segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Assim É Se Não Lhe Parece

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Assim é, se não lhe parece. Caímos sempre nas malhas da nossa ilusão. Um segundo é o que basta para cada funeral, caso encerrado. Podem me chamar de triste, eu sou. Podem me chamar de mórbido, talvez seja. Mas inegavelmente não podem escapar de todas as armadilhas que a vida dá.
Aguentem meu deboche se puderem. Eu venho de muitas eras distantes, onde a inocência até existia. Não sou o hoje que pode acontecer ou não, não sou o amanhã que está cheio de preguiça, eu sou o ontem que pegou a faca e deu seu golpe tão profundamente...
Mistério é o que há para agora, tanto nas coisas mais banais quanto nas mais solenes. A plateia deveria aprender a rir de si mesma. Toda a grandiosidade (salvo raras exceções) acaba se estrebuchando em pleno asfalto e os pequenos detalhes permanecem.
Toda moda é antiquada e a velhice sempre chega, mesmo em cadáveres recém-feitos. Todos os sustos acabam passando, todas as catástrofes acabam acabando, mas as palavras como setas mudam toda e qualquer história...
Meu relógio anda cansado. Os festivais se acabaram e os carnavais agora não são mais os mesmos. A bizarrice toma conta da raça humana. Sempre foi assim, mas nos novos velhos tempos, os destaques superaram todas as expectativas.
Minha cadeira ficou desconfortável ou será que sou eu? Toda a culpa já vem embalada em seu devido frasco, pronta para uso, é só agitar e beber. Livros para o lixeiro levar e lixo para a gente comer...
Galileu se remexe em seu túmulo. Bachianas Brasileiras em ritmo de funk para a massa aceitar. Queremos pandeiros eletrônicos e cuícas acústicas. O Papa não é mais pop, agora o pop que é o Papa. Novas correntes de ouro para os escravos e brincos delicados para os pés.
Eu miro um alvo e acerto o outro. Artistas de rua dignos de algum Louvre e esquinas mais perigosas que a faixa de Gaza. O rei vestiu a sua roupa e isso foi o novo escândalo do momento. Os espelhos acabaram executando sua vingança e os otários somos nós...
Qualquer flor que colocamos as mãos acaba morrendo. Todo anonimato acaba às avessas. Sou rude até de menos, gosto apenas de encurtar caminhos sem usar atalhos. Sutil como um paquiderme quando a manada estoura. A fada dos dentes acaba fugindo do dentista.
As mãos conhecem mais sobre os versos do que os acadêmicos e os pés sabem rezar mais que os sacerdotes. O acrílico virou relíquia e os nobres só usam plástico. A simplificação complica. Os botões nos confundem e as bombas são agora mais simplificadas...
Queria poder dançar pelas ruas da cidade, mas elas não existem mais...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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