segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Ninguém Via

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Em calçadas. Em ruas. A miséria diletante distribui seus panfletos e ninguém liga. Há muita pressa e os corações já caíram pelo chão. Não temos tempo algum! Nossas futilidades são suficientes para nos ocupar! Acabou até o tempo de dormir e sonhar.
Perfeitas poses de cada um por si. O lixo não é problema nosso enquanto honrados cidadães. Cumpridores de suas tarefas de casa que nenhum professor nos passou. Ser humano não é mais ser humano. E a antiga retórica foi dar um passeio e ainda não voltou.
Não retiro meu nome desta lista. Os pequenos grãos já fogem de minhas pobres lentes. Não há mais diferença entre bondade e maldade. E nossos novos filósofos não pregam mais dúvida alguma. Quem viver verá ou não. É muito frio para tantos cobertores.
Desconheço porque fico tão zangado. De nada adianta escutar os avisos do rádio velho. Figurinhas são recortadas com tesouras de bico redondo. Analogicamente comportados e digitalmente sem rumo algum. Quantas vezes! E por sua vez em vez nenhuma.
Chamem a polícia! Socorro! Há um homem honesto por aqui. Mau-exemplo para nossas crianças. A sua fala tem o decoro de alguns dias atrás. A minha pressão não é mais arterial. Ou acho que ela nunca foi. Os bodes não expiam mais nossos pecados.
Eu quase desejei coisas erradas. E abri as portas da caverna onde escondia alguma qualidade. Façam-me o favor! Não me façam favor algum. A indiferença acabou de chegar na cidade. E tem muito em estoque.
Era um cobertor vermelho em dia de quase-sol. E um par de muletas encostadas na parede. E uma chaga aberta sobre a pele negra de bastante anos. Não há cheiro. Não há cor. Tudo cobre a nossa santidade mesquinha. Algumas moedas para o café e basta. Quinhentos mililitros de aguardente já fazem o céu. E até os cães vira-latas estão cansados de abanar o rabo.
Mais um pouco e eu me completo. Já aprendi à rir nos funerais. Correr da coragem que se anuncia. Cinicamente correto. Os símbolos se inverteram no manual do velho alquimista. E minha loucura se tornou a mais apresentável possível. 
Qual o tamanho do tamanho? Qualquer tamanho para o que se faz. Nenhum tamanho para o que se fez. Os bordados estão em promoção. Eu tomo mais um gole de refrigerante pensando em nada. Consegui em alguns minutos mais que milhares de iogues. Não tenho suor em minha testa. Minha alma desconhece limites para a nossa idiotice.
Como era gostoso o meu inglês! E mesmo sem misturar. Eu ainda misturo. Numa loja de tinta achei um deus. E as flores que estavam quase caindo de drogadas. Todos os meses tem suas próprias facetas. Não posso falar de sinceridade. Isso mata como sempre matou. O nome é outro. Meu sexo endureceu por rigor-mortis. 
Desculpe aqui qualquer coisa sem querer. Eu só queria ser um assassino mais feliz. A roleta-russa não é mais ruça. E acabaram roubando a escada de Jacó. Suas madeixas parecem labirintos de fáceis soluções. 
Em calçadas. Em ruas. Até míseros poetas de rimas contundentes tentam disfarçar seu falso engajamento. Desculpe gajo. Desculpe gaja. Ofensas são agora rotineiras. Eu quero novidades! E um semblante que se pareça com todos os outros. Palavras não são apenas palavras. São mais um maço de cigarro e uma cana das boas. Até que os profetas cheguem com seus camelos enfeitados de turistas.

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

3 comentários:

Carliniana XLIV (Tranças Imperceptíveis)

Quero deixar de trair a mim mesmo dentro desse calabouço de falsas ilusões Nada é mais absurdo do que se enganar com falsas e amenas soluçõe...