Isto também é poesia... Isto é...
A primeira ave que canta quando clareia o dia
Interrompendo seu humilde sono
Que foi em um galho qualquer...
Isto também é poesia... Isto é...
A barata correndo esquiva de um canto a outro
De um quarto quase que sujo
Para poder não ser pisada...
Isto também é poesia... Isto é...
O cigarro que morreu no cinzeiro que está pousado
Numa mesa como nave espacial
E vai ser limpo se estiver cheio...
Isto também é poesia... Isto é...
Os passos dos loucos que perambulam pelo meu bairro
Sem noção alguma porque o fazem
E até podem sorrir mesmo que tristes...
Isto também é poesia... Isto é...
As roupas velhas e rasgadas como se fossem bandeiras
Penduradas por quintais pobres
Que vestirão seus futuros cadáveres...
Isto também é poesia... Isto é...
O sorriso do menino que encontrou um real jogado na rua
Sua alegria é tão bem parecida
Como quem pode comprar o mundo...
Isto também é poesia... Isto é...
A mãe que levanta com seu filho mamando em seu seio
Para abrir a porta pro pai da criança
Que chegou vivo do trabalho no barraco...
Isto também é poesia... Isto é...
A multidão que grita protestando pelas ruas da cidade
Para que a maldade se acabe
E que todos possam ser iguais...
Isto também é poesia... Isto é...
A bondade do coração de uma puta barata de rua
Que pagou um salgado e um suco
Para o velho mendigo que nada pediu...
Isto também é poesia... Isto é...
Qualquer nota que foi escrita em sincero
Ou um coração na casca da árvore
Ou um epitáfio mais do que triste...
Isto também é poesia... Isto é...
(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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