Como se fosse um caçador enlouquecido
Perdido por entre velhas revistas e jornais
Um sol que veio antes mesmo de ter nascido
Um pássaro voando entre muitos temporais
Uma viúva chorando a morte do marido
Um desgraçado cortando vis canaviais
Um miserável na gula de pão amanhecido
Um embriagado folião fora de carnavais
Um deus sem piedade por estar aborrecido
Um coveiro com brincadeiras mais sepulcrais
Um poema que nunca um dia será então lido
Com essa inocência do mais vil dos festivais
Deito na rede sem nunca poder ter dormido
Sou o campeão que acabou ficando lá atrás
Me lamentando de um dia ter enfim vivido
Engulo sem pena estes possíveis gardenais
Estou aqui neste chão sem nunca ter caído
Eu fiz deste meu quarto uma nova Alcatraz
No fundo deste triste abismo sem ter descido
Satisfeito mas ainda querendo muito mais
Eu busco a perfeição sem nunca ter merecido
Como quem sacia suas vontades elementais
Antes que a alma vá para este desconhecido
E minha palavra de ordem seja então jamais...
(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nenhum comentário:
Postar um comentário