sexta-feira, 13 de julho de 2018

Aflição de Doró

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não que estalem versos entre os dedos
as canções do vale já não valem nada
a praia tem muito lixo espalhado por lá
e em branco passam as velhas canções
a destruição distribui vastos aperitivos
e não saber mais nada é a única opção
andrajos sim meu caro e estimado barão
a única novidade é a que eu contei anteontem
que os vira-latas agora aprenderam à dançar
e cada reta é um círculo bem rodado sim senhor
fazem muitos e muitos anos que aqui estou
mesmo que ainda esteja lá de vez em quando
vamos agorinha para uma nova escola de solfejos
alisar as giletes que já perderam seu corte
nada mais complexo que esses peixes mortos
e um frio que cobre a cabeça feito mortalha
tem água pra todo lado até no mesmo sertão
capriche aí no capricho dessa pequena foto
quem sabe o mundo não acaba aqui mesmo
e compreender seja a última coisa que queremos
bombons e tretas fazem o negócio de Rafael
e os ratos não se abalem com mais nada
o xerife já chegou em altos brados de silêncio
e o universo se transformou em duas cores
a alma pode ser mais marvada do que a carne
e ainda rio duma história que nem eu mesmo sei
um fio de cabelo enche todas as entranhas
e eu mesmo fiz toda a decoração desse lago profundo
o cantor de rap acabou de mudar de lado
e a agora as mentiras possuem mais um tempero
eu quero passar o tempo em sérios passatempos
porque nada é a doce conclusão que todos chegamos
repito e repito sim quantas vezes quiser
a abolição da abolição nem sempre aboliu tudo
um coro de nerds canta mil e uma obscenidades
e no politicamente concreto acaba me encantando
fato começado é fato acabado assim diz a fatalidade
nunca devemos nada além de nossas dívidas
Zaratustra fechou a boca e se recusa terminantemente
e agora os patos nos ensinam quase todas as lições
eu tenho marcas indeléveis de tudo que não fiz
a quantidade suficiente não é mais suficiente
e os devaneios já não vão mais no mesmo clube 
se os paredões tivessem o dom de nada mais adiantaria
até as figurinhas dos álbuns viram preciosidades
e cada peça que o destino apronta faz um dominó
não há nada mais sério do que os quadrinhos que lia
e mais nada em branco do que os negócios acordados
eu sei muito bem que um dia virarei alguma teoria
mas até lá vamos chutando latas e beijando uniformes
é e era um caminho qualquer dando não sei onde
e mesmo assim os lampiões de querosene fazem fama
a lama dos regaços são bem vindas sem ficarem por lá
e o amálgama na verdade nunca foi o meu forte
muitas lacunas ainda esperam trotes sem telefone
e os santos estão impacientes nas prateleiras
até a verdade foi na esquina comprar chicletes
e acabou vindo com um ramo de flores em flor alguma
já é desnecessária a necessidade de alguma cor
enquanto os pães sentem frio num forno aceso
escapar do óbvio é como escapar de si mesmo 
só dá certo toda vez que der certo de uma vez por outra
por aqui tenho muitos amigos e só falta a amizade
é porque gosto de camisas estampadas e cigarros amassados
tenho maldições no bolso se quiser alguma pode falar
(Extraído d'O Livro do Insólito e do Absurdo de autoria de Carlinhos de Almeida).

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