quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Procura Imperfeita da Perfeição

 

Como se fosse um caçador enlouquecido 

Perdido por entre velhas revistas e jornais

Um sol que veio antes mesmo de ter nascido

Um pássaro voando entre muitos temporais


Uma viúva chorando a morte do marido

Um desgraçado cortando vis canaviais

Um miserável na gula de pão amanhecido

Um embriagado folião fora de carnavais


Um deus sem piedade por estar aborrecido

Um coveiro com brincadeiras mais sepulcrais

Um poema que nunca um dia será então lido

Com essa inocência do mais vil dos festivais


Deito na rede sem nunca poder ter dormido

Sou o campeão que acabou ficando lá atrás

Me lamentando de um dia ter enfim vivido

Engulo sem pena estes possíveis gardenais


Estou aqui neste chão sem nunca ter caído

Eu fiz deste meu quarto uma nova Alcatraz 

No fundo deste triste abismo sem ter descido

Satisfeito mas ainda querendo muito mais


Eu busco a perfeição sem nunca ter merecido

Como quem sacia suas vontades elementais

Antes que a alma vá para este desconhecido

E minha palavra de ordem seja então jamais...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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