sábado, 29 de setembro de 2018

Carta para Julinho

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Meu caro Julinho:
Primeiramente, desculpe a demora das linhas deste velho poeta. Eu sei que as distâncias são eliminadas com os nossos tempos, mas continuo o mesmo de muitos anos atrás, em que até pequenas coisas pesam para um coração cansado. Eu sei que a tecnologia é um cavalo veloz correndo em um grande espaço aberto, mas a inspiração ainda anda de pé e, algumas vezes, me visita diariamente e, em outras, deixa de dar notícias seguidos dias e isso me irrita e entristece bastante...
Como estás? Soube que estás de férias e dormes muito... Tens sonhado muito? Os verdadeiros sonhos são sempre bons, são alimento para a alma, preenchimento para o coração dos homens, mais reais até do que a própria realidade. 
Veja bem, nos sonhos estão contidos os bens mais preciosos que podemos ter. Neles está o amor, algo mais duradouro que o próprio tempo, maior do que o espaço. Que não conhece obstáculos, que não conhece barreiras e que tudo vence. Junto ao amor, vem a esperança, a maior herança que podemos ter. Ela nos leva adiante e mesmo a morte não consegue vencê-la.
Sonhe sempre. Mesmo nos momentos mais difíceis que a nossa existência possa oferecer... Aliás, se me permite, deixe eu contar uma coisa: é um engano achar que todas as dificuldades são ruins, algumas até são muito boas, é com elas que aprendemos ser muitas coisas que de outra maneira nunca conseguiríamos.
Como vai sua cidade? Qualquer dia destes eu aterrizo por aí. Prepare o coração de todos para que não levem um susto. Eu sou um velho que o tempo não conseguiu envelhecer, os versos conservaram o que mais tinha de precioso, as minhas loucuras ainda continuam com sua dança e ela nunca vai terminar...
Sou alguém muito curioso e gosto de ver terras novas, respirar outros ares e isso ainda me faz muito bem. Teremos horas de intermináveis conversas e o nosso riso deverá ser maior do que nunca foi antes.
Desculpe novamente a minha demora, os poemas são pessoas muito exigentes e, nem sempre, obedecem seu lugar na fila. A inspiração é uma louca que vem nos visitar nas horas mais improváveis e a imaginação, mais louca ainda, acorda-nos dos mais profundos sonos com seus berros, sem se importar com aquele nosso cansaço.
Continua escrevendo? Isso é muito bom, a vida é feita de muitas e muitas cartas, algumas são para ser lidas por todas, outras esperarão seu momento certo para saírem por si mesmas da gaveta e despertarão o mundo. Fico muito feliz com isso.
Uma outra coisa que preciso falar. É sobre o medo e a dúvida. São coisas bem comuns na sua idade, mas nas outras também. Saiba como usá-los nos momentos certos. Do medo nasce a coragem, os labirintos precisam ser percorridos e não há outro jeito. Da dúvida é que a nasce a certeza, nos conformamos com algumas coisas é até bom, mas nos conformamos com tudo é insano. 
Podemos modificar o mundo da forma mais correta e certeira - mudarmos a nós mesmos. Nós somos a nossa própria salvação ante o abismo, só nos conhecemos a extensão dos nossos erros e dos nossos acertos.
Eu gostaria até de falar mais coisas, gostaria que esta carta fosse bem mais longa, mas quem sabe? muitas poderão vir, em forma de linhas ou apenas em sinais de afeto e amizade.
Por aqui os tempos não andam bons, mas quem sabe um dia melhoram...
Do seu amigo, 
                       Carlinhos de Almeida (Poeta).

(Para Júlio Morikawa Filho, Poeta)

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