sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Uma Lata Pra Dois

Meia hora para o café estar pronto - quase uma eternidade

Todos os tamanhos só são meros tamanhos - pura ilusão

O sonho de ontem pode ser apenas pesadelo - apodreceu

Ah, minha poesia é apenas um grito de um mero afogado


Toda rima preciosa em versos perfeitos - acabou falhando

Vamos contando quanto falta para a partida - se pudermos

Há um demônio novo estampado na manchete - como sempre

Ah, minha poesia é apenas beijo babado na cara da mídia


Sobretudo a maldade acaba indo a nocaute - está no roteiro

Ser chamado de animal nos dias de hoje - é um ótimo elogio

Minha tristeza tem saudades de onde veio - veio do peito

Ah, minha poesia chega como um vento frio pela janela


Todos os meus vícios chegaram de forma sutil - roleta-russa

Ando uivando mesmo que não existam luas - sem madrugada

Sempre anoto todas as minhas mentiras - não posso errar

Ah, minha poesia quase desapareceu num dia destes qualquer


A sujeira da minha cidade não me causa mais nojo - acostumei

Esse cheiro de urina velha na rodoviária - ele acontece

Até quem fala somente em risos - não pode evitar seu choro

Ah, minha poesia não consegue sair mais desta gaiola


Meia hora para o café acabar - quase um segundo

Todos os tamanhos só são meros tamanhos - pura ilusão

O sonho de ontem pode ser apenas pesadelo - murchou

Ah, minha poesia é apenas um grito de um mero afogado...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida)

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