncias. Prateleiras cheias de venenos camuflando intenções melhores. O véu está rasgado. E dançarinas de rumba latinamente cumprem seu trágico papel. Os rios de Veneza acabaram parados. Não vi renascer nenhum Messias...
Faço um esforço quase monumental e atrapalho os mosquitos com sua banda de rock gótico. Cairei? Não sei, não sei, só sei. O contato do chão é frio como certas rias óbvias. Rio, vazio, frio, nem sei mais o quê. Os versos de Pessoa não mais me consolam, mas os xingamentos de Fraga tenha toda a certeza. Eu repito a repetição quantas vezes necessário for. O dicionário era tão grande e agora ficou parecendo livro de bolso trocado dois por um no sebo que agora está fechado...
Corredores parecem que foram feitos para filme. A sonoridade do silêncio comove até os carrascos. Talvez chegue ao fim da jornada com alguma coisa valendo a pena.Ser pobre pode ter alguma vantagem, monstros da lagoa podem ser petiscos na mesa de qualquer um pé-sujo. Dispenso as enroladas, as emboladas são melhores.Eu sou o dono do mundo até alguma hora trágica...
Ainda bem que não acordei ninguém, nem eu mesmo. Durmo em relógios que escorrem por entre dedos, o que pode ser até engraçado. Não me peça explicações sutis, sou um cara tão grosseiro quanto meu falecido pai. Talvez mais grosseiro, talvez mais falecido ainda. A alegria só vem em caprichados comerciais. Onde estão as correntes que eu mesmo fiz? Tudo é uma questão de evaporar e subir...
O ato em si não é nada. Foi rápido e sem filósofo algum meter o bedelho. Talvez as voltas possam ser um pouco mais interessantes. Pensar em coisas sem propósito é até um bom analgésico. Nomes e sinais que passam na tela do rádio. Tudo preparado para o foguete cair. Um ponto de vista assim o é. Alcachofras e cinemas tristonhos. Quanto custa a nossa felicidade? A apatia que esconde algo que nem eu mesmo sei. Joguei a Pedra Filosofal no mar e me deu preguiça de mergulhar para não me arrepender. É tanta coisa...
A cama me espera como a cova espera seu morto. As cobertas agora me engolem como o Leviatã. Eu vi algum movimento da cortina? Talvez não seja nada, seja só o final do mundo que levantou mais cedo. Um dia alguns levantam, um dia todos caem. Ivo viu a uva, mesmo em sua cegueira matinal. Dormirei até a hora que o trem das dez chegue na estação. Relógios escorrem, e daí? Queria agora era puxar os bigodes do tal de Dali...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Nasci

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Nasci numa dessas madrugadas frias
que só os agostos sem dar...
Três da manhã 
e um chuva fria escurecia mais o céu...
Onde estariam as estrelas?
Devem ter se escondido em sua casa
até que o frio passasse...
Tio foi buscar a ambulância
molhado feito um pinto...
Mamãe sentia dores há três dias
e eu com preguiça de nascer...
Ela estava na casa dos meus avôs
com medo da violência 
que os ciúmes de papai provocavam...
É triste isso, como muitas coisas também são,
Mas tudo nessa vida acontece...
Alguns poetas disseram 
que quando nasceram um anjo disse algo
O meu devia estar sem vontade de falar
e o silêncio dele acabou me ensinando
a falar mais com os olhos do que com a boca...
Os olhos dizem muito mais...
E alguns versos até que caem bem...
Mas isso é uma outra história...
A garrafa de vinho caiu da mão de papai
quando minha vó disse que eu nasci,,,
Meu filho nasceu perfeito?
Não sei até hoje se foi susto ou remorso
mas bem que poderia ser alegria
eu ia gostar bem mais de saber isso
mas agora não posso mais...
Ele gostou que os meus olhos eram azuis
bem parecidos com os deles
que pena que mudaram de cor depois
ficaram negros como a minha alma...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Queda Das Estrelas

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S
u
b
i
n
d
o
Vou alcançar as estrelas!
C
a
i
n
d
o
Até não mais vê-las!

Chorando, chorando e chorando
No meio da noite...

(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O Eu Segundo C.A.

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Eu,
Escravo do sistema
Em rimas absurdas
Cego minh'alma
Faço vistas surdas
À qualquer sofrimento
Que seja alheio
Torno o feio em belo
E o belo em feio...

Eu,
Palhaço desse circo
Que não tem graça
Insisto em viver
Somente por pirraça
E se não consigo
Quase consegui
Se ali há tristeza
Eu estou ali...

Eu,
Escória desse mundo
Tudo é proibido
Só me arrependo
De ter vivido
Fechem os olhos
Sonhem mais
Lá vem o engano
De outros carnavais...

Eu,
Plano dado errado
Novo Frankenstein 
Geralmente o mal
Esse o faço bem
Desconheço a ternura
Mato a compaixão
Sou o problema
Dou a solução...

Eu,
Escravo do sistema
Em rimas vulgares
Cego minh'alma
Mato todos ares
À qualquer sofrimento
Que seja alheio
Torno o feio em belo

E o belo em feio...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira? de autoria de Carlinhos de Almeida).

Agradecimento

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Agradeço de coração aos sem coração, que me ensinam neste caminho de tristeza que só a nossa dor importa. Que o choro alheio serve de mercadoria para que o nosso falso lamento mostre uma bondade que não temos e que nunca teremos.
Bons homens, bondosas mulheres, que o mundo desabe, que as crianças chorem, que o choro seja total, menos o seu. Que os que estão em sua volta lhes sirvam enquanto servem...
Agradeço de coração aos que dão apenas conselhos, assim como quem dá uma caixa de remédio vazia para o doente. Esta é a verdadeira natureza humana, chorar muito no funeral, mas sempre rir sozinho. A vida é passageira, fracasso é para qualquer um, menos para nós.
Bons homens, bondosas mulheres, fazedores de frases bonitas e donos da alma mais feia. Todo desespero do seu próximo é uma piada, todo o tombo que vemos tão engraçado...
Agradeço os que não tem paciência comigo, com a ferida que me dói tanto, é a lógica mais perfeita do mundo, cada um por si e o Diabo por todos. Por que atrapalhar o seu sono se o pesadelo não lhes pertence? Cada cão que lamba seu piru...
Bons homens, bondosas mulheres, a fome dos outros é apenas o destino, decisões de um Deus apático que habita os templos e que não gosta de ser contrariado mesmo quando isso nos parece apenas crueldade...
Agradeço aos que viraram as costas, que se fazem de desentendidos, isso é apenas a tática da guerra, uma guerra sem vencedores nem derrotados. Olha a morte! Vem na curva, buscar aos que riram e as que choraram também. Mas que o seu caixão seja mais lustroso e o cheiro das flores mais enjoativo.
Bons homens, bondosas mulheres, cidadães do mundo, fazedores de versos perfeitos em que o narcisismo enfeia até o sol. Jardineiros de flores egoístas, frequentadores da frente de um espelho que também se quebra um dia...
Agradeço aos que só souberam me dizer não, aos desconhecedores da compaixão pelo seu próximo, os que torcem pela minha derrota e que depois terão a justificativa de que isso seria o impulso para a corrida que perdi. Vocês sabem ser bons professores e estou aprendendo a lição direitinho.
Bons homens, bondosas mulheres, o meu nojo até embrulha meu pobre estômago, pelo jeito fomos feito à imagem e semelhança do Cão, tirem o sagrado desta história. Cada um constrói seu futuro inferno particular...
Agradeço, vão para o ventre da meretriz que lhes colocou no mundo...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Tiro Certo

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Tiro certo
peito aberto
sem dó
e sem compaixão
foi um nó
chamada solidão
fique quieto
ande reto
na noite escura
que te envolve
a procura
não se resolve
não morri 
nem vivi
estou no meio
sem opção
é tiroteio
é a nossa lei do cão
vou embora
quase agora
vou até sorrindo
pode até ser
a alegria venha vindo
e que pare de correr
Tiro certo
peito aberto...

E Roberto Ganhou...

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Foi mais ou menos assim:
Eu não tinha intenção de nada,
Aliás passou desapercebido
Porque as minhas preocupações eram outras,
Eram meu pai que me batia,
Minha que sofria com os ciúmes bobos do meu pai,
De sofrer perseguição na escola,
Das judiações que meus colegas faziam,
Era o sentido da vida que não aprendi até hoje...
A tia me chamou na diretoria
O que eu teria feito de errado?
Logo eu, que tentava ser o melhor
Para ver se sofria um pouco menos...
A minha cara ficou vermelha, muito,
Saí quase batendo o pé
(O que eu não costumava fazer
Apesar do meu gênio ruim que escondia)
Quer poema? Então vai ter...
Um poema bobo qualquer 
Que pelo tempo nem me lembro dos versos
Uma folha de papel ofício 
Na Olivetti portátil que vô Raymundo me deu
Depois num envelope daqueles de carta
Naquela caixa com cara de idiota
Nem fui na gincana naquele dia
Morava perto, mas meu pé doía muito
Caí naquele jogo de handebol que jogamos na rua
E acabei ganhando...
Desculpe, Roberto, o prêmio deveria ter sido o seu
Eu não fui buscar os livros que eram o prêmio
Alguém me falou isso (nem sei quem me falou)
Mas acreditei na época e acredito até hoje
Você falou sobre a morte e eu falei sobre a vida...
Não sei se você escreve até hoje
Mas a poesia em mim virou um vício
Um pedaço do corpo que se tirar me mata
Companheira que não se importou com nada
Que me acompanhou nos piores momentos
Que não teve nojo das minhas bebedeiras
E saiu ilesa das loucuras que fiz um dia
A poesia virou uma sina
A inspiração virou respiração
Sem fantasia só haveria desespero
Eu antes não era poeta, foi Roberto quem ganhou...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Não Pare

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Não pare de respirar
Pelo menos agora
A morte sempre vem
Mas às vezes demora
A vida é um grande poema
Mas a gente decora

Não pare... Não pare...
O cansaço passa
Mas a vontade não...

Não cesse o caminhar
Continue andando
Tem um oásis no deserto
Estamos quase chegando
Não é feio chorar 
Tem muita gente chorando

Não pare... Não pare...
O sonho morre
Mas a esperança não...

Não cale a sua boca
Para o grito e a canção
Acenda aquela luz
Acabe com a escuridão
Apesar de que existe
Menos sim e mais não

Não pare... Não pare...
O encanto se vai
Mas a saudade não...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Um Cão Sem Asa

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Sou um cão sem asa
Me leve pra casa
Fogueira sem brasa

Não há outro jeito de fazer poesias
Senão comer a carne destes dias
Foram bem mais de mil alegrias

Sou um cão arisco
No olho um cisco
Eu só corro risco

Eu durmo e acordo bem cedo
Pois carrego o meu segredo
Já se acabou todo meu medo

Sou um cão sem dono
Me tiraram do trono
Foi só por abandono

E eu festejei tantos carnavais
Até que eu queria até mais
Antes que caíssem os temporais

Sou um cão sem asa
Me leve pra casa
A morte se atrasa

Qualquer Poema, Qualquer Um

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Indefinições à parte nisso nós entendemos e bem. A vida, seus percalços, pés machucados e mãos avermelhadas. Estamos aí. Esquecemos de todas as medidas possíveis e todas as impossibilidades por pura digestão. Começo e fim, roleta russa em intermináveis cantigas de roda. Saberão? Eu falo sempre e aquele gosto amargo me afeta mais que certas lágrimas crocodilianas. Marchemos incontentes, faz bem para a vista e o coração acelera mais. Um cantinho nos bastas e exibições de um teatro grotesco de marionetes humanas. Beijos roubados sem tesão e sólidas construções de papel-arroz. Nunca mais fomos aquilo que nunca fomos. A contundência dos sábios nos causam arrepios. Em frente a qualquer abismo nem sempre aparecem asas marcando presença. A diferença entre uma unidade e a seguinte é o mesmo que os passos mancos de qualquer um pangaré. Já juntei as tralhas e espero que a viagem comece. Sem adeus, os adeuses são apenas o preenchimento de uma ficha. Fumaça e muita, cinzeiro cheio, esquecimento que a memória nos dadivou por pura piedade. As teias nunca param e os mosquitos capricham na coreografia de minha extrema inversão de valores. Nada mais importa que não entender enigmas. Nenhum obstáculo à não ser meus pobres sonhos. Uma ovelha é começo de muitas por conta e risco de quem conta e se arrisca. Entenda quem não entender. Zumbis e mariposas são muito parecidos, as lâmpadas que o digam. O verdadeiro engano é uma parede manchada de invisíveis dedos e falsas promessas. Quanto mais eu digo, não digo nada. Quanto mais eu rio, meu luto está presente. Ainda guardo olhares disfarçados que me esforcei em ter. Consigo fazer a eternidade do que nunca existiu. É muito fácil. se é louco ou se é apenas um desesperado. Meus cortes são muito profundos, mas por sua idade cessaram de sangrar. Sou de um tempo que ingenuidade e maldade andavam de braços dados e pulavam amarelinha. Decalques na geladeiras e intermináveis natais de franca solidão, menos no último. Uma mesa de banquete foi posta e o prato principal somos nós. Faltam sempre peças no quebra-cabeças e isso até melhora certos aspectos meio ocultos. Minha cultura não é nada, suas razões menos ainda. As nossas escoras se indignaram e foram embora. Sou como qualquer um, um qualquer um com um universo dentro de mim. As paixões são o caos, os meus desejos são apenas explosões estelares de energia máxima. Me sinto mal quando penso, mas a compaixão é um vício bem bonito. Não tenho mais vergonha de nada. Espero como a jovem mãe que parirá o primeiro filho. Nunca fui muito bom com as palavras. A minha timidez me faz gritar até que acorde toda a vizinhança. Os meus mortos agora e sempre me saúdam. O meu bloco saúda e pede passagem. Uma camisa-de-força é pouco, preciso de várias delas. Não preciso de pílulas, a mídia já faz isso e ainda batemos palmas. É para turista ver e guardar para postar na rede social. Festival de enganos e raves intermináveis. A lama nos pés e os pés na lama. Aonde está o coelho? Era o único frio que me agradava e muito...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Simples Assim

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Eu quero que você entenda
Que o mundo é uma moenda
Que roda noite e dia
Moendo a nossa alegria
Até que - bagaço - chegue ao fim
Simples assim...

Temos mais que aceitar
O que foi o que é o que será
Mesmo que rindo ou chorando
Com desespero vez em quando
Cobrando erros tim-tim por tim-tim
Simples assim...

A vida é só uma luta
E a morte sua face oculta
Até que bate na nossa porta
E aí nada mais não nos importa
Pode tocar agora o bandolim
Simples assim...

Meu amor então não espere
Se não chegar hoje não desespere
Bote aquele vestido de festa
Não chore dê o sorriso que resta
Se enfeita coloque aquele carmim
Simples assim...

Alguns Signos

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Na nossa testa, nos cabelos, na nossa sombra. Assim a vida vai caminhando pela ponte do tempo até que ela caia. Um tombo certo, não há como impedir, o peito aberto, só nos resta dormir. E mesmo assim a teima de não ficarmos parados. Isso consiste a nossa natureza humana, profana, de qualquer fim-de-semana.
Nos nossos olhos, na nossa boca, vem aos ouvidos. Sons sem nenhum real significado. Nem certo ou errado, apenas são o que são. Maldade com prazo de validade, vire o rosto. Pois de verdade, não há mais gosto. Eu até que queria ser simpático, mas para isso preciso ser apático.
Nas mãos, nos pés, na rotina. Tudo tão inexplicavelmente explicável. Como se as fileiras precisassem ser preenchidas. Faltam livros, sobram besteiras. Faltam razões, sobram besteiras. É cada um fazendo solenes declarações que a posterioridade não notará. Pedimos o esquecimento para o garçom.
Nos poemas, na canção, na pedra. Tudo é possivelmente invertido sem compaixão alguma. Repetimos as lições até cansar. Olhar para a parede em forçado silêncio pode ser até bom. Não se mexe com o fogo até que seja necessário.
No coração, na mente, o que acha, o que sente. Vamos correr! Atrás vem gente. Os aviões cobrem o céu de cores cinzas. Cada papel deve ser bem interpretado. Corra o risco, é o corisco, bicho arisco. Nas curvas existe sempre alguma surpresa. Nada mais nada menos do que isso.
Meu relógio, os teus brincos. Ponha a mesa, chá das cinco. Elegantemente tropeçamos. Pois às vezes odiamos até quem amamos. Pare Chico, falta a rima. Falta até saliva na boca, podem dar gadernal pra essa louca. Eu já perdi as estribeiras, faço de mil e uma maneiras. Não encosta, deixa quieto. 
Os meus pés descalços, os teus tamancos. Até que seria bom alguns dias brancos. Procure lá na enciclopédia, sou um idiota acima da média. Ao avesso, não começa sem começo. Toda carne tem seu preço. Não puxo mais o saco de ninguém, quem tem seu rabo, tem. Até que meu cinismo me cai bem. Não entendo nada.
Minhas palavras, meus silêncios, tudo faz parte e não faz. Faço guerra e peço paz, nem acabei, já quero mais. Fechei porta e janela, assisti a novela, tão bela, somos tão banais. E na frente para o mar, lá na favela, tudo nivela, somos todos uns boçais. 
A cachaça, o vinho, a água benta. Tanto faz não ter vinte ou ter passado dos noventa, não esquenta, um dia a gente estica o pernil. Quem nunca teve desespero, nem um til. Ora veja, me dê lá uma cerveja, antes que seja o mês de abril. É um tango, ai meu rango, hoje nem é frango. É qualquer coisa que sobrou de ontem. Somos sobras apesar das manobras de guerra. E se eu meu calar, logo enterra...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Varinha de Condão

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A moça de seios exageradamente grandes
Lançava seu olhar lânguido para mim
Enquanto eu fumava distraidamente 
Com meu pensamento em terras distantes
De nada mais sei e é a minha única certeza
Pois esta paisagem já não me serve mais...
Tenho saudades de antigas novidades
E muitas até que acabei não vendo...
Não se desespere, menina, não se desespere
Os fins acontecem da forma mais inédita possível
Eu ainda tenho algumas reticências que sobraram
E algumas exclamações novinhas em meu bolso
Posso dividi-las com você se assim o que quiser
Em troca desses beijos fúteis que qualquer um tem...
Confesso que fiquei meio desgovernado
Que aquele último gole de cerveja não caiu bem
É que eu já ri muito e minha munição acabou
Eu não queria ficar até o final da festa
Despedidas não foram feitas para mim...
Tenho pensado em tantas coisas que não devia
E uma delas é não mais tentar sobreviver
Estou cansado e isso pode ser muito chato
Os meus cabelos cresceram e a mágoa também...
Espere um pouco e não me provoque agora
As únicas esperanças não brotaram ainda
E ser alguém que não sou pode ser até desastroso
Sou apenas mais um poeta desses que esperam
Com a paciência dos que nada mais temem
E meu deboche a navalha que eu escondi
Se conforme garota não sou príncipe nem sapo
Talvez eu seja o vento e por isso você viu a poeira
Mas na verdade você nunca me viu
O meu amanhã acabou acho que foi ontem 
E com alguma sorte o sono chega agora
E eu lhe deixe por aí sozinha do meu lado
Pensando como seria ser bom ser fada
Com uma varinha de condão como a que eu quis...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Grande Silêncio

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Grandes silêncios são assim mesmo...
Acabam me acordando preocupado...
Quem me dera uma outra vida
Sem espera, sem ferida
E que não desse tudo errado...

Eles vêm chegando de mansinho...
Quando chegam ninguém nota...
Quando chegam a faca entra
Não tem oito e nem oitenta
A nossa alma já está morta...

Mesmo que ninguém note isso...
Vai a alma e o corpo permanece...
São nossas tarefas diárias
Minhas carnes são operárias
E o medo nunca me obedece...

Grandes silêncios são assim mesmo...
Não me deixam dormir preocupado...
Talvez melhor fosse a partida
Sem dor e sem despedida
Por que deu tudo errado?... 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Carta ao Musa

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Prezado Musa:
Como estão as coisas por aí na terra da garoa? Espero que estejam boas, apesar de que, se olharmos as coisas por aí, por esse mundo, acho que não andam nada bem...
Gostaria primeiro de agradecer teu comentário na rede social. Sei que muita gente dá seus "likes" por dar, riem sem achar graça, choram mesmo sendo apáticos com a tristeza de alguém, dão corações mesmo faltando os seus, mas como você eu bem sei que é diferente. Por isso venho aqui, sei que o seu foi dado com toda sinceridade.
Pena, meu querido, que os meus choros sejam os mais reais possíveis, a tristeza que existem nos meus versos são o meio desse velho bobo desabafar. Sei que estou vivo e, bem vivo, por sinal, mas até agora desconheço o porquê disso.
Para escrever versos? Não sei... Talvez sim, talvez não... Há muitos por aí que escrevem bem melhor do que eu, coisa mais bonitas, mais leves, mais coloridas e que não trazem à tona um ofício muito cansativo hoje em dia - pensar.
Gostaria de poder dormir mais um pouco mais tranquilo, sofrer até um pouco mais tranquilo, mas isto é impossível. Carrego a dor de muitos comigo, uma dor profunda e sem limites. A minha dor é a dor das crianças que morrem nas guerras ou mais lentamente pelas ruas e nos barracos das favelas; a minha dor é a dor dos milhares de velhos abandonados no final da vida sem o amparo daqueles que um dia eles criaram e ampararam incondicionalmente; a dor constante de todas as mulheres do mundo, as jovens que desconhecendo as armadilhas do mundo se prostituem até quando não, as que sofrem da violência do velho machismo sórdido e sujo, das que perdem seus filhos para o crime, todas enfim; carrego a dor dos trabalhadores explorados e mal remunerados que não podem dar uma vida digna aos seus filhos; trago em meu peito doendo que nem tiro as mentiras dos nossos desgovernantes, suas sujeiras debaixo do tapete, seus roubos, suas trapaças, fazendo do nosso país um inferno no céu; enfim, carrego toda a dor...
Tenho muita saudade e isso também dói muito. Daquilo que já passou e me valia tanto, dos que eu amava e foram embora antes de mim. Não repare, deve ser coisa de velho, como dizem...
Não sei se há mais tempo para nada, sinceramente, não sei. Gostaria que meus versos se espalhassem por aí e dessem, pelo menos, um pouco da esperança que ainda carrego escondida nos bolsos da velha calça jeans. 
Não quero ocupar muito, as coisas da vida e da arte acabam consumindo nosso tempo e acaba que ele sempre é pouco. Obrigado, muito obrigado, por tudo, pela nossa amizade, mesmo quando não temos muito tempo para conversar; obrigado pelas lindas músicas que a sua arte nos concede, hoje e sempre. Quem sabe um dia tenhamos tempo para nos conhecermos pessoalmente? Seria muito e muito bom mesmo.
Até lá, fica um grande abraço desse teu amigo,
                                                                            Carlinhos.

(Para Maurício Musa, Músico e Amigo dos bons).

Nosso Tempo...

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Vejo nuvens onde não deveria ter. Os céus estão cobertos, não é só a fumaça que nos cobre, são de coisas piores. Profecias, más notícias, piadas que um palhaço sem graça faz sobre nós.
Quem vai nos salvar? Os novos messias passeiam de com suas Mercedes enquanto os sinais de trânsito são disputados. Os profetas de uma nova ordem jogam seus papéis que agora comemos.
Acreditamos em tudo, sobretudo no nada. 
Em cada lar uma oficina de máscaras, em cada canto uma fábrica de correntes, em cada cochilo um novo pesadelo. Eu, você, todos nós, escolhemos a escravidão que mais nos aprouver...
Admirável mundo novo. Admirável refrigerante novo. Admirável veneno novo. Vitrines sempre prontas para infelizes produtos. A maldade vencendo maratonas correndo de costas, pulando em um pé só. 
Sábios inventores. Novas doenças como ases na manga de um desonesto croupier. Não sabemos se o nosso dia seguinte será no dia seguinte, mas será. 
Estética da raça, estética da massa, quem morrer, verá. Tudo são, tudo não, tudo em vão. Meu cachorro conhece mais filosofia que eu, eu sou apenas humano...
Quem vai nos salvar? Organizem a fila, por favor. A morte só levará quem pegar a senha. Vivos, sim. estamos vivos, mais que vivos com inveja dos que partiram. Inveja em série, com número de fabricação, com espaço reservado no horário da televisão.
Não há mais perigos entre os escombros, os escombros somos nós. Não há mais perigos entre as ruínas, são descartáveis, biodegradáveis e não contém glúten. 
Esqueçamos os poemas, Narciso acabou de chegar de sua viagem, vem tomar um café conosco. Espelhos são produtos de primeira necessidade. 
De noite, todos os gatos são gatos. A lógica tomou um táxi para Marte. Todos sabem digitar, poucos sabem escrever. Mãe, o que é uma carta? É pra comer ou é de beber? Pai, o que é ser honesto? É contagioso? Tem que tomar vacina?
Quem vai nos salvar? Talvez um carro vindo na contramão...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Setembros Sem Setembros

Pareciam ser dias de sol todos os dias
e até que eram...
Um dia especial como tantos outros
mas daqueles que ficamos contentes
e até que sabemos porque ficamos
Desfile da escola
tanta gente como num formigueiro
em que as formigas se enfeitaram!
No começo aquele uniforme feito vestido
e as bandeirinhas e depois 
aquele também parecendo um brinquedo
Depois bater o pé de uniforme
e segurar aquela bandeirinha de papel
um... dois... três... quatro...
Depois aquele livro da biblioteca
e após isso a bandeira do Brasil
Sim, sim, eu toquei surdo 
por dois anos
meu sonho era tocar tarol
mas nem a caixa eu consegui!
O bumbo era muito pesado 
mas diziam que meu peso ajudava...
Até que veio a noite e sair dali
Muito tempo já se passou...
Não há mais nada que possa segurar
nem as brincadeiras de mau-gosto...
Tudo faz falta, até os espinhos às vezes...
Os pães e o pão e o refresco quase água...
Meus óculos novos eram quadrados...
Eu posava para os monóculos com mamãe...
Depois de muitos anos a notícia triste
o carro que bateu e tirou a vida...
Notícias corridas no telefone 
e quase nada mais...
Os setembros morreram
e de lá em diante setembros 
são apenas aquilo depois dos agostos
assim como o meu coração - nada mais...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Pequena Escuridão

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Pequena escuridão que nos envolve,
Envolve os tristes,
Envolve os contentes,
Não haverá mais felicidade...

Pequena escuridão que envolve os sonhos,
Não há mais nenhum,
Só há pesadelos
Que acabam atrapalhando o sono...

Pequena escuridão que cerca a cidade,
Só há maldade,
Não mais humanos
Apenas fantoches que somos...

Pequena escuridão que mata a vida,
Só existem os mortos
Mesmos se não o sabemos
E só o tempo segue adiante...

Pequena escuridão que embaça os vidros,
São nossas lágrimas
Pelo brinquedo quebrado
E pelo amor que foi embora...

Pequena escuridão que ri de tudo,
Somos nós os palhaços,
Num grande picadeiro
Que chamam mundo...

Pequena escuridão que envolve tudo,
Sobraram apenas alguns versos,
Aqueles que conseguir esconder
Nos bolsos das calças mesmo furados...

Não Há Verso Fora de Mim

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Não há verso fora de mim...
Mesmo quando pareçam viajantes
Foi a minha alma que foi longe
E voltou para a casa da tristeza...

Não há verso fora de mim...
Se ele ainda possui suas asas
Essas asas lhe foram dadas
Para que fique cativo eternamente...

Não há verso fora de mim...
Mesmo quando ri, ele chora
Se celebra o dia, ainda há luto
Ele é o menino que velho está...

Não há verso fora de mim...
Quando ele ama, chega o desamor
Os problemas chegam sem avisar
O seu mundo desaba aos poucos...

Não há verso fora de mim...
Acho que perdi até o meu nome
Confundidas as palavras aqui dentro
Feridas não fecham se tocadas...

Não há verso fora de mim...
Me transformei naquilo que sinto
Ando nas ruas sem ser percebido
Mais um viajante que vai calado...

Não há verso fora de mim...
Eu sou a festa que já terminou
Tudo que deveria ser contente
Quando a morte pode ser bem vinda?...

Não há verso fora de mim...
Nunca teve e nunca terá...

domingo, 17 de fevereiro de 2019

O Que Será de Nós, Peter?

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O que será de nós, Peter? Se os sonhos andam em falta no mercado e tudo acaba sem graça como uma brincadeira de mau-gosto que ninguém quer brincar? Faltam muitas cores em nossa aquarela e com isso acaba estragando todos os nossos dias...
O que será de nós, Peter? Se cada um construiu sua própria jaula e carregamos os fardos de nossas dores sozinhos e ninguém tem mais compaixão de ninguém? As dores nem sempre são tão tristes, mas a falta de ternura, certamente, é bem mais...
O que será de nós, Peter? Se dançamos sem alma? Se agora festejamos a maldade? Se o sorriso aos poucos desaparece do próprio mundo? A cobiça acabou nos tirando qualquer remorso...
O que será de nós, Peter? Se somos cúmplices dos nossos próprios assassinatos? Se nos matamos dia-a-dia no tédio sem sentido? Se deixamos de ser nós mesmos quando recusamos nossos sonhos? Um pouco menos do que robôs somos e nem damos conta disso...
O que será de nós, Peter? Se temos a nudez, mas nos falta a sinceridade? Se rimos de tudo, mas nem de tudo se poder rir? Se a guerra não nos incomoda mais? Engolimos o tempo e esquecemos de viver...
O que será de nós, Peter? Se abaixamos a cabeça para os malvados? Se nos rendemos aos medos? Se fazemos questão de fazer parte do rebanho que pula no abismo? Somos escravos do preconceito e ele sangra nossa carne...
O que será de nós, Peter? Estamos presos em uma escuridão muito além da escuridão? Nossa idiotice agora virou moda? Não acreditamos mais na fantasia, mas idolatramos a mentira? Agora tropeçamos em nós mesmos...
O que será de nós, Peter? Se até os nossos versos agora são falsos, vazios e sem esperança? O que será de nós, meu caro Peter Pan? Continuaremos vivos mesmo estando já mortos? Terra do Nunca, lá vou eu...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Sempre Estarei Contigo

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Sempre estarei contigo... Sempre...
Quando a tempestade chegar
O dia acabou de escurecer
Raios e trovões caem do céu
E não existir nenhum abrigo...
Sempre estarei contigo... Sempre...

Sempre estarei contigo... Sempre...
Quando os exércitos chegarem
Quando as bombas caírem
E os generais com sua maldade
Destruírem todos os sonhos...
Sempre estarei contigo... Sempre...

Sempre estarei contigo... Sempre...
E se os rios acabarem secando
E o mar perder todo o seu azul
E os fantasmas baterem na porta
E as tuas feridas ficarem abertas...
Sempre estarei contigo... Sempre...

Sempre estarei contigo... Sempre...
Quando teu amor te trair
Quando os espelhos se quebrarem
E a dor vir cobrar suas contas
Com seus juros de agiota...
Sempre estarei contigo... Sempre...

Sempre estarei contigo... Sempre...
Mesmo quando a dança parar
Os passarinhos forem embora
E o desespero tomar conta de ti
Porque o tédio lançou seu veneno...
Sempre estarei contigo... Sempre...

Sempre estarei contigo... Sempre...
Juntos nós dois na vida e na morte
Cantando loucos pelos carnavais
Ou silenciosos velando nossos mortos
Na hora da fome ou da solidão...
Sempre estarei contigo... Sempre...

Sempre estarei contigo... Sempre...
Até quando os versos se calarem
Ou irem para longe em outras terras
Naquele trem que não veio antes
E só restar conosco aquela saudade...
Sempre estarei contigo... Estarei...

Sempre estarei contigo... Sempre...
Porque me chamo esperança...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Atrás

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Atrás de um porto está um outro porto,
Atrás de um porto outro porto está,
Um porto sem naus, sem velas,
Onde não se pode mais navegar...

Pois nele já partiram velhos barcos,
Já nele viveram grandes amores,
Não há mais nada que se lamentar,
Ali agora só existem - dores...

Atrás de uma porta existe outra porta,
Atrás de uma porta outra porta há,
Que leva ao meu desolado coração,
Onde ninguém mais pode entrar...

Ele não morreu, mas está ferido,
Uma ferida grande feito o mundo,
Deixem-no descansar em paz,
O seu corte - foi profundo...

Atrás de um sono está um outro sono,
Atrás de um sono outro sono está,
Um sono destes que é bem grande,
Que não dá mais pra acordar...

Quem sabe sonho um outro sonho
Que não me deixe assim assustado
Que eu posso então sorrir e dizer
Que valeu a pena - ter sonhado...

Atrás de uma vida está uma outra vida,
Atrás de uma vida outra vida está,
Mesmo que o sol não mais chegue
Não ligo, ainda estarei lá...

Gandara

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Há poemas para todos os cantos,
Poemas para todos os lugares,
Por que não cantar o que não existe,
Mas insiste este meu cantar?
Estrelas claudicam em céus duvidosos,
Acabaram-se todas as novidades reais,
Eu fecho o livro, sim, eu fecho!
Madeixas coloridas estão na moda...
Enquanto persistir o vento,
Contarei histórias engraçadas.
Lavro a terra com mãos delicadas 
E faço das pedras exímios oradores.
Nunca mais terei motivo algum
De ir caçar alguns outros sonhos.
Honestamente já escolhi as presas
E só não sei onde elas estão.
Vou passear pelo mercado distraído
Para ver se as ideias me acham...
Minha solidão é sui generis,
Preferem ser em meio à multidão.
Estando certas ou estando erradas,
As minhas tentativas de voo valeram.
Azul foi quase meu nome um dia
Como só os poetas e os vagabundos,
Mas foi indecifrável meu enigma
E irá prosseguir por toda eternidade.
Não é necessário pedir desculpas
Porque bofetadas podem ser normais.
Hoje e sempre os canhões dispararam
E nem me importei com a fumaça.
Eu acabei escolhendo o impossível,
Como devem escolher os canalhas...
Palmas, senhoras e senhores!
O espetáculo acaba de ser cancelado!
Mesmo jogando água nas fogueiras
O fogo mesmo assim não apagará.
Sozinho como estou nada espero,
Talvez um til ou um Gil à mais
Porque as surpresas fazem parte
Mesmo das vidas sem calendários.
Foi uma belle époque que não passou,
Passou, passou e eu não quero mais...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...