Olhava
languidamente para o meio de minhas pernas
Enquanto
lembrava-se ternamente de sua heroína
Que morreu
de overdose num show clandestino
E se
pergunta qual e onde será a próxima droga....
Já não
sabemos mais o que nós somos...
O senhor com
cara de desenganos e muitas rugas
Parecia
sonhar com um novo apocalipse iminente
Onde várias
dançarinas vindas da Baixada Fluminense
Mostrassem
ternamente o rego de suas belas bundas
Antes de
fazer suas pregações e falar sobre moral...
Já não
sabemos mais o que nós somos...
Os camelôs
fazem demonstrações odontológicas
De suas
milhares de cáries em céus abertos
Enquanto
clamam por alguma misericórdia
De prolongar
suas agonias até o dia seguinte
Ou o dia
seguinte ao dia seguinte talvez...
Já não
sabemos mais o que nós somos...
Os meninos
mostram sua angústia pelos sinais
Enquanto
vendem suas outras balas
E fazem seus
célebres malabarismos histriônicos
Para os motoristas
que cagam e dirigem
Enquanto os
helicópteros sobrevoam céus...
Já não
sabemos mais o que nós somos...
Mãos
estendidas a velha e nova mulher
Implora
trocados aos cegos passantes
Para comprar
a droga do filho-da-puta
Que lhe
espera no barraco de papelão
Feito com
material do lixo das lojas...
Já não
sabemos mais o que nós somos...
Os
repórteres com seus rostos fabricados
Contam
notícias trágicas e interesses idiotas
Para uma
multidão que em suas casas feias
Acabam tendo
seus diários orgasmos
Porque mais
alguém além deles se fodeu...
Já não
sabemos mais o que nós somos...
Enquanto os
fiéis passageiros fazem suas filas
Amaldiçoando
os políticos de cara lavada
E escutam
todos os barulhos como caçadores
É necessário
chegar atrasado para reclamar
Que acabam
fazendo o que nunca quiseram...
Já não
sabemos mais o que nós somos...
A patricinha
acorda mais cedo apavorada
Que talvez o
boy com que trepou noite passada
Seja afinal
o amor da sua miserável vida
E que se
casem para ter detestáveis filhos
E pede a Deus
que possa morrer antes disso...
Já não
sabemos mais o que nós somos...
E o velho
poeta vai escrevendo suas possíveis merdas
Enquanto o
mundo desaba quase sorrindo
Não houve e
nunca haverá certeza alguma
E enquanto o
vento ainda existe lá fora
Somos apenas cadáveres de sardinhas na lata...
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