segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 287

O último fósforo aceso contra o vento. A última canção antes de terminar o show. O derradeiro beijo numa boca estranha e vadia na terça de carnaval quase quarta. A flor do canteiro antes do inverno chegar. O mergulho da folha na rua deserta. O tombo antes da escuridão quase total. Eis o que é a vida...


...............................................................................................................


Eis a palavra - apenas som se dita e apenas símbolo se escrita em qualquer lugar. Eis a palavra - decisão tomada e compromisso feito até que exista. Eis a palavra - pensamento que sai para fora e silêncio somente aparente. Eis a palavra - última ação do condenado depois de seu desejo e em forma de suspiro para o morto. Eis a palavra - matéria prima para os poetas e talvez para todos os loucos...


...............................................................................................................


A venda nos meus olhos. A canção que esqueci. Morros que não subi e montanhas que não escalei. O velho rádio de pilha. O gravador que ganhei no natal. As curvas que desejei e o cabelo passando da altura da bunda. O primeiro poema feito na raiva. O prêmio que não recebi. Acidentes acontecem e alguns mistérios também. A sobrevivência vital. A fome de quase todo dia. Ser o que não sou não importa tanto e falar coisas bonitas nunca foi o meu forte...


...............................................................................................................


Aos muito novos e aos muito velhos tudo é permitido. Rir de qualquer coisa ou ser ou pessoa ou circunstância sem precisar de motivo. Ter ternura suficiente para preencher o universo. Amar plenamente sem esperar nada em troca. Dormir profundamente sem esperar o dia seguinte. Fazer intermináveis brincadeiras sem necessitar de brinquedos. Deixar a vaidade para os que sofrem dela. Escrever nos sóis e brincar com nuvens. Entender a língua dos passarinhos. Aos muito novos e aos muito velhos tudo é permitido...


..............................................................................................................


Estou vivo. Sou teimoso como poucos. Mesmo acordado em meio às sombras, não desisto. Desconheço se o dia será parecido com ontem ou se hoje alguma novidade que valha a pena acontecerá. Quem sabe se o sol desistiu de ser amarelo e dessa vez vestiu azul? Quem pode prever que as minhas habituais dores se cansaram e foram embora sem dar pelo menos um tchau? Ou ainda, as preces que não fiz foram atendidas? Só sei de uma coisa: Estou vivo, mais vivo do que nunca...


...............................................................................................................


Sempre o tempo. Sempre esse. Bom e mau ao mesmo tempo. Excesso e falta. Raro e comum todos os dias. O que lembra e o que esquece. Guarda e joga fora. Anda seguro, mas tropeça. Diz palavras sábias e asneiras. É inteligente e o maior dos tolos. O que está sempre, mas ausente. O grandioso amigo e o mesquinho adversário. O que dá e o que tira. O oposto e o oposto do oposto. Sempre o tempo...


..............................................................................................................


Glicose pelas manhãs? Saliva tão amarga... Os sonhos querem doces e acabam pegando os meus... Noite passada me atraíram para sua suave armadilha. Todos os sonos são quase iguais. Alguns bons, outros ruins, mas sempre sonos. Tanatos e Hipnos no mesmo leito suavemente...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...