domingo, 31 de agosto de 2025

Best Friends (Cada Qual Com Seu Mal)


 Teatro de marionetes malfeitos

Cantos de pássaros um tanto roucos

Briga de políticos em pleno plenário

O carvão está aceso e não queima

Marimbondos nascidos sem ferrão

Dois bêbados se beijando na boca

A roupa branca ficou mais encardida

Quem chegar primeiro é que comerá

Um copo d'água virou uma riqueza

O pintor cego não temerá as cores

O milionário falido irá ao suicídio

Compre uma virgindade na rifa

Só use espelhos que forem partidos

Só beberemos champanhe sabor jaca

Serviremos bosta para os convidados

No Inferno alugam muitas quitinetes

A direita é de quem nunca foi direito

O carnaval entre os pigmeus é um ano

Em casa de ferreiro só se usa delivery

Ele cagou na rua e se limpou em casa

Dar socos na mesa é a boa educação

Trair é a mais nova regra de cidadania

Judas agora está em alta nas redes

Na Zona Sul todo o sangue ficou azul

Quero chicletes com sabor de frango

Meu filho vai ter nome de demônio

Perucas genitais para calvície pubiana

Comer comida normal agora é anormal

Só como melancias que dão nos coqueiros

Tento ser suave que nem uma navalha

A conta certa é dois mais dois cinco

Pensar faz muito mal aos nossos dentes

Só paro com um vício no dia que parar

Queria comprar meleca mas acabou

Nada mudou só o nome e o jeitinho...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Intermitente

Sábados que são domingos que são segundas...

Meus olhos agora estão fitando o chão

Não querem mais o céu sob hipótese alguma

É tão triste se acostumar com a tristeza

Eu sou mais veloz que uma simples pedra

Os espinhos é que são meus acompanhantes...


Carnavais que são cinzas que são quaresmas...

Há tantos loucos que nada aparentam

Quem sabe um dia eu não veja mais nada

E consiga de vez pular aquele tal muro

Que sempre esteve lá e eu nunca tinha visto

Um pesadelo é apenas um sonho tão feio...


Amores que são desamores que são ódios...

Nada foi embora mesmo que tenha ido

Esse deboche foi apenas uma sinceridade

As nuvens da internet são fiéis testemunhas

Que continuo andando mesmo que durma

O silêncio é um barulho que até dói mais...


O tudo que foi algo que foi nada...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Longe Daqui de Perto

Longe daqui de perto...


Estranho andando em ruas conhecidas

Brigando contra o vento

Falando com alguns mortos

Vendo cenas agora apagadas

Quem sou eu? O que faço?


Afogado numa terra mais que firme

Rindo sem ter motivo

Sentindo o gosto da ternura

Planejando o que não acontecerá

Posso ir embora? Onde chegarei?


Olhando um carnaval mais fictício

As redes sabem enganar

Eu tenho o menos do menos

Reclamar de nada me adianta

Por que palavras? Eu piso em pedras?


O sono chega agora sem chegar

Todo fácil é mais difícil

O pobre dia vai se atrasar

É como o trem que não chegou

Quem sou eu? O que faço?


Longe daqui de perto...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Carliniana XCVII ( Sob Toda Tensão Que O Mundo Oferece )

Ventos caninos...

As montanhas falam e as nuvens respondem...


Todos os meses aguardam os fevereiros enlouquecidos

Com todos os seus tão pequenos e insossos feriados

Respostas de maquinadas liquidações abusivas

Enquanto há ciranda de loucos no pátio do hospício...


Dentes obturados...

Os mares agonizam e os bêbados cambaleiam...


Para cada sinal de trânsito uma moeda perdida

Com a coceira no olho que veio para a nossa tortura

Sentimos o cheiro adocicado de flores nos funerais

Há sempre uma nova velha parede que irá cair...


Gemidos secos...

Os famosos evacuam e a multidão aplaude...


A corrupção cai como as gotas de um céu hostil

Os pratos foram esvaziados sem alguma testemunha

Piolhos e outros parasitas surgem de todos os lados

Para a alegria geral do nosso mais puro engano...


Berros silenciosos...

As tábuas rangem e é sob nossos pés...


A miséria é semelhante a mais um parque temático

Hoje o número sorteado é aquele que não existe

Aquele sorriso amarelo é tudo o que o ouro nos dá

A mediocridade compra suas roupas no shopping...


Medo complementar...

O automóvel corre e vai pela contramão...


Não há mais problema que haja mais um problema

O cientista descobriu a inédita fórmula mais fálica

Os mercados agora podem vender carne humana

Macumba on line é para os escravos da internet...


Sede anacrônica...

Um muro caiu solene e eu amparei com as mãos...

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Procura Imperfeita da Perfeição

 

Como se fosse um caçador enlouquecido 

Perdido por entre velhas revistas e jornais

Um sol que veio antes mesmo de ter nascido

Um pássaro voando entre muitos temporais


Uma viúva chorando a morte do marido

Um desgraçado cortando vis canaviais

Um miserável na gula de pão amanhecido

Um embriagado folião fora de carnavais


Um deus sem piedade por estar aborrecido

Um coveiro com brincadeiras mais sepulcrais

Um poema que nunca um dia será então lido

Com essa inocência do mais vil dos festivais


Deito na rede sem nunca poder ter dormido

Sou o campeão que acabou ficando lá atrás

Me lamentando de um dia ter enfim vivido

Engulo sem pena estes possíveis gardenais


Estou aqui neste chão sem nunca ter caído

Eu fiz deste meu quarto uma nova Alcatraz 

No fundo deste triste abismo sem ter descido

Satisfeito mas ainda querendo muito mais


Eu busco a perfeição sem nunca ter merecido

Como quem sacia suas vontades elementais

Antes que a alma vá para este desconhecido

E minha palavra de ordem seja então jamais...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Antigas Testemunhas


 Velhas festas, velhas fotos

Em máquinas mais antigas ainda...


Eu ainda estou por aqui

E guardo na memória tantas coisas...

Não tenho culpa se tanto 

Já foi para não mais voltar...


Velhos signos, velhos gestos

Em palavras nunca mais faladas...


Não sei quanto tempo ficarei

E me falta a certeza se algo restará...

O medo é meu acompanhante 

E a dúvida sempre foi o prato do dia...


Velhas modas, velhas cores

A nossa ciranda é carrossel abandonado...


Nem meu relógio existe mais

Deve estar em um pulso que não o meu...

Os meus brinquedos não estão

E chorar não resolve coisa alguma...


Velhas festas, velhas fotos

Em máquinas mais antigas ainda...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 24 de agosto de 2025

E A Mariposa Pousa

 

Não importa o tamanho do sonho

Se ele apenas existe...

Não importa o tempo do relógio

Desde que ele passe...

Hoje tem curimba, meu rei!

Exu já baixa pedindo marafo

Gargalhando e fumando!

Viva a minha comadre Maria!


Não é importante a cor do pano

Desde que ele nos cubra...

Minha raça é a humana

Não tem pior e nem melhor....

O mar está lá, pode ir ver!

Meu barco partiu anteontem

E até agora inda não chegou!

Será que Janaína levou?


Na fila do pão ou na fila do SUS

Nossa fome é a mesma...

Acabou a pimenta que Bernardo deu

Mas no mercadinho tem mais...

Qualquer mocidade um dia acaba!

O corpo dela era tão bonito

Mas agora sua bunda está caída!

Como caem folhas dos galhos!


Não importa o tamanho do sonho

Se ele apenas existe...

Não importa o tempo do relógio

Desde que ele passe...

Hoje o sol saiu, meu rei!

A rua vem gargalhando e muito

Por todos os seus muitos cantos!

Viva a nossa mais nova folia!


E a pequena mariposa pousa...

Mas que cousa!...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 23 de agosto de 2025

Carliniana XCVI ( Sem Verme, Sem Passeio, Sem Lua Cheia )

 Eu não sabia que não sabia até que não soube

A rua tem o tamanho do mundo mesmo que não

Ninguém lhe proíbe mais o que agora não faz

A modernidade ficou mais que antiquada e só

Não se pode reclamar dos restos jogados fora

A serenidade agitada de passos é que importa

O místico é apenas aquilo que nunca foi ou será

A lembrança é que grita em nossos ouvidos

Como um sino de igreja que acaba tocando só

Eu ainda estou aqui com meus crimes no bolso

E gargalho dos meus pecados até o Juízo Final

Esqueço de tudo que é necessário no momento

E olho alguns versos meus com tal estranheza

Todos os que têm medo inventam as novidades

Mas sob os desenhos existe o mesmo tecido

As minhas paredes agora não reclamam nada

E o meu tesão é um camelo no deserto chuvoso

Descobri que no mundo eu sou o eu mesmo

Desde do primeiro ao último dos meus delírios

E até meus fracassos são vitórias disfarçadas

Não farei mais pergunta até chegar o carnaval

E eu pinte meus cabelos com papel de pipa

E cumpra meu destino sem alguma nulidade

Benditos sejam os malditos que andam por aí

E mais nada tenha a fazer naquilo que não fiz...

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Eis A Meta

Ter o que não se tem - eis a meta.

Que tal ter nas mãos um punhado de estrelas

Colhidas quase agora em algum céu vadio?...


Fazer o que não fez - eis o esforço.

Talvez valha a pena sangrar e doer

Para que um sonho possa se realizar?...


Esperar uma eternidade - até que chegue.

Posso arrumar a minha velha e triste casa

Para receber a felicidade ainda nunca vinda?...


Perder todo sono possível - até a madrugada.

Será que vale a pena tentar inúmeras vezes

Fazer medo no medo até que ele vá embora?...


Ter o que não se tem - eis a meta...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Na Madrugada Não Há Mais Sedes

Na madrugada não há mais sedes...

As que haviam foram saciadas com lágrimas...

Agora pouco importa o sal que há nelas,

O mais importante é poder voltar pra casa....


Na madrugada não há mais sedes...

Os vampiros agora limpam os seus lábios...

Muitos corpos mortos e agora silenciosos

Esperam ser recolhidos quando vier o sol...


Na madrugada não há mais sedes...

A aguardente desceu queimando a goela...

Tropeçar por estas ruas sujas e vazias

É o ofício de todos os que são desenganados...


Na madrugada não há mais sedes...

E se alguma existir? A morte a sacia...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Partes

As paredes brancas manchadas de preto

A velha lição do tempo posta em prática...

São diversas águas de diversas chuvas

Não importando se dias bons ou ruins...


As mãos calejadas de quem trabalha...

As mãos desesperadas de quem esmola...

Mãos tremidas de quem está suplicando...

Todas são mãos sem dúvida alguma...


Os pés trôpegos de quem está fugindo...

Os pés ligeiros de quem se esconde...

Os pés hábeis de todos os que dançam...

Todos são pés sem dúvida alguma...


Os olhos dos que só enxergam o escuro...

Os outros que  luz demais acaba cegando...

Os olhos malvados que veem o mundo...

Todos são olhos sem dúvida alguma...


A boca que vive quase sempre vazia...

A boca que está quase sempre tão cheia...

A boca em beijos ou em tais obscenidades...

Todas são bocas sem dúvida alguma...


As narinas que sentem o cheiro das flores...

As narinas que pressentem aos temporais...

Ou narinas que sentem o cheiro da morte...

Todas são narinas sem dúvida alguma...


Os ouvidos que se assustam pela madrugada...

Os ouvidos que se drogam com sons urbanos...

Os ouvidos que se recolhem numa solidão...

Todos são ouvidos sem dúvida alguma...


A mente que não vai para lugar algum...

A mente que todo espaço é insuficiente...

A que estava presente no nascimento do caos...

Todas são mentes sem dúvida alguma...


O coração que parece um carro em fuga...

O coração que é quase igual a uma pedra...

O coração que mesmo num peito tem outro dono...

Todos são corações sem dúvida alguma...


Os sonhos flutuam por todo ar existente...

Os sonhos também se escondem numa caverna...

Os sonhos são mais reais e gritam nas praças...

Todos são sonhos sem dúvida alguma...


As paredes brancas manchadas de preto

A velha chuva que muitas vezes caiu...

São diversos ventos soprando sempre

Para um cortejo de milhares de folhas...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Samba do Macaco Maluco

Nem tem a neném. Tadinha. Tava com fome.

Lá no Recreio não tem recreio. É muito mais feio.

Bagulho é frene mermão. Sarta dibanda alemão.

Olha qu'eu caio seu Caio. O marido da saia é o saio.

E o marido da pedra é o Pedro? O da seda é o cedo?


É cova na parede. Tadinha. Nem viu mais nada.

É na Tijuca que mora a cuca. Luca tá mais maluca.

Fagulha no olho cega. Cheiro de merda não nega.

Comi um salgado quase pelado. Essa fé meteu o pé.

Quem some já tá sumido? Quem cumpre já tá comprido?


Daqui mais três anos. Tadinha. Vai pra outra caixinha.

Eu venho de um antigo desenho. Só tenho o seu desdenho.

Penico de barro enferruja. A nossa morte é a dita cuja.

A fala rasgada pobre coitada. Todo barão perdeu a razão.

Quem pede esmola esmola? Quem faz o solo sola?


O macaco pegou o trabuco! Ficou maluco?

O macaco tomou o suco! Ficou maluco?

O macaco fugiu pra Pernambuco! Ficou maluco?

O macaco bateu no macuco! Ficou maluco?...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Sanduíche de Palha

 

Hermeticamente guardado em latas de metal comestível,

A nova sensação do momento decorridos mais de duzentos anos,

Estamos totalmente embriagados sem beber uma gota sequer,

Minha confusão beira à beira da loucura sem explicação alguma,

São tantos cabelos castanhos que agora ficaram embranquecidos,

A nova demônia aprender a fazer muitas caretas para mim,

Faça chuva ou faça sol, o dia é sol de diversas máscaras,

Hoje o almoço é tijolo porque ontem a janta foi até cimento,

Não nos preocupemos com a forma que a fôrma deu forma,

São tantos os brincos que acabaram azedando nas orelhas,

Não vou dar nem um pio da piada que veio sem ter piedade,

Se tomar xarope enriquece então nunca mais eu quero tosse,

Na estrada até tem mel e as abelhas tomam conta de tudo,

Meu único desespero é agora não estar mais desesperado,

Se o mundo realmente fosse um moinho não haveria mais pão,

A sabedoria é um prato cheio que acabou de cair no chão,

Sou apenas mais um e isso me bastou pela vida inteira,

Mais vale um verso na mão do que uma estrofe ruim na rede,

Dançaremos xaxado na nova piscina desta nossa caatinga,

Com papel e cola e tinta de caneta redesenharemos o mundo,

O velho de óculos acabou de chegar de nenhum lugar aí,

A genética brigou com a estética e nunca mais se falaram,

Quanto mais eu tento ficar simples é que me complico mais,

Mentir é só uma questão de podermos abrir nossa boca,

Quando eu chegar de viagem prometo não lhe contar nada,

Como seu sanduíche bem quietinho engolindo de uma vez...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Todo Coração É Uma Lápide

 

Todo coração é uma lápide. Acredite nisso.

Ali estão gravados todos os sonhos mortos.

Um dia foram vivos. Agora não são mais...


Toda vida é uma teima. Não há outra forma.

Com tantas necessidades inventadas ou não.

Mais de uma via-crúcis. Cada um na sua...


Todo amor é um risco. Como roleta-russa.

Eis o veneno - coloque depressa no copo.

Beba de uma vez. Todo desamor mata...


Todo coração é uma lápide. Acredite nisso.

Ali estão gravados todos os sonhos mortos.

Um dia foram vivos. Agora não são mais...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Tosco

Apaguem o sol

Acendam a lua


Mesmo que o relógio não saiba

Mesmo que o tempo se engane

Mesmo que a areia se apague

Estou tão sozinho no universo


Eu faço uma qualquer alquimia

Com cacos de vidro ferindo

Com espinhos me desenhando

A pele que não mais importa


Mesmo que a nuvem vire fogo

Mesmo que o fim seja agora

Mesmo que ela não seja bonita

E meus pecados queiram mais


E junto toda a lenha possível

Para uma fogueira inexistente

Para me atirar dentro dela

Com quem vai para piscina


Mesmo sendo um estranho

Mesmo aguardando pelo pior

Mesmo que a porta se feche

E a palavra que dei errou


Não temos mais profecias

E as dádivas estão mortas

Só temos esta água suja

E a nossa gula mais normal


Mesmo se o cão me morder

Mesmo se o gato me arranhar

Mesmo quando a loucura chegar

E me der seu abraço apertado


Não tenho fama alguma agora

A comida está faltando no prato

Os olhos só enxergam de perto

As regras são os ossos quebrados


Mesmo que meu poema demore

Mesmo que seja viúvo tantas vezes

Mesmo que o rebanho não veja

E que todos pulem para o abismo


E que sejam as palavras toscas

E que todos meus gestos também 

Qualquer dia desses alguém veja

A verdade mesmo não agradável


Apaguem a lua

Acendam o sol...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 16 de agosto de 2025

Isto Também É Poesia

Isto também é poesia... Isto é...

A primeira ave que canta quando clareia o dia

Interrompendo seu humilde sono 

Que foi em um galho qualquer...


Isto também é poesia... Isto é...

A barata correndo esquiva de um canto a outro

De um quarto quase que sujo

Para poder não ser pisada...


Isto também é poesia... Isto é...

O cigarro que morreu no cinzeiro que está pousado

Numa mesa como nave espacial

E vai ser limpo se estiver cheio...


Isto também é poesia... Isto é...

Os passos dos loucos que perambulam pelo meu bairro

Sem noção alguma porque o fazem

E até podem sorrir mesmo que tristes...


Isto também é poesia... Isto é...

As roupas velhas e rasgadas como se fossem bandeiras

Penduradas por quintais pobres

Que vestirão seus futuros cadáveres...


Isto também é poesia... Isto é...

O sorriso do menino que encontrou um real jogado na rua

Sua alegria é tão bem parecida

Como quem pode comprar o mundo...


Isto também é poesia... Isto é...

A mãe que levanta com seu filho mamando em seu seio

Para abrir a porta pro pai da criança

Que chegou vivo do trabalho no barraco...


Isto também é poesia... Isto é...

A multidão que grita protestando pelas ruas da cidade

Para que a maldade se acabe

E que todos possam ser iguais...


Isto também é poesia... Isto é...

A bondade do coração de uma puta barata de rua

Que pagou um salgado e um suco

Para o velho mendigo que nada pediu...


Isto também é poesia... Isto é...

Qualquer nota que foi escrita em sincero

Ou um coração na casca da árvore

Ou um epitáfio mais do que triste...


Isto também é poesia... Isto é...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Folhas Para O Chá

(A vontade de ir ao banheiro, um incentivo como qualquer outro. A saudade mórbida, um sintoma do pobre paciente)...

Até o silêncio tem seus berros! Até o silêncio tem seus berros! Tem sim...

Lembro-me quase bem de coelhos que não eram coelhos, corriam num círculo desesperado em noites barulhentas, frias e inocentes que a eternidade levou e que jamais vão voltar... Fui testemunhar ocular de feitos banais e heroicos que poderiam ter valido manchetes em revistas de colorido desbotado e não foram...

Até o pecado tem sua inocência! Até o pecado tem sua inocência! Ah, tem sim...

O que fomos um dia, não o seremos mais, mesmo um segundo entra na conta dessa roda de Sansara sem karma algum... Pode rir de mim à vontade, eu não ligo, uma hora chega a sua vez de ser atingido pelo tiro da velhice e do ridículo que acerta todos sem pena e sem dó algum...

Até o medo tem seus limites! Até o medo tem seus limites! Ah, e como tem...

Nossos cinco sentidos são cinco inimigos amistosos que colocam o pé na frente e que fingem se lamentar por nossa queda, até nos ajudam a levantar... Houve a colisão de dois carros de brinquedo, acidente muito sério, como toda brincadeira sempre é, mesmo que não aparente tal fato...

Até a nudez tem seu vestido! Até a nudez tem seu vestido! Não duvide, como tem...

Acabei virando o mestre de minhas tolices mais que absurdas, porém as mais simples que existem... Um cão late lá longe, deve ter insônia, pobre coitado e eu aqui ainda posso sentir aromas mesmo inexistentes, afinal cada dia deu sua contribuição...

As folhas secas e trituradas esperam na caixinha a água fervente para o chá! As folhas secas e trituradas esperam para o chá! Ah, isso esperam, esperam sim...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Tá Não?

Tá não?

Olha o gigante anão!

Quem tem dinheiro

Vai no banheiro

Limpa com a mão!


Tá não?

O gato mia feito cão!

A linda donzela

Foi na favela

Foi rodar pião!


Tá não?

Eu me casei de calção!

Quase que engulo

Olha que eu bulo

Nesse teu bundão!


Tá não?

Só quero ter um milhão!

Meu advogado

É cara safado

Me afogou no chão!


Tá não?

Vaca braba boi bumbão!

Essa foi a sobra 

Do pé da cobra

Calcinha pro varão!


Tá não?

Vou rezar pro deus-televisão!

Nós raspou pentelho

Com o aparelho

Que comprei na liquidação!


Tá não?

Filhote de blusa é blusão!

Lá vem seu Bibico

Trouxe um pinico

Pra fumar um bão!


Tá não?

Fui num cabaré fazer oração!

Achei uma meleca

Bem na minha cueca

Chorei de emoção!


Tá não?...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Aos Caçadores de Cabeças

Cace minha cabeça

E não se esqueça

De fincá-la numa estaca no caminho

Vai ficar tão bonitinho...


Grite na escuridão

Até a exaustão

Até acabar com o meu pobre sono

Diga que é meu dono...


Me deixa sem resposta

Todo mundo gosta

Finja que não me conhece na rua

Isso é bondade sua...


Aponte  na minha cara

Se puder dispara

Agora é normal não ser mais normal

É quase um carnaval...


Me pega e pinta e borda

No pescoço a corda

Quem sabe eu precisa de carpideira

Ou outra besteira...


Cospe no meu copo

Olha que eu topo

Todo vivente é um masoquista

Chamem o analista...


Cace minha cabeça

E não se esqueça

De fincá-la numa estaca no caminho

Hoje eu quero vinho...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

De Marca

Essa é a nulidade desde os primórdios

Nós só queremos o que não queremos

E isso é que nos satisfaz

Para onde vai tudo isso?


São esses os prédios que não são nossos

Cercados de muros feitos para desabar

O amanhã é o mesmo ontem

Onde estará nosso relógio?


Dançar sobre cacos de vidro é nova moda

O engolidor de espadas me deu um lanche

Voar como se fosse uma anêmona

Os vermes precisam ter asas?


Fazer silêncio no nosso próprio funeral

Tudo que vi e que não vi já me basta

Não há fantasmas suficientes

Quem vai apertar o botão?


Toda fama escorrerá feito água na calçada

Só as lápides testemunham as nossas sagas

Eu nem sei quem sou agora

Quem descobrirá isso por mim?


As sextas apenas são convulsões de sábados

E os domingos chegam querendo nos matar

Toda a ingratidão nos cerca

Você gosta de roupa de marca?...


(Extraído da obra "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Absoluta Mente

A vodca mais barata do mercado.

O energético também.

Nem toda a estética é pra ser entendida.

Toda razão acaba existindo.

Só conhecemos o que vem na tela.

Mosquitos matam mais do que guerra

Mas a mentira é sempre o prato do dia.

Sungas de marca vendidas na feira.

São tantos gritos.

Jogar algo fora é apenas jogar.

Nossa ignorância é sempre bem-vinda.

Todo mundo já mijou na piscina.

A fome pode ser mais triste que a morte

Mas as novelas cegam bem mais olhos.

Só conseguimos reparar na sua bunda.

É o mais comum.

Qualquer uma hora dessas o avião cai.

Vamos para a felicidade na hora do lanche.

A tumba do faraó é atração turística.

Uma nave espacial pousou  no meu quintal

Mas eu não tive tempo de fazer um rock.

Eu me xingo tanto em frente ao espelho.

Quase um costume.

Uma tontura chega quase de mansinho.

Há muitas palavras que eu me esqueci.

Nem me lembro mais quando bebi alguma.

A minha mente não deixa rastros

Mas só vez em quando fico rindo sozinho...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 357

Tudo muda

Nada muda

A aparência é simples engano

Somos as mesmas crianças

Como sempre fomos e seremos

Temos estrelas

Somos estrelas

Só os lugares é que mudam

Ainda não percebeu isso?


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Ainda bem que eu quase não passo mais lá. Meus pés estão cansados. Minha alma está cansada. Bastam as tristezas que os dias me dão de presente. Mesmo que o mar fique no final da rua. Isso já importou. Não me importa mais. Importa para tanta gente. Não eu. Os bolsos estão tão cheios de lembrança. Portão fechado. Plantas invasoras. Janelas escancaradas ou arrancadas, Tanta poeira, entulho e lixo. Os anos se passam. O apetite do tempo é tão voraz. Não posso fazer nada, ninguém pode. Ainda bem que eu quase não passo mais lá...


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Minha rua se chama silêncio

No inverno até os medos se recolhem

Se porventura chove cada gota dói

As lâmpadas dos postes pouco fazem

Qualquer barulho jaz sufocado

Escuto um avião passando ao longe

Mas ele também já foi embora

Minhas pálpebras ainda pesam

Mas permanece a dúbia teimosia

De continuar em frente ao computador...


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Aconteceu? Virou acontecimento! Eis porque o nada se transforma em alguma coisa. Uma palavra ecoou no ar - acabou o silêncio. Um pássaro cantou - eis uma cantoria. No primeiro olhar nasceu o amor - eis o novo romance, ocorrendo ou não. O primeiro suspiro ou o último - eis uma história. Aconteceu? Virou acontecimento...


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Quantas vezes terei de repetir que te amo?

E que a impossibilidade desse amor é apenas detalhe?

Que não queria invadir sua vida mas que você fez isso comigo?

Quantas vezes terei que fazer o mesmo verso?

E terei de dizer que não preciso de asas para voar?

Quantas vezes os meus sonhos irão me ajudar a fazer isso?


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Toda normalidade acaba sendo excepcional. Todos os passos dados ficam registrados. A mesma luz do sol que ontem iluminou continua seu caminho. Somos grandes enganados. Nada realmente acaba. A eternidade sabe se disfarçar muito bem. Tolos é o que somos. Nem percebemos que a vida registra todas as cenas...


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O espelho é meu amigo...

Não fala nada, nunca me criticou...

Tão solidário!

Se rio, ri comigo;

Se choro, também chora...

E nunca reclama

Quando vou embora de repente,

Sem lhe dizer um até logo...

Ah! Isso Pra Mim É Tira-Gosto...

Ficar alguns dias sem comer? Achar que isso é vida e apenas sobreviver? Querer falar e ter que ficar calado? Ser inocente e ter que se passa...