sábado, 27 de agosto de 2022

Inglório ou O Rei Está Nu


Para cada tristeza tenho uma maior

Olho sorrateiramente tudo em minha volta

E solto um suspiro digno de um romance

Nada está bem nada está bem nada está bem...

Pelo menos poderia haver 

Mais um pouquinho de tragicidade

Se meus gestos não absorvessem essa silêncio

Que quebra tudo ao redor feito um martelo...

Eu faço algumas rimas mais impossíveis

Transmuto banalidades feito alquimista

A festa não acabou porque nem começou

Com solenidade vou deglutindo a solidão...

Os sonhos escorreram entre dedos

Como as areias que sempre assim foram

Areias que por onde passam ferem

Deixando nossos cadáveres insepultos...

Eu não sou o menino e acho que nunca fui

Sou algo que nem eu mesmo sei o que é

E o dia em que descobrir talvez seja tarde demais

Porque pode ser essa descoberta a própria morte...

Não sou eu quem vai dizer a duração da peça

Mas posso sim virar as costas para a plateia

Esperando que todas as palmas ou vaias cessem

Assim como todas as chuvas acabam acabando...

Vejo ainda a silhueta daquelas mais altas torres

Castelos que fizeram minhas mãos sangrarem

Só não me lembro mais quando eu os fiz 

Quanto sangue foi o preço que paguei por eles

E agora não sou rei de mais nenhum reino...

Todas as histórias que contei perderam o sentido

As fogueiras que acendi estão mortas há muito

E o meu acampamento um grande cemitério

Onde todas as batalhas já foram perdidas...

Talvez seja apenas mais um desses meus delírios

Essa música que escuto tocar bem ao longe

Não distingo sua letra mas engulo sua música

Ela desce rasgando em minha pobre garganta

Como uma cachaça que pedi no bar da esquina...

Não há chuva mas continua a chover ninguém repara

Todos nós de uma forma ou outra furamos os olhos

E a apatia nos atrela à carroça do destino

Até que a exaustão acabe conosco de uma vez...

O rei agora está nu e ninguém viu isso...

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Poesia Gráfica LXXXVI

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