sábado, 14 de julho de 2018

O Grande Exército de Formigas de Mossoró

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É inevitável que fatalmente acreditemos no destino
(E grandes cápsulas do tempo são lançadas)
E um torpor cor de cinza nos dê tempo algum
(Um cantor de jazz tem suas próprias cicatrizes)
E a nudez discreta me traz saudades de nenhum tempo
(Próprio de quem faz discursos animistas legais)
Eu espalho ventos da forma mais concreta
(E não são muitos os séculos que me restam)
E minhas festas são sempre regadas como o mar
(É lá que adjetivos e superlativos se degladiam)
E não sei bem o português arcaico dos havaianos
(Claro que sim, claro que não às vezes)
O Estado já trouxe margaridas para o morto
(Um grande incêndio para refrescar o verão)
Fatos e fadas já estão fazendo nova cobertura
(E os meninos agora não choram mais de tristeza)
Sobem em bandos os bandos de bandoleiros
(Quase como nunca é a minha trama de folhetim)
As cinzas não se conformam com seu trágico destino
(Mais um teatro exibirá matinês de carnaval)
Pois o imperador liberou mais cedo os gladiadores
(Vou engolindo palavras dispensando certas sílabas)
A alquimia só deu certo nos erros mais galopantes
(Quase que eu me caso com a pessoa certa)
Minhas cicatrizes são bússolas para tristes naus
(Ontem cheguei bêbedo é fato inédito de todo dia)
É costume dos índios indicarem fortes indícios 
(O chafariz agora alberga simpáticos paquidermes)
E a moça linda não fez a propaganda do creme dental
(É tão normal fazer esculturas com a poeira)
E os túmulos são disputados sobretudo pelos vivos
(Quase que morro ao ver os novos preços da aflição)
Prometo que nunca mais serei o que nunca fui
(É divertido ler epitáfios enquanto tenho delírios)
Conforme-se com o conformismo de falsos profetas
(Gosto tanto dela que assim faz eu não gostar)
Na claridade é que os morcegos fazem hora extra
(Eis a grande receita de um novo prato sem gosto)
Lá vem o grande exército de formigas de Mossoró!

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida)

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