Comoções de um mundo mais insano, supremacia dos idiotas, capitalismo babando com o surto que ele mesmo provocou...
Peças de dominó que caem uma após a oura num espetáculo digno de qualquer esquecimento. Musas ao avesso nas redes sociais, heróis de nada, o talento saiu para tomar um café e não voltou. A piora do paciente acontece do jeito que o médico assim o quis...
Coleção de diferentes beijos em noites banalmente cheias de uma libido em que apenas faltava um pouco mais de tesão...
Para vivermos basta estarmos mortos. Silvícolas de paletó e gravata da melhor grife que o dinheiro pode pagar. Os palhaços com cara cruel correm atrás de nós e a única saída foi aquele beco sem saída. Mais uma, por favor.
Há muitos nomes agora quase que esquecidos, principalmente aquele que foi meu...
A nuvens cor-de-rosa agora estão mais do que acinzentadas. Os anjos surtaram e deram ataques de riso na nova comédia que é a velha guerra que teima de permanecer entre todos os homens. A inocência é agora um palheiro numa agulha.
Escuto a tristeza de um blues com alguns toques de um samba-canção que um poeta fez em sua embriaguez...
Tão bonita, tão feia, arte moderna de tons mais que milenares. Os tamanduás não comem mais formigas, sentem saudades de esquecidos formigueiros. Cada ideia há de falhar para que possa valer alguma coisa.
O milionário acabou de perder tudo e praticou haraquiri com sua escova de dentes importada...
Um radinho de pilhas sem pilhas de repente tocou. Todos os odores repugnantes agora fazem certo sentido. Batam as palmas mais efusivas para o começo de qualquer um fim.
Gosto por demais de todos os absurdos que podem ser servidos em meu pobre desjejum...
O corpo dela apodrece na gaveta enquanto todo choro agora seco foi substituído pela diversão que o nada pode proporcionar. O tanque do automóvel acaba explodindo. A cena de nudez da novela foi um prato vazio.
Muitas palmas, muitas mesmo, agora e sempre, agora e nunca, para os fantasiados com a sua nudez...
O catador de reciclagens tem mais trabalho do que possa imaginar. Cata o não que foi jogado fora, o que foi também jogado, o que nem existe para ser jogado. Agora os rios vêm vindo do mar.
Lanternas chinesas para noites russas onde cisnes imitam perfeitamente os rouxinóis...
O nó de Górdio, o cardiograma que trouxe preocupantes resultados. Você tem saúde de ferro e poderá estar enferrujado daqui uns meses porque mora bem na frente do mar.
O adolescente tem uma ejaculação involuntária toda vez que ganha uma partida de videogame...
Acabou a pressa do beija-flor e de agora em diante as flores que se virem sozinhas. É um enxame de abelhas mutantes que preferem flores de plástico ou de papel alumínio.
Em qualquer uma das vinte e cinco horas do dia mais um desesperado tenta beber de sua saliva...
O monge ascensionado grita impropérios no boteco da esquina enquanto atrai os passantes. O preço das marmitas não é o mesmo do ano passado. E sempre temos dito. Maldito proprietário dono do sacolão do bairro.
As raízes secaram por conta da umidade excessiva de uma quinta estação desse ano de trezentos e sessenta e sete dias...
Onde estão meus óculos? Onde estão meus óculos? Sem eles me sinto como os pássaros sob esse temporal de chuva seca...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).