sábado, 31 de agosto de 2024

Obviedades

Ela usava conga com ares de songa-monga.

Eu sou sempre meu prisioneiro primeiro.

Cada bem adquirido um dia será perdido.

Se cagar no chão limpe com a mão.

Era tão bonita e hoje tá que nem cabrita.

Quem foi quem que diga logo amém.

Cada segundo é um nada nessa estrada.

Como faremos se nem ao menos vemos.

Tudo agora está fosco e com certeza tosco.

Os vidros estão quebrados e espalhados.

Coincidentemente perdi a minha mente.

Todos os tolos erraram com dolos.

Muito esperar é o mesmo que desesperar.

Só tomaremos café da manhã se for amanhã.

O tempo que brinca comigo me traz perigo.

A pobreza de Narcisa de mais nada precisa.

Até os grandes ditadores sentiram dores.

Toda condição humana é mais que profana.

Tudo aquilo que desejei foi o que não beijei.

E aquela vida malvada só dava risada.

Farei novos códigos para os filhos pródigos.

Toda seriedade é viciada em sobriedade.

Senti uma sensação estranha nesta artimanha.

Qualquer reticência tem alguma ciência.

Cada um cava sua cova para a nova prova.

Nunca mais falem de coisas que me calem.

Esqueci seu nome assim como de minha fome.

Pular no desfiladeiro agora rende dinheiro.

Todo profeta entrou nesse mundo de penetra.

A palma e a vaia são da mesma laia.

Todo mais que mais é um tanto falaz.

Na livre feira cada qual com sua maneira.

No meio do insólito e do absurdo sou mudo-surdo.


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 289

As teclas agora quase apagadas pelo uso

As cinzas no velo cinzeiro improvisado

As mãos trêmulas passando pela madrugada

As palavras que escrevo são de minha alma?

Ou serão estrangeiras que vieram me visitar?

Todo poema revela uma realidade disfarçada?

Ou poetas são meninos pobres que usam versos?


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A vida é feita de teimosias

(Algumas nem tanto, outras cruéis)

Nem sempre somos cegos, mas míopes

(Corações precisam de oculistas)

Todos os dias acabam sendo diferentes

(Assim como são irmãos de mesmos pais)

A morte é a cara bem democrático

(Fora da geladeira a situação fica crítica)...


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Desejos são medrosos

Dizem que pularão em abismos

Mas isso nunca acontece

Quando são satisfeitos

Param perante a plateia

E sem graça e com quase nojo

Acabam indo embora...


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De todos os verbos inventados

Pelo uso nos dias de hoje

Com certeza o mais forte deles

Mesmo não sendo muito utilizado

É o verbo carnavalar

Todos os anos esse não falha

E acaba sendo flexionado...


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Todos estão apáticos

A solidariedade só interessa 

Se dá alguma fama

A bondade só interessa

Se sai nas redes sociais

Nem sabemos mais

Se os gritos são mudos

Ou a surdez tomou conta...


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O tempo não é tempo

é apenas um engano...

Quando amor e paixão se misturam

aí que ferem mais...

Certos sonhos são pesadelos

que apenas apavoram...

Penso estar ainda vivo

mas estarei mesmo?...


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Dia desses saí sem rumo

(Mas sem rumo mesmo)

Acho que fui caçar nuvens

Para brincar com elas...

Ou será que fui buscar

Amores perdidos?

Ou queria ressuscitar 

Já mortos carnavais?

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Castanha Com Feijão


O prato está quase quase vazio.

Ela não tem um pau pra dar no gato.

Quebro até meus dentes de tanta saudade.

É cada louco com a sua Maria.

Quer copo de plástico ou copo de vidro?

Acabaram mamando no mamão.

Ela quer uma estola de pele de vidro.

Teremos churrasco de frutas cristalizadas.

E amanhã teremos castanha com feijão.

Meu papagaio agora está falando em libras.

E o peixinho dourado não está fazendo nada.

Conheço mais de política do que de chinês russo.

O eremita agora foi no conjunto habitacional.

Vamos vender estrelas nos copinhos.

Ou abrir um salão de cabelo só para leões.

Tenho dúvidas de qual espinho escolher.

Será que tem guariba lá em Manguariba?

Velhos são todos esses meus pobres pecados.

No céu deve rolar um rock bem dos pesados.

Se você tiver bastante calma eu ejaculo logo.

Aquela tomada não dá choque já faz tempo.

Da bebedeira de ontem eu saí quase sóbrio.

Tio Lino nem sabe mais tocar violino.

Mirei no que não vi e acertei no que vi.

Quasímodo tinha quase bons modos.

Eu posso lhe pedir que você me dê o universo?

A rainha dos bombons não me achou nada bom.

Em olhos fechados não entra mosca.

O prato está quase cheio...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Toda Carne

Toda carne é igual...

Composta de células diferenciadas

Que viverão mais ou menos tempo

Autômatos em seus pobres papéis

Como simples marionetes de um corpo...


Toda carne é igual...

Detentoras de uma fisiologia geral

Culpadas de um crime que não cometeram

Alheias à fome do tempo e da morte

Talvez até pensem que pensem...


Toda carne é igual...

Faltam super-heróis no mercado

A grana não lhes faz invulneráveis

Dançam sem saber a dança da vida

Até que a música de uma vez termine...


Toda carne é igual...

Porque toda dor também é igual

Todo carinho é bem semelhante

Toda estética é o maior dos enganos

E toda estatística é feita de erros...


Toda carne é igual...

A minha... A sua,,, A deles... A nossa...

Até só sobrar as lápides que contem isso...


(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 288

As raízes podem brotar

Os galhos podem brotar

As sementes podem brotar

Algumas folhas podem brotar

As flores não

Por que não?...


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Era apenas um solo

Nunca saberemos quanto tempo

Sua gravação vai perdurar...

Era apenas um ato

Todo segundo seguinte

Foi total transformação...

Mas o que importa?

Atrás do rosto tão sério

(O vidro das lentes como refúgio)

O menino ria no canto dos olhos...


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É que eu sou assim mesmo...

Mostro a alegria de forma triste

Agradeço não dizendo nada

Brigo comigo mesmo e me recuso

A ver quem sou no espelho

Voei somente de avião (tive medo)

Mas foi para economizar as asas...


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É meio chato saber que há

Tantos azuis por aí que não são

Para ser azul não precisa ser sangue

Bonitos mas vulgares são olhos

Até meu terninho foi e não é mais

O azul verdadeiro é do céu

E esse até o mar acaba copiando...


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Por que carpideiras?

Por que falo tanto delas?

Desconheço se terei algumas...

Mas se tiver façam-me o favor

Que elas não chorem nem se rasguem

Mas riam muito e muito mesmo

Do jeito que eu nunca fiz...


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Talvez daqui milhões de anos

Poderei te explicar minha loucura

Explicar minha insistência boba

De te amar sem merecer...

Só não sei se ainda será possível

Quando isto acontecer finalmente

Nos livrar dos milhares de demônios

Que eu mesmo criei para nós...


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Inocente ou culpado?

Sinceramente eu não sei...

Bonito ou feio?

Depende de quem olha...

Carinhoso ou agressivo?

O momento é que falará...

Obsceno ou terno?

Tudo anda de braços dados...

Humano ou fera?

Inocente e culpado...

Helênicas

Da ponta de lá do casaco

Puxaram toda a linha

Assim é e assim será

Cada loucura com seu brinquedo

E suas escadas para cair

Lá vem os que lá vem

Um segundo não faz a diferença

Um segundo é a diferença

Desculpe meu sotaque carioca

Eu vivo me escondendo em matagais

Sou apenas mais um de muitos

Toda quase beleza com sua desculpa

A estética sempre foi má aluna

Procuramos eternidade no efêmero

Como falavam nabos em sacos

A metade da loucura está no meio

Certas manhãs chegam à tarde

A minha maior máscara não é mais

Esta solidão agora chega em bando

Sem uísque ou cerveja ou cachaça

Apenas a saliva dos meros incógnitos 

Não há mais o porquê de perguntas

As respostas não mais falarão assim

Terminei o curso de cinismo quase agora

Talvez mais um nome na minha lápide

Todos os beijos valem alguma coisa

Imortalidade em sonoros rabiscos

Vários atores no palco encenam

Mas só um na plateia tolamente aplaude

Que arte sobreviveu nestes dias felizes

Os fadistas desconhecem seu fado

O meu dicionário tem lá suas anomalias

Tudo começou pelo começo 

Da ponta de lá do casaco...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Cada Um

Cada um

No seu cada um...


Roubaram a cococa

Não era lira mas vinte anos

Mas devolveram...


Cada um 

Dando o seu pum...


A carrocinha levou  Kojak

Nunca mais soubemos nada 

Desse pobrezinho...


Cada um

Que fique bebum...


Um fósforo aceso

Sob as águas oceânicas

Poderá nos guiar...


Cada um

Que tome seu rum...


Naquele carnaval

No carro quase destruído

A nudez imperava...


Cada um

Que tenha nenhum...


Naquela praça

Ficaram ilusões estáticas

Para sempre...


Cada um

A bomba fez bum...


De tanta feiura

Ela ficou até que linda

Por um segundo...


Cada um

Com seu cada um...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Polija Não Polija

Deus e o Diabo na terra sem sal

Quem morrer verá

Sou um marciano sem antenas

Tudo visceralmente temperado

Com ervas finas e capim

Quero muita folia minha tia

Roer uns ossinhos vez em bando

Tirem esse merda daqui!

Nariz de porco safado

Beberrão de cana alheia

Você e essa bruxa manca de repique

Vade retro Santanás!

Aqui não tem bolejo e nem meio

Senta no salame seu pé-de-porco

Seu tempo já morreu faz tempo

E nem chinês lhe salva agora

Pela alma da falecida curibo

Almanaque de gato é bestagem

Bacana é meia dúzia de banana

Tem fuligem no rego há se tem

Não vou gastar meu latim

Que já tá quase no finzinho

Com patifaria mais tonta

Não tenho culpa nenhuma

Se a morta ainda tá vivinha

Enrolada no papel de chocolate

Quem pede perdão não peida

Baitinga tem em qualquer canto

Tem aqui tem ali e tem acolá

Escuto madreixa num zoom e aí

Agora padeiro só faz pado

Neneco e Neneca deram empate

Eu levo o garfo é no bolso!

Meio cento de maxixe pra boliche só

O cangaceiro foi em Roma pegar tostão

Possível é meu nome na escola

Vaca galo porco tá tudo escrito

Maldito seja quem não foi

Se eu gostasse de melancia tinha rim

Rabanada de pobre é cavaca

Pernil de pobre é salsicha

Lugarejo de menanco é qualquer

Tira esse papabunco do meu furunco

Deus e o Diabo na terra sem sal

Quem morrer verá...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

A Geleia do Maurício

 

A geleia do Maurício

Não vende mais sacola plástica

Ah! Que peninha...


Agora ele tá na tumba

Dizem que virou tocador de tuba

Ah! Que gracinha...


Faltou algum anjo

Praquele inferno que mandaram ele

Ah! Que galinha...


Não fuma mais Dona Flor

Nem baba no canto dos olhos ruins

Ah! Que farinha...


Agora dança xaxado

No meio do braseiro do bicho-cão

Ah! Que lapinha...


A conta do banco

Agora tá com o limite estourado

Ah! Que graxinha...


Assiste a televisão

Na cova do vizinho do lado

Ah! Que farpinha...


A geleia do Maurício

Não vende mais sacola plástica

Ah! Que peninha...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Bolejo No Tom

Eu sou dos campos estrelados de capim seco

Capim quase dourado feito o cabelo dos gêmeos

O tempo passou e passou e passou com ferro novo

Por falta de falta na falta não senti mais falta

Quero um Uber com madeixas louras e azuladas

Fumei um charuto cubano que não era de Cuba

Aliás e sempre ótimo cuba-libre no café da manhã

No Coliseu agora só recitais de poesia são efetuados

Cabelereiros exclusivos para os que são carecas

Dormir roncando é o mesmo que roncar dormindo

Todas as manhãs possuem vontade de serem tardes

E as noites então? Estas têm manias de serem noturnas

Mas certamente não existiu nenhuma boadrugada 

Nunca pesquem em dias da semana começados por Z

Mesmo que para isso tenham que encher litros furados

Ela me falou que essa tesoura corta até pensamentos

Aguardente de guaraná para todos os incautos

Farofa no macarrão tem lá seus secretos segredos

Eu sou o fenomenal mago dos maiores existentes tragos

Os barrigas-secas agora só jogam bolas quadradas

O youtuber famoso contribuiu para comprarmos um tubo

Mariazinha adora gentilmente beijar somente pernis

Chega de mais-mais e de quero-quero no agora aqui

Enquanto as carruagens ladram os cães passam

Os lobos agora preferem comer somente bolos

Nunca mais vimos aqueles dois patinhos na lagoa

Quem casa quer morar na casa e acender a brasa

Meia parada para um gozo estridente com sorriso

Vitamina de limão para nossos melhores fregueses

Bolinhos de chuva no deserto de Atacama sem cama

Construíram um novo Peruíbe no final da nossa rua

Queremos um show de transformistas na quermesse

Ele que era um galalau se tornou um velho simpático

Cebola bem picadinha para momentos extremos

Hollywood não passa de um grande cemitério

Os farristas agora estão moderando mais as farras

Ganhei uma enciclopédia que jogaram no lixo

Meus chinelos quase estão aprendendo a falar

Marcianos pernambucanos antes usavam franjas

Fui sorteado com nada e ainda tive que dar troco

Sinto sequelas de todas as aquarelas que não pintei

Ave-maria aqui nesse céu não tem mais uma ave

As bitucas de cigarro fazem uma competição acirrada

Mary Maryana comprou um apê em Copacabana

Só não sabia que isso podia ser assim tão bacana

Vou dar uma volta no mundo inteiro e volto já...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 287

O último fósforo aceso contra o vento. A última canção antes de terminar o show. O derradeiro beijo numa boca estranha e vadia na terça de carnaval quase quarta. A flor do canteiro antes do inverno chegar. O mergulho da folha na rua deserta. O tombo antes da escuridão quase total. Eis o que é a vida...


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Eis a palavra - apenas som se dita e apenas símbolo se escrita em qualquer lugar. Eis a palavra - decisão tomada e compromisso feito até que exista. Eis a palavra - pensamento que sai para fora e silêncio somente aparente. Eis a palavra - última ação do condenado depois de seu desejo e em forma de suspiro para o morto. Eis a palavra - matéria prima para os poetas e talvez para todos os loucos...


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A venda nos meus olhos. A canção que esqueci. Morros que não subi e montanhas que não escalei. O velho rádio de pilha. O gravador que ganhei no natal. As curvas que desejei e o cabelo passando da altura da bunda. O primeiro poema feito na raiva. O prêmio que não recebi. Acidentes acontecem e alguns mistérios também. A sobrevivência vital. A fome de quase todo dia. Ser o que não sou não importa tanto e falar coisas bonitas nunca foi o meu forte...


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Aos muito novos e aos muito velhos tudo é permitido. Rir de qualquer coisa ou ser ou pessoa ou circunstância sem precisar de motivo. Ter ternura suficiente para preencher o universo. Amar plenamente sem esperar nada em troca. Dormir profundamente sem esperar o dia seguinte. Fazer intermináveis brincadeiras sem necessitar de brinquedos. Deixar a vaidade para os que sofrem dela. Escrever nos sóis e brincar com nuvens. Entender a língua dos passarinhos. Aos muito novos e aos muito velhos tudo é permitido...


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Estou vivo. Sou teimoso como poucos. Mesmo acordado em meio às sombras, não desisto. Desconheço se o dia será parecido com ontem ou se hoje alguma novidade que valha a pena acontecerá. Quem sabe se o sol desistiu de ser amarelo e dessa vez vestiu azul? Quem pode prever que as minhas habituais dores se cansaram e foram embora sem dar pelo menos um tchau? Ou ainda, as preces que não fiz foram atendidas? Só sei de uma coisa: Estou vivo, mais vivo do que nunca...


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Sempre o tempo. Sempre esse. Bom e mau ao mesmo tempo. Excesso e falta. Raro e comum todos os dias. O que lembra e o que esquece. Guarda e joga fora. Anda seguro, mas tropeça. Diz palavras sábias e asneiras. É inteligente e o maior dos tolos. O que está sempre, mas ausente. O grandioso amigo e o mesquinho adversário. O que dá e o que tira. O oposto e o oposto do oposto. Sempre o tempo...


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Glicose pelas manhãs? Saliva tão amarga... Os sonhos querem doces e acabam pegando os meus... Noite passada me atraíram para sua suave armadilha. Todos os sonos são quase iguais. Alguns bons, outros ruins, mas sempre sonos. Tanatos e Hipnos no mesmo leito suavemente...

sábado, 24 de agosto de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 286

Não há mais vento de maio

Pois o maio deste ano já passou

Quase sofri um desmaio

Quando descobri quem eu sou


Eu escolhi o pior caminho

Por isso é que ando sozinho...


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Ele fazia haicais

Ela escrevia aldravias

E nesse minimalismo todo

Eu ainda sou menor

Com minhas interjeições!


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Queira ou não queira

Fira ou não fira

Meu amor me faz de alvo

Não tem pena

E atira!...


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O espelho me aplaudiu

Isto já me basta...

Faz parte da grande lição

Que nos ensina a solidão...

As paredes me escutam

São boas ouvintes...

Dormir pode fazer parte

De um pequeno ensaio...


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Foi um grão de poeira

Apenas um grão

Que entrou no olho

Foi tão de repente

E a lágrima correu

Salgada lágrima

Ou será que foi a alma?

Apenas a alma...


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Escolhi uma flor pra te dar

- Escolhi um narciso -

Por que um narciso?

Pra lembras as vezes

(Todas aquelas vezes)

Que nos espelhos dos teus olhos

Eu conseguia até me ver...


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Como foi seu dia?

Espero que tenha sido maravilhoso...

O meu? Foi daqueles bem comuns...

Acordei muito cedo

Porque roubaram-me o sono...

Depois disso esforcei-me

Para não me entristecer mais

E o dia foi passando e passando...

Agora mais um dia morto

E a mesma pergunta de sempre:

Como foi seu dia?

 

Onde Está Eu?

Onde está eu?

Me achei na luz ou me perdi no breu?


O mundo é uma grande feira livre

Só pode morrer quem vive...

O sonhador só consegue respirar poesia

Acho que nunca fui na Bahia...

Acho que ando assim meio que diferente

Na dúvida entre bicho e gente...


Onde está eu?

A semente brotou ou a flor que morreu?


O destino é a maior de todas as piadas

Nós não entendemos nada...

Os espinhos não são como fossem tiros

Eu que escolho quando me firo...

Eu que vou idolatrando o meu espelho

E vou rezando de joelhos...


Onde está eu?

Eu sou do amor ou o amor é meu?


Estou aprendendo a andar no labirinto

Agora é puro instinto...

Faltou cera para fazer as minhas asas

E pés para andar nas brasas...

Eu quero ficar por aqui para sempre

A porta abriu - entre...


Onde está eu?

Eu tenho juízo ou meu juízo se perdeu?...


(Extraído do livro "Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 285

 

Hoje a lua está de folga. Se escondeu atrás das nuvens para descansar. Não iluminará os tetos das casas dos que dormem. Não auxiliará os passantes de ruas quase vazias. Não embalará bêbedos que não voltaram para seus lares. Quer fingir que não está escutando o funk. Dispensou o concerto lúgubre de noturno pássaros. Mandou recado para o sol que este faça sua tarefa amanhã. Talvez volte noite seguinte. Hoje a lua está de folga...


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Para que rirmos de marionetes se também somos? Somos marionetes da pior espécie - achamos que somos livres, mas nunca fomos. Para que rirmos de palhaços se também somos? No grande picadeiro do mundo, apenas vivemos e isso nos basta. Para que rirmos dos tolos se também somos? Pensamos que pensamos que pensamos...


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Todo inédito tem um quê de repetitivo. Tentamos inventar algo, mas só tentamos. Toda tecnologia acaba sendo obsoleta, isso da forma mais rápida possível. Era final de ano (me lembro muito bem). Titia deu um rádio de pilha laranja e branco para cada um dos meus primos. Como gostaram! Aonde estão os rádios? Nenhum deles sabe onde foi parar...


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Sabe como é? Às vezes eu me sinto enjoado, enjoado comigo mesmo. Esse meu desconforto ante tantas coisas acaba atingindo seu objetivo, É triste? Mas é assim que funciona... Nada permanece em seu lugar, naquele que deveria permanecer. Mas eu de tanto que passei por isso, aprendi a me conformar ou pelo menos ficar num silêncio mais ou menos cínico...


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Quanto mais tempo temos, menos temos. Nossas invenções acabam nos acorrentando em nossas celas sem portas. Nunca saímos, não porque não podemos, mas porque não queremos. Nossa simplicidade que nunca foi simples, agora é bem menor. Cada vez menos nos contentamos com algo. Até o amor está na mira do tiro. Nos tornamos acumuladores doentios. Isso não podemos negar. Mesmo sabendo que na hora da partida, nada nos acompanha...


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Cada lágrima é um pedaço de mar. Um mar escuro e obscuro que o peito abriga. Maior do que todos que os mapas possuem. Mais antigo do que o próprio tempo. Cada riso é um raio de luz. Desses vadios que invadem casas. Que descobrem segredos bem guardados. Que atravessam campos de batalha sem medo algum. Cada amor é um deus querendo nascer. Não há o que possa impedi-lo. Todas as façanhas são simples gestos. Cada passo que dá atravessa o infinito mais rápido do que a luz. Cada verso já estava aqui,,,


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As teias tomaram conta das paredes. Junto com pequenas manchas enigmáticas que acabaram por aparecer. Nem eu mesmo sei se o tempo está frio ou está quente. O barulho do silêncio acaba incomodando da mesma forma. Surpresas falhas de algum passado que não sei qual medida exata. Toda propulsão um dia acaba e a próxima será outra. Pular no abismo é uma opção quase qualquer. Não gostaria de ser o que sou se pudesse adivinhar. Levanto da cadeira para acender o cigarro no fogão da cozinha. Meu isqueiro acabou o gás. Pareço com quem busca uma fogueira na escuridão. 

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

É Isto, Senhores, É Isto!

 

Vendem as veias

Para que sangue alheio corra nelas

Vendem pulmões

Para que outros possam respirar

Vendem canções

Para que outros ganhem aplausos

É isto o mundo senhores, é isto!


Vendem seus sonhos

Para que sua barriga encha de migalhas

Vendem seus votos

Para que os abutres fiquem satisfeitos

Vendem seus deuses

Em troca de um céu que nunca mereceram

É isto o mundo, senhores, é isto!


Vendem caixas de Pandora

Para que possam sempre se auto perdoar

Vendem seus belos olhos

Para que não ver de qual rebanho são

Vendem suas memórias

Para epitáfios sem graça alguma de ler

É isto o mundo, senhores, é isto!


Vendem poesia barata

Como se fosse a bunda da modelo famosa

Vendem memes sem graça

Como carpideiras bem remuneradas fazem

Vendem caminhos fáceis

Que ninguém vai conseguir trilhar

É isto o mundo, senhores, é isto!


Vendem e vendem e vendem

É isto o mundo, senhores, é isto!...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Tapete de Cristal

O tapete é de cristal

Se quebrar - fere

Cuidado onde pisa


A idade foge logo

A gaiola fica aberta

O pássaro voa


A ilusão é de fumaça

Só mais um trago

E alçará os céus


A dúvida é mais certa

Nada sabemos

Que há atrás do muro


O poder é o limite

Todo tombo 

É o mais seguro


Todo underground

Acaba fazendo

Pose de bom moço


Não estamos aqui

Nem quando

Pensamos que estamos


O tapete é de cristal

Se fosse de vidro

Também poderia ferir...


(Extraído do livro "Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

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Estar e não estar 

Eis assim

Cantar e não cantar

Até o fim


O peixe apenas nada e nada e nada


Falar e não falar

Tá mudim

Avoar e não avoar

Pobre dimim


O peixe apenas nada e nada e nada


Olhar e não olhar

Fiquei cegim

Calar e não calar

É tão chinfrim


O peixe apenas nada e nada e nada


Entrar e não entrar

Nesse jardim

Contar e não contar

Eu sou o fim


O peixe apenas nada e nada e nada...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 284

Música não tem tempo

Driblou o velho relógio

Contou todas as estrelas

Nadou em todas as ondas

Brincou pelas nuvens

Música não tempo...


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Minha mente é tão aleatória

Como qualquer vento por aí

E é por isso que a chamei

Aleatória-mente...


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Minhas palavras 

Não sabem se calar

Por isso e só isso

Até no silêncio

Acabam gritando

Sobretudo na escuridão...


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Quando eles chegarem me acordem

Apenas meus olhos estavam fechados

O paraíso em si tem muitos nomes

Nem sempre os abismos são malvados

Cada um escolhe as pedras que pisa

E também os espinhos que abraça

Os meus amores estão exaustos

Mas a teimosia sabe me dominar

Quando eles chegarem me acordem...


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Somos prisioneiros dos espelhos

Isso é sem dúvida alguma

Somos reféns de nossos sonhos

Até que eles se dissipem

Quantas bolhas de sabão sopramos

Até seu mero e esmerado suicídio?

Cadê aquele meu antigo gravador?


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Abstenho-me de qualquer comentário sobre ele

Só sei que é muito apressado e não se cansa

Que murcha as flores e arranca as folhas

Que faz todos os amores se perderem em ruas

Ele amarelou todos papéis apagou as letras

Dominou todos os exércitos sem fazer nada

Quebrou as paredes e engoliu todas as cores

Foi malvado o bastante para pisar nos ninhos

Cuidado, muito cuidado, aí vem o senhor Tempo...


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Teu nome é muito engraçado...

O meu traz a seriedade que não tem...

Me enjoa contar certas histórias...

Mesmo sendo herói delas...

Até as reticências podem cansar...

Se fui feliz não tenho noção disso...


E O Poeta Morre...

E o poeta morre... Quando a palavra falha Quando corre da batalha Quando beija o fio da navalha... Sei que morrer também é ofício Mas então ...