Uma chuva enigmática invade a manhã
talvez esteja cobrando esse inverno pálido...
Eu tenho um álbum agora sem figurinhas...
As poucas máquinas agora fazem seu ruído
mas se vingarão de nós durante o dia...
Hoje é um dia especial por ser tão comum...
Cães e desabrigados tremem sob as marquises
até a miséria virou uma certa conquista...
As manchas na parede são como hieróglifos...
Eu acendo um cigarro na esperança triste
de que isso explique minha morte acelerada...
Meu PC agora brinca de fazer feitiços...
Vejo o brilho de uma lâmina inexistente
me transformei num expert de fazer ilusões...
Eu procurei numa loja varinhas-de-condão...
O paciente deu alguns sinais de vida agora
e o samba-enredo se transformou em filosofia...
Meu gato acabou cursando o mestrado...
Sou invisível em minha falsa modéstia
assim como todas as montanhas do Tibet...
A puta gritou do gozo que não teve...
E o bêbado sorriu todos os sorrisos do mundo
para poder mostrar os seus dentes cariados...
Eu aprendi a imitar um pássaro que não canta...
O jantar será servido impreterivelmente
quando o relógio da estação marcar meio-dia...
Estamos cansados de ficarmos cansados...
A baiana tem um forte sotaque carioca
vendendo bolos de pote na saída do metrô...
O papel está em falta para reconstruir as naus...
Eu não sei mais o que fazer nesse meu ócio
quando me sobra tempo demais para nada...
Costumo fazer muitas emboscadas para mim...
A minha gramática acabou torcendo o pé
e agora seus xaxados somente são mentais...
Eu sou um grande mestre de imbecilidades...
Não escutarão meus berros de fundo de baú
mesmo quando ele está com a tampa aberta...
Eu tenho um álbum agora sem figurinhas...
Uma chuva enigmática ainda estraga a tarde
talvez esteja chorando nesse inverno pálido...
Nenhum comentário:
Postar um comentário