quinta-feira, 26 de julho de 2018

Inexplicavelmente Só Queria

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Eu só queria voar. Com todos os adereços necessários para uma boa viagem. Sem saber de qual será me itinerário. Não preciso de mapas. Horários longe de mim! Tenho todo tempo do mundo e tempo algum. Minha pressa é tão grande...
Eu só queria cantar. Ser incômodo todas as vezes que quiser e acordar toda a vizinhança. Mostrar que a alegria que não tive pode existir. Há uma festa correndo pelo tempo. O dia faz as honras de gentil anfitrião. Mesmo que não possa...
Eu só queria gritar. Gritar em todos os possíveis lugares onde a vista alcançar. Desmentir essas mentiras baratas que andam por aí. Falsas promessas de soluções impossíveis. Me reconheço humano e falho e insano...
Eu só queria derrubar os muros. Os muros do meu medo. Retirar as cercas da humana vergonha. Seguro firme a esperança entre meus dedos como uma criança com seu brinquedo novo...
Eu só queria dançar. Usar o melhor dos programas. Em volta de intermináveis fogueiras que acabam sendo estrelas pelos chãos. Colocar o velho corpo em movimento como há muito não faço. Um bom cansaço invadiria de novo como em bons tempos já idos...
Eu só queria seu beijo. Sentir o calor de sua alma. E então ficaria mais vermelho que as rosas que estão calmas entre os espinhos sérios e mal educados. Experimentar sua saliva como quem mergulha no rio mais caudaloso sem vergonha alguma...
Eu só queria o perfume quem me preenche. Cheiros bons que a mente por um triz não desconheceu. Cheiro de cinema em tardes mansas de domingo. Cheiro do parque no meio das férias. Cheiro do carnaval sempre bem vindo... 
Eu só queria decifrar diários enigmas. De como andam as coisas. Dos porquês da vida e das certezas da morte. Matar todos os pontos de interrogação sem piedade alguma. Saber porque essa fila não anda. Sou apenas um menino impaciente...
Eu só queria mergulhar em claras águas. Entender porque a profundidade verdadeira está nas coisas mais simples. Descobrir a sabedoria das cores. Sem medo e sem pudor algum como só sabem fazer os apaixonados...
Eu só queria mais calma. A calma de quem vai ao seu destino sem medo... Inexplicavelmente...

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Poesia Gráfica LXXXVI

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