quarta-feira, 18 de julho de 2018

Meu Silêncio É Um Discurso

Grandes e sombrios dias estes. Em que o tempo me cansava até que ele mesmo acabasse se cansando. Aí era aquilo: andar sem passos firmes por um aí.
Acendo cigarros com insistência. Fico imaginando se a fumaça pudesse levar alguma mensagem para bem longe. Terras que nem imagino devem existir. 
Tento calcular a distância que não consigo. E o tamanho de tudo acaba ficando do mesmo tamanho que meu coração. Cada detalhe é guardado com um carinho que me chega à doer.
Meus bolsos estariam furados? Sei que faço perguntas demais. É assim que está no meu roteiro de fiéis ilusões. Minha roupa estaria rasgada? Assim também se rasga a alma em amores feridos.
O relógio está cansado, deve ter bebido demais. Mas os sós devem ficar agradecidos porque ele nunca nos abandona. Mortos ou vivos todos possuem o tempo. É um grande engano achar que o repouso se torna absoluto.
Centenas de rostos vem na minha mente. Milhares talvez com alguma certeza. Fragmentos que nem as areias de várias praias. Eu aponto o dedo e a cena fica congelada. Sou o próprio mestre dos meus enganos. Eu sou a memória de todas as coisas. O pintor que vai fazendo todos os esboços. 
Eu sou o caçador de matas escuras. Eu sou o colocador de sons em cada canção. Por mais estranha que ela possa parecer. Por mais que eu não entenda seu idioma. 
A manhã já está se desfigurando. A tarde ocupa seu lugar na fila. Inflexível é a palavra de ordem. Permanente é o que nos falta e isso acaba sendo a mesma. Com chuva ou com sol os bem-te-vis ainda cantam e isso pode ser bom ou não.
A noite assim chegará. Com seus requintes ou sua rudeza. Não podemos escolher tal coisa. Aguardar acaba sendo a nossa arte. Tenhamos mais um pouco de calma. 
Eu até gostaria de não falar nada. Os meus olhos já muito falam! Mas os meus versos acabam me obrigando...

Um comentário:

  1. Muito legal, seu texto! O que seria de nossas inquietudes da alma diante da visão, pior, sentir os dias passarem, se não houvesse poesia para expressar.

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