domingo, 4 de junho de 2023

Discurso Incurso

 

A nova moda chega em bandos certeiros

Serão ombreiras absurdas e calças de boca larga

Sapatos dos idos tempos da caverna

E casacos de pele de ovo com cor indeterminada

Capacetes da legião romana com plumas sintéticas

E um tempo que passou permanecendo

Eu deliro só em pensar nas minhas amnésias

Pensando que eram simples amenidades

Tenho medo de sombras em corredores

E fundos musicais feitos em silêncio espectral

Uma banda de rock toca tangos em desalinho

Os teus cabelos ruivos verdes só me dão tesão

Antes fossem azuis como céus cinzas

Como em dias tristes de pães e fugas

Sem cavaleiros e com a jovem dama

Olhem o relógio que não mais existe

E os encantos das serpentes aladas

Tudo não passa de uma figurinha colada

Na porta de uma geladeira imprestável

Alguns venenos podem matar até a alma

Como doem meus dedos entre os espinhos

Todos os caminhos possuem suas tocaias

E um desmaio pode acontecer passeando

Eu agora fabrico rios com minhas lágrimas

E fecho minhas portas com maior cuidado

Na velha gaveta guardo as lembranças que posso

Enquanto meus fantasmas tentam assustar

Mas eu acabo sendo pior que o meu medo

Acendi todas as velas para a escuridão

E fiz do Inferno mais um baile de carnaval

Escorre um orgasmo entre as tuas pernas

E agora o esmalte nem ao menos importa

Escolher o abismo ou não é apenas detalhe

Cedo ou tarde são apenas palavras

Vou rir de todas as palavras do dicionário

Aquele mesmo que escondia segredos

Que o banheiro tantas vezes testemunhou

Que o Caos me acompanhe entre montanhas

Enquanto escuto sons que não existem...

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