Aquele senhor negro, velho e cego
Conhecia meus passos,
Não pela luz que desconhecia,
Mas pelo tempo das manhãs
E pelo som de meus passos apressados...
Tinha toda a calma do mundo
E aquela calma era quase felicidade...
Suas pupilas brancas eram sábias...
As moedinhas do meu troco do pão
Não eram quase nada, mas eram tudo...
O menino franzino que ele nunca viu
Passava-lhe um pouco da felicidade
Das balas que podia comprar...
O quintal cheio de mato,
O pequeno quartinho de madeira,
O banco de madeira no seu mesmo lugar,
Isso tudo em tantos anos que se passaram...
O menino cresceu, a doença chegou mais,
A morte veio um dia lhe buscar...
Onde foi parar o velho cego?
Talvez esteja brincando com seus "netinhos"
(Crianças de cabelos cacheados e asas...)
Em algum lugar tão bonito como nunca viu...
Onde foi parar o menino das moedas?
É agora um velho muito e muito triste
Escrevendo milhares de palavras
Que talvez nunca sejam lidas...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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