Tenho preguiça de quase tudo
Escrevo mais versos nas nuvens
Que em tímidos pedaços de papel...
Sou a sombra do que um dia fui
Este é o fato mais que inconteste
Assim como rochas embriagadas...
Caiu um cisco no olho do furacão
E lágrimas são todas de Newton
Mesmo não sendo nunca a maçã...
Casas de marimbondos são simples
Mais do que todas nossas cidades
Onde todos se atacam mutuamente...
Garrafas de guaraná são quebradas
Para a confecção de novos tapetes
Para os faquires do tal pós-moderno...
É o maior de todos os tapas na cara
A fome que não só corrói o estômago
Mas de forma maior todas as almas...
Tenho mais preguiça ainda que antes
Com a lentidão apressada dos caracóis
Que esqueceram de registrar seu nome...
Faço de conta que o poço chamado vida
Não tenha a mesma profundidade usual
Daquilo que nós chamamos de medo...
Temos auroras boreais tão incolores
E oceanos insípidos de tão raras águas
Onde estrelas-do-mar agora filosofam...
Em terras por onde nunca vou passar
Temos sextas com semblante de segundas
Com pegadas de pés que nunca pisaram...
A menina feia agora sonha que não sonha
Enquanto os burgueses fumam seus havanas
Num chiqueiro de cobertura lá na Zona Sul...
Os leões comem placidamente suas saladas
Enquanto o vento insiste de soprar segredos
Como num jogo de bola com cortadas cabeças...
O mesmo slogan irritantemente é repetido
Enquanto o motorista fecha os seus olhos
Para beijar o primeiro poste do caminho...
Celebremos a mesma maldição já proferida
De uma tatuagem que se apaga aos poucos
Com a invisibilidade casual dos cegos...
(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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