sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Tatuagens Invisíveis

Tenho preguiça de quase tudo

Escrevo mais versos nas nuvens

Que em tímidos pedaços de papel...

Sou a sombra do que um dia fui

Este é o fato mais que inconteste

Assim como rochas embriagadas...

Caiu um cisco no olho do furacão

 E lágrimas são todas de Newton

Mesmo não sendo nunca a maçã...

Casas de marimbondos são simples

Mais do que todas nossas cidades

Onde todos se atacam mutuamente...

Garrafas de guaraná são quebradas

Para a confecção de novos tapetes

Para os faquires do tal pós-moderno...

É o maior de todos os tapas na cara

A fome que não só corrói o estômago

Mas de forma maior todas as almas...

Tenho mais preguiça ainda que antes

Com a lentidão apressada dos caracóis

Que esqueceram de registrar seu nome...

Faço de conta que o poço chamado vida

Não tenha a mesma profundidade usual

Daquilo que nós chamamos de medo...

Temos auroras boreais tão incolores

E oceanos insípidos de tão raras águas

Onde estrelas-do-mar agora filosofam...

Em terras por onde nunca vou passar

Temos sextas com semblante de segundas

Com pegadas de pés que nunca pisaram...

A menina feia agora sonha que não sonha

Enquanto os burgueses fumam seus havanas

Num chiqueiro de cobertura lá na Zona Sul...

Os leões comem placidamente suas saladas

Enquanto o vento insiste de soprar segredos

Como num jogo de bola com cortadas cabeças...

O mesmo slogan irritantemente é repetido

Enquanto o motorista fecha os seus olhos

Para beijar o primeiro poste do caminho...

Celebremos a mesma maldição já proferida

De uma tatuagem que se apaga aos poucos

Com a invisibilidade casual dos cegos...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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