sábado, 29 de setembro de 2018

Tantos Rios

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Tantos rios que correm por aí...
e o meu destino? nem vi...
só sei que vão por aí à fora...
sem pressa... mas sem demora...
e vão levando meus dias...
e junto as minhas alegrias...
e  eu só posso é olhar...
um dia chegarão lá no mar...
tantas curvas que fazem...
muitos destinos jazem...
muita coisa já é levada...
pouco sim... e muito nada...

Tantos rios que correm por aí...
e o meu sonho? nem percebi...
só sei que sinto tristeza agora...
é uma saudade... que me devora...
e as minhas mãos estão vazias...
dedos parados... as carnes frias...
e eu só posso é chorar...
onde não sei onde vai dar...
tantas recordações trazem...
que falta que me fazem...
muita questão já encerrada...
pouco sim... e muito nada...

Talvez Sim, Talvez Não

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Somos todos vítimas deste jogo
Tudo não passa de um grande logro
Quem mata vai morrer amanhã
Quem descansa terá o seu afã

E à todo instante somos traídos
Por algum dos nossos cinco sentidos
Nada mais que humana condição
Talvez sim, talvez não...

Há por aí muitas roletas russas
Cuidado com um tiro nas suas fuças
A verdade não tem nenhuma delicadeza
A sorte está lançada! As cartas na mesa

Pode ser até que isso faça parte
E sobreviver seja a nossa maior arte
Nem todo amor vem com a paixão
Talvez sim, talvez não...

Não fomos nós que fizemos isto
É que o imprevisto já estava imprevisto
Eu acabei de ver a notícia no jornal
Quem sabe amanhã tenha carnaval

Mesmo chorando eu ainda vou rindo
Como são nossos balões que vão subindo
O breu que cai clareia a escuridão
Talvez sim, talvez não... 

Carta para Julinho

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Meu caro Julinho:
Primeiramente, desculpe a demora das linhas deste velho poeta. Eu sei que as distâncias são eliminadas com os nossos tempos, mas continuo o mesmo de muitos anos atrás, em que até pequenas coisas pesam para um coração cansado. Eu sei que a tecnologia é um cavalo veloz correndo em um grande espaço aberto, mas a inspiração ainda anda de pé e, algumas vezes, me visita diariamente e, em outras, deixa de dar notícias seguidos dias e isso me irrita e entristece bastante...
Como estás? Soube que estás de férias e dormes muito... Tens sonhado muito? Os verdadeiros sonhos são sempre bons, são alimento para a alma, preenchimento para o coração dos homens, mais reais até do que a própria realidade. 
Veja bem, nos sonhos estão contidos os bens mais preciosos que podemos ter. Neles está o amor, algo mais duradouro que o próprio tempo, maior do que o espaço. Que não conhece obstáculos, que não conhece barreiras e que tudo vence. Junto ao amor, vem a esperança, a maior herança que podemos ter. Ela nos leva adiante e mesmo a morte não consegue vencê-la.
Sonhe sempre. Mesmo nos momentos mais difíceis que a nossa existência possa oferecer... Aliás, se me permite, deixe eu contar uma coisa: é um engano achar que todas as dificuldades são ruins, algumas até são muito boas, é com elas que aprendemos ser muitas coisas que de outra maneira nunca conseguiríamos.
Como vai sua cidade? Qualquer dia destes eu aterrizo por aí. Prepare o coração de todos para que não levem um susto. Eu sou um velho que o tempo não conseguiu envelhecer, os versos conservaram o que mais tinha de precioso, as minhas loucuras ainda continuam com sua dança e ela nunca vai terminar...
Sou alguém muito curioso e gosto de ver terras novas, respirar outros ares e isso ainda me faz muito bem. Teremos horas de intermináveis conversas e o nosso riso deverá ser maior do que nunca foi antes.
Desculpe novamente a minha demora, os poemas são pessoas muito exigentes e, nem sempre, obedecem seu lugar na fila. A inspiração é uma louca que vem nos visitar nas horas mais improváveis e a imaginação, mais louca ainda, acorda-nos dos mais profundos sonos com seus berros, sem se importar com aquele nosso cansaço.
Continua escrevendo? Isso é muito bom, a vida é feita de muitas e muitas cartas, algumas são para ser lidas por todas, outras esperarão seu momento certo para saírem por si mesmas da gaveta e despertarão o mundo. Fico muito feliz com isso.
Uma outra coisa que preciso falar. É sobre o medo e a dúvida. São coisas bem comuns na sua idade, mas nas outras também. Saiba como usá-los nos momentos certos. Do medo nasce a coragem, os labirintos precisam ser percorridos e não há outro jeito. Da dúvida é que a nasce a certeza, nos conformamos com algumas coisas é até bom, mas nos conformamos com tudo é insano. 
Podemos modificar o mundo da forma mais correta e certeira - mudarmos a nós mesmos. Nós somos a nossa própria salvação ante o abismo, só nos conhecemos a extensão dos nossos erros e dos nossos acertos.
Eu gostaria até de falar mais coisas, gostaria que esta carta fosse bem mais longa, mas quem sabe? muitas poderão vir, em forma de linhas ou apenas em sinais de afeto e amizade.
Por aqui os tempos não andam bons, mas quem sabe um dia melhoram...
Do seu amigo, 
                       Carlinhos de Almeida (Poeta).

(Para Júlio Morikawa Filho, Poeta)

E Nós Morremos

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Nós morremos... Quando no céu não voam os pássaros que animavam o dia... Quando suas canções se calaram... Não há mais alguma alegria... Só a tristeza nos acompanha...
Nos faltam os motivos para dançar... Faltam ensejos para sorrir... Tanto nosso corpo quanto nossa alma parados estão... Tanto faz se há maldade ou não...
Nós morremos... Quando as novidades passam desapercebidas... Quando a rotina acaba nos envenenando... As cores se transformam num só cinza sem mais graça... Eis aqui o condenado e ninguém chora mais por ele...
Não queremos mais seguir qualquer caminho... As feridas não mais nos impressionam com sua dor... Perdemos o medo de qualquer paixão... Não damos mais atenção aos sinais de perigo...
Nós morremos... Quando concordamos com qualquer besteira... Nossa loucura é igual à qualquer outra... Os dias são apenas passageiros que andam na fila... Nossos cinco sentidos são meninos bem comportados...
Olhamos para a escuridão sem mais receio... Passamos a aceitar aquilo que não entendemos... Nossa vontade é que a festa logo termine... Um beijo em nossas faces só incomoda...
Nós morremos... O afeto se transforma em desafeto... As traições acontecem e mantemos toda a calma... As feras foram soltas e nem olhamos... Nós damos boas vindas ao tédio...
O nada agora faz parte do nosso calendário... Apagamos os enigmas dos nossos cadernos... Agora as perguntas são evitadas... A dúvida pagou a conta e foi embora... Não há mais diferença entre aqui e ali...
Nós morremos... Toda vez que o encanto acaba... A ternura escapa... A solidão é a única solução... Damos a língua para o medo... Nossa coragem é o desespero... Nossa vontade já vem prescrita... Leia as instruções do manual... Vide bula...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Uns Olhos

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Uns olhos, os meus, os teus, os meus quase tortos, os teus com adeus... E quanto mais a distância me dá algumas palavras, mas dói todo o pouco que tenho. Perco a noção d'eu mesmo, nem sei de onde é que venho...
Uns olhos, os meus, os teus, os meus quase inocentes, os teus quase malvados... E em notícias que não acredito tudo vira fumaça. E vão conselhos me dão. Mas por mais que deem remédio a dor quase não passa...
Uns olhos, os meus, os teus, os meus quase infinitos, os teus quase no chão... Eu quero um dia na vida satisfazer as paixões. Não tenha pena ou dó de mim. Não adianta os jardins se dispararam os canhões...
Uns olhos, os meus, os teus, os meus estão escondidos, os teus vivem na rua. Os meus querem o veneno, os teus querem churrasco. Me dê logo a cerveja, pode chamar o carrasco...
Uns olhos, os meus, os teus. os meus dormem sem noite, os teus que dormem de dia. Só posso fazer feitiçaria. Quero a dor sem açoite. Ai, ai, meu Deus! Quem diria?...
Uns olhos, os meus, os teus, minhas visitas escondidas, os teus na solidão quase morta... Eu tenho medo, medo da vida, sem guarida, ainda cedo, por favor, não me aponte. Foi quase ontem, não abra a porta...
Uns olhos, os meus, os teus, os meus quase na loucura, os teus já enlouquecidos... A rua é escura, não há mais cura, os meus sonhos esquecidos, os meus combates estão vencidos. Não se queixe, me deixe...
Uns olhos, os meus, os teus, os meus quase fechados, os teus de soslaio... Eu caí, foi em maio, foi apenas um desmaio, foi por causa da tonteira. Nesse jogo só dei bobeira, besteira, pulei do fogo, fui pra frigideira...
Uns olhos, os meus, os teus, os meus de azul mudaram, os teus de castanho igual... Aqueles sonhos me enganaram, talvez eu morra no carnaval. Guardem o confete, esqueçam a serpentina. Ninguém promete, é só a sina, ninguém se mete, só a menina...
Uns olhos, os meus, os teus, os meus os teus, os meus quase mortos, os teus sem dizer adeus...

Não Há

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Não há estrada, não há escada
Que nos leve certamente,
A semente está lançada,
Mas o chão está doente...

Não há festa, não há fresta,
A luz entrando alegremente,
O que sobrou, o que resta,
Será sobra somente...

Não há mais nada que possa nos garantir,
Que a tristeza irá partir, ela irá embora,
Não temos tempo algum nem pra sorrir,
Nossas preocupações exigem sua demora...

Não há drama, não há trama,
Este é o mundo dormente,
Um mundo feito de água e lama,
O choro sempre presente...

Não há mais nada que nos acalante,
Algum silêncio tranquilo nos deixe dormir,
A vida é apenas mais aquele gigante
E nosso choro é apenas o seu divertir...

Não há escada, não há estrada
Que nos leve certamente,
Para a paz tão sempre esperada,
Algo que seja diferente...

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Poema Sem Nome

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Sem nome
aquilo que os meus olhos vêem
quando olho os seus
duas estrelas se acendem
e fazem tudo girar...

é a bailarina no palco vazio
que se deleita com a dança
mil cores escondidas numa só
e minha cabeça fica tonta
porque quer girar...

Sem nome
as curvas tuas que observo
com toda a máxima atenção
como os antigos alquimistas
trancados em seus calmos porões...

penso em quantas loucuras 
em vôos mais que rasantes
como os falcões lá no alto
em busca da presa perfeita
em cálculos mais calculados...

Sem nome
vazio em mim mais que abismo
como vazios os fins dos carnavais
com esperança feito desespero
tal tempestades pelo deserto...

eu te procuro flor sem nome
força maior que meu oxigênio
e ainda que saia louco pelos caminhos
eu canto mais que os menestréis
e quem sabe um dia irei te encontrar...

Três Passos

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O passado já está passado.
O presente já é presente.
O futuro talvez seja futuro...
E talvez as coisas sejam mais cinzas que um dia triste em que apenas respiramos e mais nada. Somos o que somos, marionetes de nós mesmos, carregando nosso fardo de tolice nas costas. Culpados de nossa ilusão venenosa que homeopaticamente vai nos levando...
O passado já está passado.
O presente já é presente.
O futuro talvez seja futuro...
E a vida não é alguma firma, ela não tem setor de reclamações. Quando acontece alguma tragédia, aponte o dedo para o culpado. Se ela se repetir, aponte o dedo para si. Nossas gavetas estão cheias de absurdos e sempre temos vergonha deles...
O passado já está passado.
O presente já é presente.
O futuro talvez seja futuro...
Muitas águas é o que temos, algumas boas, outras nem tanto, algumas ruins. Depende de nós fazermos a dança da chuva ou os nos abrigarmos dela. Sonhar é permitido sempre, se iludir nunca. Isto é mais ou menos a diferença entre a calma e a preguiça, a esperança e a farsa...
O passado já está passado.
O presente já é presente.
O futuro talvez seja futuro...
Talvez nossos gritos não sejam em vão, nossos protestos sejam como sementes que caíram pelo chão e acabaram nascendo. O rebanho pula no abismo, pulemos só pela alegria. O desespero também sabe rir, mas aprendamos só fazer isso quando acharmos graça...
O passado já está passado.
O presente já é presente.
O futuro talvez seja futuro...
Que possamos respirar é o que nos importa, olhar a cadências das ondas que nunca cessam, a luz das estrelas que chegam até nós depois de milhões e milhões de milhas. Vamos fazer muitos versos, mesmo que fora do papel. Nossos sentidos falham, mas sua intenção até que foi boa...
O passado já está passado.
O presente já é presente.
O futuro talvez seja futuro...
Já esta na hora de guardar todos os meus passos, prender todas as recordações dentro do peito. Sou vadio através dos lugares, vagabundo de muitos jardins, coloquei minha mochila nas costas e vou por aí. Onde irei? Nem mesmo eu sei...
O passado já está passado.
O presente já é presente.
O futuro nem mesmo eu sei...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Dentes Covardes

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dentes covardes
que comem as carnes dos réus
sem ter alardes
vão logo invadindo os céus

dentes mesquinhos
bem tratados dentes burgueses
não estamos sozinhos
apesar de sermos as reses

dentes branqueados
com tudo o que se tem direito
para os conceitos errados
também se tem algum jeito

dentes atacantes
que ferem sem alguma piedade
estão aqui estavam antes
sempre é tempo de maldade

dentes assassinos
ferem o sagrado são profanos
choram os meninos
por todos os dentes humanos...

Entre Meios

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Meio tempo meio mudo
meia vida meia nada
entre tanto entre tudo
lá se vai desesperada

Meio golpe meio corte
meio gole meio cada
entre sono entre morte
é mais uma disparada

Meio cena meio gesto
meia vista meia estrada
entre mudez entre protesto
foi tudo grande mancada

Meio gato meio rato
meio disposta meio cansada
entre estrito entre lato
inda há choro na calçada

Meio servo meio dono
meia mãe meia namorada
entre todos entre abandono
onde vai dar a estrada?

Meio tempo meio mudo
meio vida meio cada
entre espinho entre veludo
não vai dar em mais nada...

Canção Mais Que Debochada

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Perdão, meu amor, sou meio debochado,
O mundo é assim, é certo e errado,
Vamos então levando tudo na flauta,
O que já passou não faz mais falta,
Tou doente, tou tendo uma febre alta

Pode ser a falta que me faz a cachaça
Ou então foi a piada que perdeu a graça,
Deve ser porque nunca fui bom motorista
E acabo sempre derrapando na pista,
Mas por favor, não me cale, não insista

Já tá na hora da boia, me dá o meu rango,
O samba me alegra, me entristece o tango,
Sou apenas um pobre poeta cheio de vícios,
Não consigo perder a vontade dos precipícios,
Onde vêem os finais, eu enxergo os inícios

Não exagera na pintura, eu tenho ciúme,
Já tou no alto, bem lá em cima, lá no cume,
Tem uns dias que estou com essa tonteira,
Desligue essa televisão, chega de besteira,
É tanta da mentira, parece pingo de torneira

Perdão, meu amor, sou meio debochado,
O mundo é assim, será que será consertado?
Vamos então levando tudo na flauta,
Pois a mentira no mercado está em alta,
Que saudade, como você me faz falta...

Pratos & Copos

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Pratos e copos por sobre a pia. Eu remendo o vento em muitas estações. As lebres possuem suas febres. São amigas de muitos senões. É o Estado que tem estado naquele estado. E me impressiono com as mais divinas impressões. Estou cheio de vazios enormes e até aí tudo bem. Conheço tantas almas, mas não conheço muitos lugares.
Carnavais existem muitos por aí. Fazer sandices pode ser contra-indicado para os que estão enganados. A verdadeira loucura se sucede em pequenos pontos adversos aos autógrafos e às ovações. Permeie em simples linhas, tudo estará assim acabado. 
Eu quero que os dias sejam maiores que os anos. Sóis gordos dando palestras de como se pode viver sem insônia. As plantas são sábias em sua enorme pressa. Tudo deveria caminhar com seus próprios passos, mas faltou a coragem suficiente para pular e voar.
Onde estamos? Num grande complexo de pequenos hospícios. Respeitem a vontade do cavalheiro ali. O freguês tem sempre razão mesmo quando ela foi embora indignada com os maldosos comentários. Melhor ser surdo do que falar de mesquinhas coisas.
Não reparem, por favor, não reparem. Meu curso com as aranhas é assaz demorado, mas um dia eu chego lá. Ainda testemunharei o começo e o fim de tudo, mas gostaria mesmo de estar no dia seguinte. 
Com mãos de veludo eu faço carícias impublicáveis. Nossa verdadeira natureza é naturalmente artificial. Levei tempos e tempos para decidir apenas um pequeno tom e ele fez toda a diferença; 
Quando tudo se acabará? Não faço ideia algum sobre tal assunto, mas conheço coisas que compensam tal falha. Sorrisos enganosos e enganados, muitos mesmo. A morte ainda dá seus pulinhos da mais pura contentação.
Esqueçamos Alice por um momento. Águas dançam funk ao ferverem e certas coisas abençoadamente não possuem explicação. Os filósofos andam cansados. Não reparem esse meu jeito sem jeito. Um dia realizarei meu grande sonho - faltar a voz perante a grande multidão aglomerada no Central Park para acreditar sucessivamente em minhas francas mentiras.
Não se importe com palavras desusadas. É só apertar um botão que o míssil dispara. Aí não tem mais volta. Eu tenho mais tentações que o velho Wilde, mas o que isso importa? Cada passo será medido, até os tropeções. 
Descobri certas verdades inquestionáveis: certos canecões velhos e sem alças valem mais que a coroa de muitos reais. Depende do cavalo, pangaré ou não. Que o diga o rei. Nem me lembro bem, mas lembro.
Nossa canção, uma vírgula! Tenho dentes pra roer essa broa de anteonte, meu cumpadi! Assim e assado, já foi mais do que falado, nem vem que tem segundo um grande filósofo de esquina e de bicicleta, com toda a certeza. Quanto mais se tem, se tem, teco na bola de gude não salva alma. Só acaba complicando.
É um esmero no desespero. Não tem mais não sei o que não sei aonde. Goela abaixo não dá. Nem goela acima, por falar nisso. Faz o batuque aí, sinhá vaca. O Morro do Sabão é desde quando. Carrinho lá de cima, desde os tempos da casa que não é mais. 
Um fósforo só e eu faço o serviço. Dispenso caixa e cerimônia. Duvida? Quem duvida perde a morte e os sais de banho já estão no caminho, pararam pra merenda, foi só isso. É soro de gota em gota e haja maxixe pra minha turma todinha. Rodilha na cabeça do safado e quando viu, não viu mais.
Permanece o impermanente. A pia cheia e a razão vazia...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Poemeto das Pequenas Ilusões

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Pequenas ilusões,
por que não tê-las?
Escuto as canções
vindas das estrelas...

Por aqui o mundo dói,
os homens morrem...
O tempo tudo destrói,
os dias sempre correm...

Sonhar não é fuga,
é ser rocha e resistir...
E até se vir a ruga,
aceitá-la e sorrir...

Pequenas ilusões,
por que não tê-las?
Eu colho as fulgurações
vindas das estrelas...

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Amor & Outras

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Amor - vida, morte
Amor - lida, sorte

Sobre meu coração morre um peito
É a vida que aos poucos se esvai
Não conheço o errado e o direito
Só conheço o meu sonho que cai...

Amor - vida, parte
Amor - lida, arte

Vou fazendo meus planos desvalidos
Os meus dias são a plena escuridão
Estão errados todos meus sentidos
Aquela minha estrela já caiu no chão...

Amor - vida , bruto
Amor - lida, luto

E nesse palco então vou encenando
Enquanto minha plateia está vazia
Não tenho febre mas vou delirando
Como é grande a minha noite fria...

Amor - vida, guerra
Amor - lida, terra

Acabaram-se os versos não há mais
Tudo rodopia e eu confundo tudo
Enquanto espero outros carnavais
Ó meu amor eu permaneço mudo...

Amor - vida, morte
Amor - lida, sorte...

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Mundo!

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Mundo! Grande receptáculo de loucos! Vinda sem explicação, os gametas se juntaram e eis! Almas e sonhos em conflitantes castelos em que as pedras acabam desmaiando em cada segundo...
Mundo! Bola girante na imensidão de efeitos especiais! Vida e morte em eterna amarelinha! Risos e choros numa grande peça sem plateia onde o pano acaba nunca descendo...
Mundo! Multidão de camelôs!  Cada dia uma repetitiva novidade! Ruas que não se decidiram de onde vieram e para onde irão! Aperte o controle remoto e fique cego! Marionetes e carneiros é o prato do dia em todos os dias...
Mundo! Semblantes acesos de sóis atrevidos! Invasores perpétuos de nossos mais caros segredos! É triste saber que não sabemos nunca fazer a nossa lição de casa...
Mundo! Ontem, hoje e amanhã nos conceitos mais tolos que alguém pôde fazer! A esperteza sempre foi tolice e os vencedores sempre estarão do lado de lá...
Mundo! Soldados tremendo sob suas fardas, amigos rindo da miséria alheia, nada muda! A moral admira belos traseiros e fatos mortos se tornam nossos fantasmas...
Mundo! Somos o que somos até não o sermos mais! Faltou a luz, faltou a água, acabou o gás! E a desesperança - palavra pouco conhecida e muito ignorada - cisma em nos namorar...
Mundo! Cadáveres de árvores transformadas em vãs folhas de papel! Cigarros acesos em volta do caixão do adolescente morto em viciada homenagem...
Mundo! A modelo tropeçou e caiu em pleno desfile, o cantou errou a nota e desafinou! Nada mais cruel do que promessas que não serão cumpridas, as nossas perspectivas são apenas grande debochadas...
Mundo! Selos para as cartas que nunca chegarão em seu destino! Os mosquitos competem com nosso sossego e as moscas são apenas malabaristas rindo de quem pagou o ingresso...
Mundo! Cárcere privado de cada cidadão livre! Leis que foram feitas para serem desobedecidas! Regras para serem quebradas! A autopiedade sempre foi os que nos impede do grande pulo...
Mundo! Grandes passeatas feitas no deserto! Heróis do acaso ficando calados! Todos os dias existem grandes feiras e somos nós a mercadoria...
Mundo! Mundo cão, mundo gato, mundo rato! Os nossos cabelos crescem para cair e as nossas unhas para serem cortadas! Somos o que somos e mesmo assim somos outros...
Mundo! Mundo! Minha cela querida...

sábado, 22 de setembro de 2018

Um Poema de Simples Primavera

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Tudo é simples, meu amor, tudo tão simples,
Por isso não se desespere com as coisas do mundo,
As coisas acontecem quando menos esperamos,
O dia pode morrer em um só segundo...

Por isso, aproveite enquanto existe o tempo,
A vida nos sorri e a morte ainda não apavora,
Aproveita que vem chegando a primavera,
Colhe as flores que puder, está na hora...

Enfeita os teus cabelos, sorri para o espelho,
Ele irá te corresponder, também será risonho,
Não espere as rugas que um dia elas virão,
Elas irão entristecer todo o teu mais caro sonho...

Não me pergunte, me amor, o nome das flores,
Isso é coisa para quem entende, eu não entendo,
Eu nunca entendi, só sei que à todas sempre amei,
Mas és tu a mais linda flor que aqui estou vendo...

Guarda aí algumas delas, se assim puderes,
Tu conheces um jeito delas o tempo não destruir,
Nunca se sabe quando delas vais precisar
Para as colocar em meu leito quando for dormir...

Girassol Poético

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Gira mundo
Gira flores
Girassol
Num segundo 
Todas dores
Apagaram meu farol...

Gira noite
Gira dia
Gira o que girar
Foi um açoite
Na minh'alegria
Só posso chorar...

Gira céu
Gira chão
Gira tudo que tem
Foi um léu
Foi um não
Onde estará meu bem?

Gira canto
Gira estrada
Gira dança
Apesar do espanto
Apesar do nada
Sobrevive a esperança...

Gira mundo
Gira fores
Girassol
Sou vagabundo
Sinto dores
Inda brilha meu farol...

Sobre Flores

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Que o meu silêncio seja o maior gesto,
o meu maior canto, seja o meu protesto
das tristezas que andam por aí, pela vida,
eu as trouxe quando vim e na despedida...

Quando era nada e quando nada sabia,
quando era criança e chorava e sorria,
tempo em que me as lembro desenhadas,
sem ter nome, cobrindo minhas estradas...

Quando era moço e também nada sabia,
mas a escuridão alcançava o meu dia,
não me importava o espinho e a sua dor,
queria enfeitar os teus cabelos, meu amor...

Quando era homem e pensei que sabia
e minh'alma antes cheia estava assim vazia,
ainda tive algum tempo para poder olhar
o encanto que deixei, mas que estava lá...

Agora que sou velho e mais nada saberia,
o tempo todo já se passou e tudo entendia,
tragam elas, tragam-me todas elas então,
as que possam enfeitar essa minha exaustão...

Que o meu silêncio seja o singelo gesto,
o meu maior canto, meu grito, meu protesto,
das tristezas que andam por aí, pela vida,
trouxe esses versos para minha despedida...

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Meu Bloco Saúda e Pede Passagem

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Me dê licença, senhores do mundo, eu sei que o carnaval ainda está longe, os dias ainda são frios neste fim de inverno, mas é que não mais resisti...
Eis que saio por essas ruas solitárias, palhaço sem graça alguma, herói sem heroísmo, esqueci meu relógio em casa, perdi a noção de todas as coisas e aqui estou...
Meu bloco saúda à todos, os que riem sem motivo e os que choram com razão. Saúda aos que enterraram os seus mortos amores, sem ter sequer uma reza, uma pá de cal ou sequer alguma rosa vadia...
Meu bloco saúda aos desesperados que foram traídos no seu mais puro afeto, os que amaram e não foram correspondidos, os que no meio da noite se calaram porque seus gritos não seriam ouvidos por mais ninguém...
Saúda as crianças que tiveram suas alegrias arrancadas pelas guerras malditas, saúda os que novos perseguidos pelos fantasmas das sandices do sistema de nosso tempo, aos velhos que foram largados em um canto qualquer. Saúda também às amadas sem janela, a poesia que perdeu seu encanto e tudo mais que havia de bom por aí, pelo mundo e que não existe mais...
Não riam de mim, por favor, não zombem, não escarneiem, esse é mais um desespero sério de quem sobrou algum pedacinho de esperança. Aquela mesma desesperada esperança que fez a jovem senhora embalar seu menino de agora sem aqueles olhos azuis para entregá-lo para a maldade do mundo. Aquela mesma dor que fez o já velho senhor chorar pelos cantos de amor e ciúme.
Meu bloco saúda e pede passagem! Abram as portas do hospício, chamem todos loucos, vamos esculpir solenes carneiros pelas pastagens do céu, fazer pinturas com as naus e suas velas que andam por esses mares nunca dantes navegados. Chamem os mortos também! Escutemos as histórias paradas pela metade, as cenas congeladas no ar, reacendamos velhas fogueiras...
Meu bloco saúda e pede passagem! Desculpem todos se incomodo, a capa e a cartola do mágico acabaram me transformando no velho Exu e agora todas as encruzilhadas me pertencem...
Venha comigo linda bailarina, eu quero beijar seus lábios até suas faces corarem; venha também menestrel, ainda conheço velhas canções que enfeitarão esse mais triste ar. Venham comigo todos, todos vocês, sem distinção alguma, afinal de contas somos todos humanos, pertencentes às mesmas tristezas e desilusões que o destino nos reservou...
Meu bloco saúda e pede passagem! Lá vou eu, acompanhado da minha tristeza e da minha solidão...

Sou Camaleão

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Sou camaleão
a vida não dá mais surpresa
sou camaleão
a vida é minha própria presa

Quero ter mais cores
do que qualquer um jardim
do branco ao negro 
ter todas elas assim enfim

Sou camaleão
anjo e demônio em toda cor
sou camaleão
rápido intrépido e sem dor

Quando estou mais longe
aí que estou bem mais perto
viver é uma grande caçada
mesmo parado estou desperto

Sou camaleão
não sei se feio ou se bonito
sou camaleão
eis que sufocarei o teu grito

Quase cai num abismo
mas consegui atravessar a ponte
consigo me adaptar à tudo
futuro passado amanhã e ontem

Sou camaleão
a vida não dá mais surpresa
que comece então o jogo
jogue as cartas sobre a mesa...

Leve Pluma Que Não Mais Flutua

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Muitas águas em meu choro constante
Invenção da felicidade que não veio
Leve pluma que não mais flutua
Leves beijos que minha face desconhece
Eis a sina de todos nós os tristes
Nada que passou passará jamais
Atentos estamos em nossas distrações
Basta o mais simples dos gestos
As várias cores transformar-se-ão em uma
Pálida talvez e talvez não mais assim
Tenho toda certeza do incerto
Instinto que nos salva da maldade
Será que não alcançarei a fonte?
Toque então aquela canção bem triste
Aquela mesma que embala meu sono
Dei a minh'alma para um abismo
Ao carrasco entreguei o meu pescoço
Simples é o nome do que não temos
Invisível fantasma que me atordoa
Leia esse triste poema sem ironia
Veja os muitos passos que eu andei
Antes da morte vir ao meu encontro...

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Cara

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A minha, a sua, a que mais se pode ter,
A que eu levo dias e dias sem ver,
A nua, a rua, a que você tem meu bebê

A poesia se esvaindo em sangue,
A rima indo por aí tão desvairada,
Cara de céu, de inferno, de mangue,
Cara suja, real, mentira mais deslavada

A minha, a sua, até talvez aquela nossa,
Conhecida ou a quem interessar possa,
Maluca, doida, varrida, séria, pura troça

Os versos enrolados feito um novelo,
A transformação do novelo em novela,
Ouça meu grito, escute o meu apelo,
Acabe com esse tiroteio na favela

A minha, a sua, a cara de todo mundo,
O riso tão raso, vira choro num segundo,
Eu amo, eu caso, deixo de ser vagabundo

Longe de mim, manhã feia e desgarrada,
Escrevo alguma coisa nesse meu cativeiro,
Nem se devo escrever até mais nada,
Minha cara bonita de qualquer fevereiro...

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Enlouqueço

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Enlouqueço...
ao saber que tudo tem um preço...
até teu amor pode ser cobrado,
o que deu certo pode dar errado,
estamos sem saber onde estamos,
pelos caminhos do ódio também amamos...

Enlouqueço...
ao saber que meu fim tem um começo...
as rugas aos poucos vão surgindo,
o fracasso vem então nos perseguindo,
a tempestade já está assim formada,
a nossa desilusão em formato de nada...

Enlouqueço...
ao saber que por mim acabou teu apreço...
acabou nossa festa, acabou nossa dança,
nada mais me resta, nem mesmo esperança,
talvez do meu sonho me sobre um pedaço,
mas junto com ele já chegou meu cansaço...

Enlouqueço...
ao saber que tudo na vida é um adereço...
e o que me resta será apenas partir,
não sei onde vou, mas eu irei por aí,
para achar aquele meu perdido amor,
começo do fim da minha grande dor...

Casa Pequena & Senzala

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Os dias são outros, mas a tristeza é a mesma. Mudaram as senzalas, mas os chicotes continuam iguais ou, talvez, até um pouco mais dolorosos. Novos tipos de crime foram descobertos...
Não existem mais navios negreiros, mas os coletivos estão por aí. Os porões se aposentaram, mas agora a fumaça nos envolve. Nossa fome é outra, agora nossas barrigas se enchem de venenos. Enchem nossos bolsos de moedas, mas é para esvaziá-los com mais requintes de crueldade...
Filas daqui, filas dali. Nunca mais seremos nós mesmos. Idade média, idade mídia. Foi liberada a morte à distância quando muito. Atire no negro, atire no pobre, no gay, no que crê de forma diferente e no rebelde. Atire para matar! Abuse das mulheres e das crianças. Está na moda!
Está na moda o ridículo, o absurdo e o insensato. Mostre a bunda na rua, seja a sensação do momento. Quanto pior, melhor. Destrua tudo o que sobrou de nossas lembranças. Sem educação, sem moral, desonesto...
Cegos, mudos, surdos, felizes por nossa infelicidade. Apáticos ao alheio. Com nossas assombrações por onde formos. Pedaços de carme ambulantes, nunca mais seremos vivos...
Ria só de deboche, sem motivo, sem razão. Coloque Deus no meio das suas tretas, o dinheiro em cima do altar, o carrão acima da moral. Faça sexo sem amor, minta via de regra de vida, faça parte da construção de um mundo pior...
As noites são outras, mas com mais pesadelos. A guerra que pode começar, o desastre que pode aparecer na tela, a nova doença que mata, o novo remédio que destrói, a insanidade que chegou à galope...
Nada mais é suficiente, só a insensatez, nada presta, nada vale, o candidato mentiu, o herói se acovardou, a poesia perdeu o sentido, os versos foram censurados. Não rimos mais por graça, não nos apaixonamos, não sonhamos, a nossa ternura é apenas um espantalho...
Fábrica de máscaras, precisamos de tapetes para esconder as sujeiras, gavetas para escondermos os sonhos, armários para nos escondermos de nós mesmos. O comercial de uma família saudável é a nossa meta, a música da moda é o nosso gosto...
Morte ao que é bom e ao que é belo. Viva ao crime patrocinado pelo estado, vivam os políticos corruptos, aos mestres da tolice e a mais sórdida decadência em que estamos até o pescoço...
Os dias são outros, mas a tristeza é a mesma. Agora tanto faz, a rua, a cela ou a casa. Desde o primeiro Homo Sapiens cumprimos o nosso inferno...

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Quero Água

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Quero água...
os peixinhos do aquário estão voando...
Não quero mágoa...
as tristezas partiram e estão voltando...

Em cada dia mais eu enlouqueço
e em nenhum deles tenho o seu apreço
e como sempre esqueci meu endereço
é velha essa história isso é o começo

Quero beijo...
minha boca é uma casa abandonada...
Não é desejo...
é um tiro feito uma carícia trocada...

Em cada dia mais eu te quero
e não tenho mais tempo e nem espero
já chega de conversa chega de lero
dos mortais eu sou o mais sincero...

Quero trégua...
estou nesta guerra há muitos anos...
Passe a régua...
meus sonhos não são mais humanos...

Em cada dia mais eu me estranho
e não existe mais a noção do tamanho
porque cada vez mais da vida apanho
não quero ser mais uma neste rebanho...

Quero água...
os peixinhos do aquário estão voando...
Não quero mágoa...
até minha razão está delirando...

Os Portos

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os portos
os tortos
os mortos

eu aqui queria estar ali
nem sei porque nasci
e velas acendo
me vendo 
me rendo
me prendo
Ceci não tem mais Peri

os ratos 
os gatos
os matos

eu aqui queria estar tonto
nem sei qual é o ponto
e sempre choro
e não namoro
não decoro
e histórias não mais conto

as rendas
as lendas
as vendas

eu aqui queria um grito
nem sei quando me irrito
e me escondo
tudo propondo
o mundo é redondo
só não é mais bonito

as pragas 
as sagas 
as vagas

Infinitum Número 1

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Nas asas da camisa do quadriculado azul-e-branco eu estava lá. Sobretudo em dias de muitas chuvas. A dança funcionou. Mesmo com as fogueiras se apagando. Eu tenho a forma mais justa de todas e ando em bandos alados em qualquer céu vagabundo. Nada escapa aos meus olhos vadios. Eu que o diga. Esperei o esmero de mil espelhos para morrer na rebentação em mais admirações e pensamentos pesados. Nada me supera em matéria de laços e moedas antigas. Alguns pingos não me importam mais. Alguns vidros nem se quebram. Palavras novas com velhas ideias. Sigam a carruagem sem ladragem. É alguma coisa que podemos fazer. Normas faço eu. E a alquimia acabou de sair para a cozinha e de lá não mais voltará. Viva a vulgaridade de choros e baiões disfarçados com a última moda. O Nobel agora vem como brinde no final de ano. Acabaram-se as celas e os nova-iorquinos já fazem seu passeio zumbi de tardes de consenso. Eu nunca fui em todas as esquinas. Elas é que acabam vindo até aqui. Trazem bolinhos diet e prendas politicamente caretas. Faço votos que daqui um ano seja um ano mesmo. Minha pequenez rouba a atenção de paparazzis e de narcisos meio tortos. E há brilho estranho por entre as vitrines que se erguem à cada segundo. Este é o último corretor de textos que uso com certa velocidade. Fico enjoado com este cheiro forte de jasmim. Eu nunca mudo de opinião. Sou teimoso o suficiente para estar sempre onde não estou. Quero asas e algumas mentiras inocentes. O vento não refresca. Mas quase me mata de ansiedade sobre novas perspectivas. Abril esse ano caiu em maio por pura culpa de julho. Um grande brinde ao nom sense dos mercadores de camelos de Dubai. Asas recortadas de papel suficientemente o são. É preciso alguma destreza para sair correndo. Eu nunca tropecei em minha célere covardia. Doe-me tudo. Sobretudo as alucinações que os alcaloides não me trouxeram em sublimes códigos. Agora você vê. Agora você está cego. As frutas agora caem verdes por pura opção. Ovos são surrealistas. Há espaço suficiente para uma loucura de cada vez. Em suaves prestações. Eu me sinto com sintomas de sintonia. E uma febre daltônica acaba explicando tudo. Meu tempo nunca foi agora. Não tenho todas as medidas e nem as procuro. Os versos caíram lá de cima como uma chuva ácida. Cada vez que eu tremo. Eu acabo chamando a febre. E o Cabo das Tormentas acaba tendo certa suavidade. Repito quantas vezes quiser. As cercas eram de arame farpado e os cajus eram os astros do show. Faz peças para atores com bastante sono. Algumas dúvidas ainda possuem dívidas. Será que será que será. Me empreste alguma coisa para que eu possa levar em minhas costas como uma cruz. Vítima e algoz agora fazem tratos de honra. Quem chegar primeiro perde. Compadres existem muito por aí. Chega de ser suficientemente insuficiente. As moedas agora possuem vinte lados ou até mais. Por questão de recato ou de indecência. Não faça mais isso. Faça aquilo somente. E aquilo outro se ainda puder. Marte é quase no norte do nordeste. Sem cearenses e sem ecos também. Já bebi muita vodca e acabou a minha reserva. Os mortos continuam no mesmo lugar. Nós que somos as tais formigas. Onde tem açúcar é o nosso destino. Me preocupo com uma estética inexistente. E com os passos da marcha forçada. Pandeiros e arlequins muito me interessam. E volteios de algum vórtex que vi sei lá onde. Atrás do trio elétrico só vai quem está atrás. As chacretes estão contentes enquanto mascam chicletes. E eu só tinha um. Acabo fazendo melodramas chineses que nunca li. Agora Caronte aceita débito ou crédito. Ora pois. Tudo não existe. Eu levantei bandeiras com algum esforço. Copos de pé nunca foram cálices. Ainda gosto dos meus gostos. E almoço o meu almoço. Ao moço. Ao quase velho. Sem sinais de risco. Quase um poema feito de retalhos e uma propaganda certeira. Tiro ao tiro e eu me retiro. Não fui artista suficiente para construir banquinhos e nem acender velas quando o black foi out. Um outdoor já me basta. E um grande carro de som acordando toda a vizinhança. Os vilões nunca precisaram de escola. Uma tragédia grega já me enfada o bastante. Guardei um cofre no cofre. Não me roubem mais minhas ideias. Quase que eu ganho na loteria. Só me faltava jogar.

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Ninguém Via

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Em calçadas. Em ruas. A miséria diletante distribui seus panfletos e ninguém liga. Há muita pressa e os corações já caíram pelo chão. Não temos tempo algum! Nossas futilidades são suficientes para nos ocupar! Acabou até o tempo de dormir e sonhar.
Perfeitas poses de cada um por si. O lixo não é problema nosso enquanto honrados cidadães. Cumpridores de suas tarefas de casa que nenhum professor nos passou. Ser humano não é mais ser humano. E a antiga retórica foi dar um passeio e ainda não voltou.
Não retiro meu nome desta lista. Os pequenos grãos já fogem de minhas pobres lentes. Não há mais diferença entre bondade e maldade. E nossos novos filósofos não pregam mais dúvida alguma. Quem viver verá ou não. É muito frio para tantos cobertores.
Desconheço porque fico tão zangado. De nada adianta escutar os avisos do rádio velho. Figurinhas são recortadas com tesouras de bico redondo. Analogicamente comportados e digitalmente sem rumo algum. Quantas vezes! E por sua vez em vez nenhuma.
Chamem a polícia! Socorro! Há um homem honesto por aqui. Mau-exemplo para nossas crianças. A sua fala tem o decoro de alguns dias atrás. A minha pressão não é mais arterial. Ou acho que ela nunca foi. Os bodes não expiam mais nossos pecados.
Eu quase desejei coisas erradas. E abri as portas da caverna onde escondia alguma qualidade. Façam-me o favor! Não me façam favor algum. A indiferença acabou de chegar na cidade. E tem muito em estoque.
Era um cobertor vermelho em dia de quase-sol. E um par de muletas encostadas na parede. E uma chaga aberta sobre a pele negra de bastante anos. Não há cheiro. Não há cor. Tudo cobre a nossa santidade mesquinha. Algumas moedas para o café e basta. Quinhentos mililitros de aguardente já fazem o céu. E até os cães vira-latas estão cansados de abanar o rabo.
Mais um pouco e eu me completo. Já aprendi à rir nos funerais. Correr da coragem que se anuncia. Cinicamente correto. Os símbolos se inverteram no manual do velho alquimista. E minha loucura se tornou a mais apresentável possível. 
Qual o tamanho do tamanho? Qualquer tamanho para o que se faz. Nenhum tamanho para o que se fez. Os bordados estão em promoção. Eu tomo mais um gole de refrigerante pensando em nada. Consegui em alguns minutos mais que milhares de iogues. Não tenho suor em minha testa. Minha alma desconhece limites para a nossa idiotice.
Como era gostoso o meu inglês! E mesmo sem misturar. Eu ainda misturo. Numa loja de tinta achei um deus. E as flores que estavam quase caindo de drogadas. Todos os meses tem suas próprias facetas. Não posso falar de sinceridade. Isso mata como sempre matou. O nome é outro. Meu sexo endureceu por rigor-mortis. 
Desculpe aqui qualquer coisa sem querer. Eu só queria ser um assassino mais feliz. A roleta-russa não é mais ruça. E acabaram roubando a escada de Jacó. Suas madeixas parecem labirintos de fáceis soluções. 
Em calçadas. Em ruas. Até míseros poetas de rimas contundentes tentam disfarçar seu falso engajamento. Desculpe gajo. Desculpe gaja. Ofensas são agora rotineiras. Eu quero novidades! E um semblante que se pareça com todos os outros. Palavras não são apenas palavras. São mais um maço de cigarro e uma cana das boas. Até que os profetas cheguem com seus camelos enfeitados de turistas.

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Um Dia, Algum Dia

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Um dia...
desses dias qualquer
mesmo com nuvens insistentes...
Logo termina a espera
lá vem minha primavera
já nasceram as sementes...

Um dia...
desses que vêm no caminho
com alguns sorrisos contentes...
Alguém teve compaixão
do meu pobre coração
e de meus dedos dormentes...

Um dia...
desses que não esperava
que vieram só nos repentes...
E eu que tava dormindo
veio a alegria bulindo
eram sensações diferentes...

Um dia...
desses dias qualquer
mesmo que estejamos doentes...
Logo termina a espera
lá vem minha primavera
vamos cantar entre as gentes...

domingo, 16 de setembro de 2018

Teoria do Quando Em Último Desespero

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Quando descobri já era tarde. Tarde demais. Eu fui mais um covarde. Pra alguma coisa. Meus temporais. E o caminho já não importava aonde ia dar. Porque os tristes serão sempre assim. Hão de chorar por qualquer motivo ou por motivo algum...
O que nos resta fazer é rir e rir muito. Dos desenhos que o acaso faz na vida ou entre as nuvens. Não escolhamos o palco que estreará a nossa peça. Os passatempos não são apenas divinos. Humanos também são...
Quando descobri já era passado. Passado então. Não era mais um desesperado. Desesperado era o meu coração. E os relógios repetem as mesmas preces por nossos mortos. Não sabemos exatamente o que é vida ou o que é morte. Há muitas coisas para se descobrir na agenda do impossível...
O que nos resta é cantar e cantar muito. Nossa voz ficará rouca e pouco nos importa. Se esquecemos as letras é o de menos. Até a nossa solidão será solidária conosco. E as paredes mudas serão nosso grande coro...
Quando descobri já era impossível. Impossível amor. E apenas esperei impassível. Que um dia passasse a minha dor. Esqueci apenas que as cicatrizes chegam para ficar. Que o dia seguinte não traz o alívio. O dia seguinte é apenas o que é. A continuação de um drama que já nasceu. Um filho que não teve culpa das dores do nosso parto...
O que nós resta é dançar e dançar muito. Zombando de todas as maldades que tentam nos alcançar. Das guerras que por si só se acabarão. Batam com a cara na parede senhores. As minhas ilusões são mais possíveis que as suas...
Quando descobri já tinha passado. O desfile na rua. Quem me dera ter sonhado. Você toda nua. E agora nesse meu canto quieto fico e assim ficarei. Passe logo todo o meu infinito de solidão. Que a terra coma minhas pobres carnes sem esquecer de roer os ossos. Não ligo. Já descobri a eternidade dentro de mim...
O que nós é o que resta...

sábado, 15 de setembro de 2018

Razão

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Razão desconhecida
início do meu bem-querer
és mais do que a própria vida
motivo do meu viver

E por teus caminhos
meus sonhos vão caminhando
não ferem mais os espinhos
a tristeza vai se acabando

Perdi o medo da morte
a paixão teima e vive
não está doendo mais o corte
nessa ferida que tive

E mesmo que o castelo caia
que tudo enfim desabe
é na barra da tua saia
que o meu amor inda cabe

Razão desconhecida
início do meu bem-querer
te mostro em minha avenida
não posso te esconder...

(Para J.A., impossível, mas real).

Da Natureza do Tamanho

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Grandes coisas, pequenas coisas,
o nada com partes iguais,
uma estrela é apenas uma luz,
dois vaga-lumes são mais...

Certas mentiras, ora contadas,
parecem assim sensacionais,
o vento leve de uma brisa,
é tal qual os temporais...

Um gesto pequeno, um carinho,
acaba a guerra, vem a paz,
mesmo estando tão só,
são meus todos os quintais...

Todo o tempo que há no mundo,
todas as ondas no cais,
os barcos que um dia partiram,
um dia que não volta atrás...

Teus beijos e teus afagos
me parecem que profissionais,
eu vejo todas as cores,
sobretudo o cinza e o lilás...

Grandes coisas, pequenas coisas,
alguns amores são tão gerais,
eu um dia fui tão pequeno,
mas hoje em dia nem isso sou mais...

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Cena Comum

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os ventos jogam folhas no chão
as mesmas folhas que não quero varrer
não é problema do meu coração
se eu ainda insisto de sofrer e viver

cena comum, nada rara
o tempo corre na minha cara

acabo gostando do que não gostava
eis o destino de todos nós viventes
eu andando enquanto o pé sangrava
temos capricho com nossas correntes

cena comum, dia após dia
muita tristeza, um pouco de alegria

as más notícias lá vêm correndo
as boas acabam se perdendo no caminho
entretanto teimando vamos vivendo
temos uma rosa para tanto espinho

cena comum, cena discreta
a vida em curvas, a morte reta

alguns frutos caem não maduros
a culpa foi de um vento tão malvado
eu só ando por cantos mais escuros

cena comum, cena morta
o que terá atrás desta porta?

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...