quarta-feira, 28 de junho de 2023

Das Tripas, Tripas Mesmo

Vejo isso tudo como um sujeito comum mesmo...

Eis um monte de átomos com alguns bilhões de anos, largadas por aí mesmo em um passeio interminável. Todos os caminhos são algumas ruas que os cães sem dono possuem. Tudo tem o mesmo valor - nenhum...

Eis a cela lotada por animais que mamaram e que respiram sempre, atormentados por necessidades contínuas que o embrutecem. Fome, sede, dor, tesão, medo, são espectros, sombras invisíveis que machucam mais que espinhos de uma roseira malvada. Tudo vai dar no mesmo caminho - nada...

Aqui está o nosso testamento feito bem antes do de cujus existisse. Alguns ossos rirão olhando para um alto tapado. A nossa imbecilidade gastou os segundos que tivemos. E a nossa falta de carinho tirou alguma beleza que deveríamos ter guardado numa quase eternidade escondida chamada ternura. Tudo tem igual propósito - partir...

Essa é a maior mentira que podemos carregar em nossos braços: a juventude. Nossa crueldade será o nosso carrasco e nossa cabeça será cortada por seu afiado machado quando menos esperamos. Apenas os espelhos possuem beleza enquanto seus vidros estão inteiros e as manchas diversas também não os devoram. Toda luz é uma sombra que nos engana ao seu bel-prazer. Tudo é apenas o que sempre foi - engano...

Até os sábios deveriam chorar por sua camuflada tolice, nenhuma filosofia satisfaz nossa animalidade. Todos os assassinos um dia choraram pelos seus brinquedos e os putas embalaram suas bonecas com suaves canções. A poeira tem mais fome do que qualquer outro demônio e nada está fora do seu alcance, até as águas não conseguem fugir ao seu intento. Tudo são apenas algumas palavras desconexas - mudez...

A nudez das formas é uma grande piada, a perfeição nem sabe que pode existir e cada época falará por si mesma e mesmo assim não haverá nenhum argumento coberto de unanimidade. O gênio é apenas resultado das mãos que se juntaram por alguns fugazes instantes para aplausos que não possuem valor algum. Tudo é apenas resultado de um simples estalar de dedos de dedos - agora...

Em algum lugar que seja lugar, numa aparência que seja somente isso, olhos fecham e a inconsciência vela em suaves pesadelos nem notados, sem certo e sem errado, forçosamente tudo se repete, É preciso ser idiota para que a ferida seja maior que o corpo, para que a mágoa só exista em si, toda dor surgiu de dentro e não conhece outro lugar senão nós mesmos. Tudo é apenas - é...

Vejo isso tudo como um sujeito comum mesmo...


(Para Fb, L., extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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