vou perder o medo de perder o medo
de pelo menos uma vez na vida
assim criar alguma coragem
de pegar o vento com as minhas mãos
e guardá-lo bem para outros dias
quando o ar estiver mais sufocante
vou perder o medo de perder o medo
de ser o mais imprudente possível
quando a felicidade assim o requer
rir nas horas mais impróprias se quiser
chorar com histórias que meu velho contava
me encher de saudade das palavras de minha mãe
vou perder o medo de perder o medo
de não me importar mais com o ridículo
que às vezes se faz mais que necessário
eu nunca gostei daquele corte de cabelo
nem das roupas que tinha que usar
mas hoje compreendo que era querido
vou perder o medo de perder o medo
de fazer as declarações de amor que não fiz
o sim e o não vão juntos na mesma correnteza
ninguém tirará meu riso nem o desespero
a minha mortalha ainda não está pronta
e são os mortos que devem cuidar dos mortos
vou perder o medo de perder o medo
cada insignificância tem seu próprio dono
e de maneira alguma posso negar as minhas
eu sempre hei de repetir as mesmas palavras
toda vez que a minha vontade chegar desapercebida
não me importa que os desenhos sejam iguais
vou perder o medo de perder o medo
se a minha demora é mais demorada mesmo
e se gasto de uma só vez todos os superlativos...
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