segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Tosco

Apaguem o sol

Acendam a lua


Mesmo que o relógio não saiba

Mesmo que o tempo se engane

Mesmo que a areia se apague

Estou tão sozinho no universo


Eu faço uma qualquer alquimia

Com cacos de vidro ferindo

Com espinhos me desenhando

A pele que não mais importa


Mesmo que a nuvem vire fogo

Mesmo que o fim seja agora

Mesmo que ela não seja bonita

E meus pecados queiram mais


E junto toda a lenha possível

Para uma fogueira inexistente

Para me atirar dentro dela

Com quem vai para piscina


Mesmo sendo um estranho

Mesmo aguardando pelo pior

Mesmo que a porta se feche

E a palavra que dei errou


Não temos mais profecias

E as dádivas estão mortas

Só temos esta água suja

E a nossa gula mais normal


Mesmo se o cão me morder

Mesmo se o gato me arranhar

Mesmo quando a loucura chegar

E me der seu abraço apertado


Não tenho fama alguma agora

A comida está faltando no prato

Os olhos só enxergam de perto

As regras são os ossos quebrados


Mesmo que meu poema demore

Mesmo que seja viúvo tantas vezes

Mesmo que o rebanho não veja

E que todos pulem para o abismo


E que sejam as palavras toscas

E que todos meus gestos também 

Qualquer dia desses alguém veja

A verdade mesmo não agradável


Apaguem a lua

Acendam o sol...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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