Apaguem o sol
Acendam a lua
Mesmo que o relógio não saiba
Mesmo que o tempo se engane
Mesmo que a areia se apague
Estou tão sozinho no universo
Eu faço uma qualquer alquimia
Com cacos de vidro ferindo
Com espinhos me desenhando
A pele que não mais importa
Mesmo que a nuvem vire fogo
Mesmo que o fim seja agora
Mesmo que ela não seja bonita
E meus pecados queiram mais
E junto toda a lenha possível
Para uma fogueira inexistente
Para me atirar dentro dela
Com quem vai para piscina
Mesmo sendo um estranho
Mesmo aguardando pelo pior
Mesmo que a porta se feche
E a palavra que dei errou
Não temos mais profecias
E as dádivas estão mortas
Só temos esta água suja
E a nossa gula mais normal
Mesmo se o cão me morder
Mesmo se o gato me arranhar
Mesmo quando a loucura chegar
E me der seu abraço apertado
Não tenho fama alguma agora
A comida está faltando no prato
Os olhos só enxergam de perto
As regras são os ossos quebrados
Mesmo que meu poema demore
Mesmo que seja viúvo tantas vezes
Mesmo que o rebanho não veja
E que todos pulem para o abismo
E que sejam as palavras toscas
E que todos meus gestos também
Qualquer dia desses alguém veja
A verdade mesmo não agradável
Apaguem a lua
Acendam o sol...
(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).
Nenhum comentário:
Postar um comentário