Para cada tristeza tenho uma maior
Olho sorrateiramente tudo em minha volta
E solto um suspiro digno de um romance
Nada está bem nada está bem nada está bem...
Pelo menos poderia haver
Mais um pouquinho de tragicidade
Se meus gestos não absorvessem essa silêncio
Que quebra tudo ao redor feito um martelo...
Eu faço algumas rimas mais impossíveis
Transmuto banalidades feito alquimista
A festa não acabou porque nem começou
Com solenidade vou deglutindo a solidão...
Os sonhos escorreram entre dedos
Como as areias que sempre assim foram
Areias que por onde passam ferem
Deixando nossos cadáveres insepultos...
Eu não sou o menino e acho que nunca fui
Sou algo que nem eu mesmo sei o que é
E o dia em que descobrir talvez seja tarde demais
Porque pode ser essa descoberta a própria morte...
Não sou eu quem vai dizer a duração da peça
Mas posso sim virar as costas para a plateia
Esperando que todas as palmas ou vaias cessem
Assim como todas as chuvas acabam acabando...
Vejo ainda a silhueta daquelas mais altas torres
Castelos que fizeram minhas mãos sangrarem
Só não me lembro mais quando eu os fiz
Quanto sangue foi o preço que paguei por eles
E agora não sou rei de mais nenhum reino...
Todas as histórias que contei perderam o sentido
As fogueiras que acendi estão mortas há muito
E o meu acampamento um grande cemitério
Onde todas as batalhas já foram perdidas...
Talvez seja apenas mais um desses meus delírios
Essa música que escuto tocar bem ao longe
Não distingo sua letra mas engulo sua música
Ela desce rasgando em minha pobre garganta
Como uma cachaça que pedi no bar da esquina...
Não há chuva mas continua a chover ninguém repara
Todos nós de uma forma ou outra furamos os olhos
E a apatia nos atrela à carroça do destino
Até que a exaustão acabe conosco de uma vez...
O rei agora está nu e ninguém viu isso...