quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Atropelo

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Fico desesperado por tudo e por nada, ao mesmo tempo, sem saber quem é quem, salgado ou doce, amargo ou doce, azedo ou doce.
E acabo subindo ladeiras como quem desce escadas quase caindo, ao sabor de ventos que, afinal, ora bolas, eu nem senti.
Faço canções que depois me arrependo, versos que são tão banais como os segundos, pobres segundos do meu relógio barato de camelô.
São esses risos que saem da minha boca, sem permissão alguma, sem propósito algum à não ser, serem o que são e isso já lhes basta, a pirraça vem ao meu encontro.
Faço uma corrida com a minha imobilidade e isso pode ser até um pouco interessante. Tudo depende do ponto de vista que olhamos, mas o cara quase sempre chega atrasado dando desculpas sem o menor cabimento.
Eu queria ter mais olhos do que boca, mais céus do que terras para percorrer. Porém, contudo, todavia, entretanto, as minhas preocupações preferem ter uma lógica mesquinha mais que cartesiana. 
Os meus beijos são antigos, guardei-os um por um, mas agora são meros cadáveres reclamando por seu justo descanso.
Gostaria de reclamar mais um pouco, mas essa empresa não tem seção de reclamações, o cara que fazia esse serviço teve estafa e acabou tirando férias urgentes. 
Nem é preciso me dizer o que a lógica joga na minha cara, isso é puro desperdício de energia. Não há bons e nem maus nesta grande ciranda, só há humanos.
E por falar em humano, ando muito cansado pra escolher o que poderei ser na minha próxima encarnação. Chega de ser gente ou arremedo de tal. Posso ser bicho, pedra, flor ou estrela, tanto faz.
Sentir, pensar, andar, pode ser muito bom, mas também cansa. O cansaço é tudo aquilo que procuramos para depois nos arrependermos.
Eu sou aquilo que não sei, o que conheço acaba não me agradando tanto como o insólito. Estrelas cadentes são mais bonitas que pinturas de arte de vanguarda.
Tenho dito, pois sou poeta e os poetas é que guardam as chaves da loucura. Sem a loucura não há mais nada, até o niilismo acaba escorregando de ladeira abaixo. 
Continuo sem saber a resposta de todas as perguntas que sempre insisti, as que obtive não davam nem para pagar o meu cafezinho, pode ter certeza disso.
A filosofia anda cansada, precisa de um spa para ontem. O real acaba, mas enquanto prevalece acerta os socos que dá. Até a imortalidade acaba desfalecendo. Tenha certeza.
Por baixo de cada ferida, uma nova inflamação. Todo amor é bem-vindo desde que não seja canalha, de canalha já basta eu, tenho tudo isso mais do que documentado.
Novidades acontecem, mesmo as mais previstas, anunciadas em toda a mídia, mais esperadas. Não acontecer nada é o que mais abala as multidões.
Através do decorrer da história, grandes mancadas acabaram dando certo e viraram grandes feitos. O mesmo acontece hoje e sempre irá acontecer. O destino é um grande debochado. 
Deboche é a única coisa que ele sabe fazer, afinal de contas a estatística acaba quebrando a cara, isso é mais normal que poderia acontecer.
Vamos acender velas vez em quando. Quem sabe se a luz não ilumina os tolos e eles acabem acertando pelo menos uma vez? Nunca se sabe...
Cansei de gritar para as paredes, elas são boas ouvintes, mas carecem de conselhos para poder me dar. A apatia delas é meio parecida com as dos ricos quando olham a pobreza injustificada de outros milhões.
Tudo se torna uma grande brincadeira quando rimos, nem os funerais conseguem escapar de tal coisa. Antes de morrer, quero poder abrir a gaiola de meus risos e soltá-los um por um.
Choros presos fazem mal, mas risos são pior. Toda piada cobra o que lhe devemos, como os atores cobram palmas da plateia. 
Paixões presas são perigosas, mas amores feridos são mais ainda. Tudo pode se tornar o seu oposto em apenas um instante e nada foge à esta regra básica e simples.
Eu sou o palhaço deste grande circo, capricho nos tombos e nos absurdos mais solenes. Profeta de todas as evidências, sem porto de chegada ou partida. Quem tem uma tábua aí?
Como já diziam os antigos, estou amarrado de corda. As camas de pregos me são confortáveis demais, ando tranquilamente sobre milhares de cacos de vidro. A vida possui venenos bem piores do que os suicidas engolem...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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