Vento malvado! Quase que me derruba na rua...
Num gesto como quem mergulha em todas as águas
Iria provar ou a poeira de alguma calçada dessas...
Ou talvez uma folha morta ou um fragmento desta
Ou ainda algum papel de bala que fugiu do doce...
Alguns metros para mim são muitos quilômetros...
Respiro com certa dificuldade com pulmões cansados
Mais cansados com o tempo do que com cigarros...
Vejo algumas pessoas e acabo vendo o mundo todo
Aqui estão todas elas em uma criptografia rara...
Que falta me faz tivesse pelo menos um par de asas...
Esses intermináveis minutos se tornariam segundos
E eu não precisaria dar mais bons-dias ignorados...
Há muitos sons (cacofonia) aos meus pobres ouvidos
Como quem acorda com uma sinfonia inesperada...
Finalmente alçar os dois degraus que nos separam...
Até os cheiros bons acabam uma hora enjoativos
E os do que fabricam ali não escapa a esta regra...
A bela novinha com sua bunda tão convidativa
Quase não escuta o pedido sem voz de dois reais...
Mais uma jornada quase fenomenal voltar pra casa...
Malditos sejam estes bons filhos da puta daqui mesmo
Que fizeram esse Himalaia de quebra-molas na rua...
Coloco com uma certa dificuldade característica
A chave no meu portão que o tempo comeu a tinta...
Alguém precisa tirar esse mato aqui da calçada...
Meu casal de cães abanam o rabo de talvez alegria
No meio desta selva Amazônica que chamo quintal...
Passo suavemente pela varanda já meio suja
E sento em frente ao PC pra ver um pouco lá fora...
(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
Nenhum comentário:
Postar um comentário