sábado, 3 de junho de 2023

Confuso

Essa plataforma está cheia

E eu nem me sinto junto com alguém

Pode ser alguma matrix e só eu esteja aqui...

Muitos esperam o ônibus chegar

E eu aqui estou para ir para nenhum lugar

Para não fazer nada sozinho ou com alguém...

As filas estão dobrando a esquina

E eu entrei para não ser atendido

Ou não pedir nada ou comprar alguma coisa...

Acendo um cigarro que não quero fumar...

Abro uma cerveja que não quero beber...

Não quero saber nenhuma notícia desse jornal...

Não vou responder nenhuma mensagem do celular...

Nem vou ao menos abrir o guarda-chuvas se chover...

Se der fome não comerei...

Respirar é algo automático e inevitável...

Não me matarei porque não tenho vontade...

Perdi a ânsia de esperar o carnaval...

Escrever alguma coisa para não ser lida não importa...

Nem uma frase debochada na parede do banheiro do bar...

Se reparam que estou feio e velho não ligo

Se a minha roupa está suja ou amassada

Se estou cheirando a falta de banho ou suor...

Se esqueci de pentear o que resta de cabelo...

Se deixei de cortar essas unhas sujas...

Se não respondo a quem me cumprimenta

Ou ao cachorro que abana o rabo gentil...

Não reparo mais nas flores que eu gostava

Num jardim de uma praça aqui perto

Que não tem culpa nenhuma por mim...

A música bonita que toca na televisão

Não me emociona como fazia antes...

Não fui nada (apenas uma tentativa de tudo)

Não deixei frases em pedras (epitáfio não vale) ...

Tudo isso acontece porque estou confuso...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...