Eu não sei o que faço, mas faço. Eu não sei o que quero, mas quero. E o meu coração batuca que nem um bloco de bêbados voltando para casa na quarta-feira. Os sonhos agarram-se à minha pele feito parasitas que são bem-vindos.
Não tenho a medida de todas as coisas, mas isso pouco importa agora. Viver é uma grande aventura, mas também uma empreitada de alto risco, cheia de perdas e ganhos. A maioria dos homens perde, mas nem todos notam tal coisa.
Um silêncio cortante zune em meus ouvidos, parece até o tema de algum filme antigo e esquecido em algum canto. Cada um escolhe involuntariamente a sua canção. Há muitas variações sobre o mesmo tema.
Gostaria de subir na montanha mais alta possível, onde não poderia ver mais nada que não fosse eu mesmo, mas tal façanha é impossível. A banalidade possui algumas notas promissórias que assinei sem saber e cobra os compromissos que assumi.
Fazer uma nova aventura seria muito bom, desenferrujar as peças de minha velha máquina, mas agora isso é impossível. Os dias se tornam objeto de atenção irritante, mas esta é a tarefa dos que conseguiram envelhecer. Doem-me todos os lados do maltratado corpo.
Como anda o mundo? Da mesma forma que sempre esteve, essa é bem a verdade. As cores mudaram, mas as paredes continuam as mesmas. Círculos sempre foram circulares e ainda não conseguiram escapar de tal conformidade.
Os velhos temas ainda embalam os destinos. Mais pessoas, mais problemas, eis a chave para a solução de todos os males. Carnavais novos, folias repetidas.
Escuto barulhos conhecidos, alguns apenas barulhos, outros sinais de alerta. De que algo precisa ser feito, mesmo que eu não veja mais isso, ir embora é tão certo como chegar.
Eu não sei o que faço, mas faço. Eu não sei o que quero, mas quero. Eu não tenho mais noção de coisa alguma, mas ainda penso e me entristeço muito com isso...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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