Não há pensamento, nem espere a morte, ela é pontual em sua crueldade nem sempre tanto. Tudo não passa de um simples copo d'água. Azuis nem sempre são azuis e nem todas as borboletas são virginianas.
Tenha cuidado com o excessivo cuidado, algumas aventuras bem valem nossos joelhos ralados e alguma poeira. Os sábios descem das montanhas e os eremitas deixam suas grutas quando chega o carnaval.
Dia desses, quase fui ofendido. Uma menina simpática e mercantilista denominou-me filósofo. Mas qual! Há muito meus papéis foram embora e eu comecei a chorar. Agora o preto-e-branco já saiu de moda e vemos tudo cinza.
Caprichemos então em nossos lamentos.
Todas as pragas que me rogaram, acabaram me abençoando e a maioria das desculpas quase funcionou. É tão engraçado, coros de anjos e drag-queens no mesmo patamar. A água é sempre água, a química é um deus louco que distribui panfletos na Rio Branco.
Louro quer café e biscoitos e a vaquinha Biúna quer seu pãozinho diário, seu Anabor, antes que um desgraçado a envenene. Toda a praxe agora é insuficiente para qualquer disparate que ligue o motor.
Apenas um clique e estará tudo pronto. Alguns jornais velhos me entristecem, tanto quanto paixões perdidas ou até bem mais. Os dedos adormecem enquanto podem e isso já é um costume mais forte do que velhas tradições.
Algumas liturgias cansam, mas são necessárias para que a barriga esteja cheia e os pesadelos durem menos. Minha brasilidade que o diga, ando como quem toma um choque. A pilha está gasta, mas o berro ainda funciona.
Preciso urgentemente de alguma futilidade que me valha a pena. O selinho da garota de programa que me deixe com a boca vermelha como nunca tive. Que ela me elogie como um simples deboche ou esperança de aumento de cachê.
Fui eu que traduzi aquelas lâminas de pedra ancestrais e jogo minhas runas com um copo de cerveja ao meu lado. Em mim todos os mortos reclamam de suas faturas e da carestia do preço das novidades banais.
Desprezo à estética malkaviana de saber de tudo, o pudim e o uber agora resolvem tudo. Tomo até banho de calma e rio se há discussão no vizinho da frente. Invertam tudo e dará no mesmo. Todas as rendas sugerem vendas ou quase todas.
Vamos economizar reticências para o próximo final de semana. Bem feito! Bem feito! Tudo acaba em nada mesmo e o ainda posso usar o meu riso de canto de boca quando quiser.
Não há mentes, nem ventiladores, apenas algumas assombrações pacatas que movem objetos na mesa da sala. Não há mais o poço e nem a imagem guardada em minha memória. Tudo é plenamente esquecido enquanto lembrado.
(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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