Por mais que o tempo me afaste de todas as coisas, uma parte de mim ainda estará sempre por lá. Não é exagero dizer que o velho que sou ainda continua menino, menino, menino tantas e tantas vezes que assim o perguntarem.
Eu vejo tudo ao meu redor cheio de medo, soluço e engulo o meu choro e como dói minha garganta. Um amargo vai descendo aos poucos como um veneno que enfim vai parar todas as minhas funções vitais.
Acabo quase duvidando de tudo que aprendi um dia. Não há mais a simplicidade, encanto verdadeiro de tudo que há. Mas, teimoso que sou, pirracento com certeza, ainda continuo insistindo em guardar tudo que ganhei, fugiu tudo de minhas mãos, mas da alma, não!
Eram os bacurais, eram os lampiões, eram os carnavais, eram as estações...
Onde andará a singeleza que superava a vaidade que em nada vai dar? Ainda conto conchinhas e faço castelos na areia molhada. Não aprendi a andar de bicicleta, pelo medo do tombo, mas ainda sou o que mais sonha. Estou aqui! Escutem meu canto desafinado que fala de nada, mas acaba falando de tudo.
A água pelos céus me trouxe vertigem, faltou ao ar e eu desmaiei. Por triz, como tudo o que há, por um triz, mesmo quando pareça bem diferente. Tudo é como é.
Eu não morri, nada morreu, apenas um véu macio cobre tudo, não sei até quando, mas talvez até a minha redenção. Farei caretas se chegar lá em cima, escolherei a nuvem mais macia para meu descanso. Desculpem, anjos, não toquem harpas, os violinos são bem mais bonitos.
Eram os bacurais, eram os lampiões, eram os temporais, eram as emoções...
É um velho na praça vendo como é rápido a lentidão de tudo o que há. Os passarinhos são o coro mais lindo que existe, o vento o animador de plateia e as folhas caídas dão seus saltos mortais.
Eu gostaria de fechar os olhos, tapar os ouvidos, cerrar os dentes, mas para isso deveria estar tudo bem, mas não está. Toda a dor do mundo ainda é minha, toda sombra ainda escurece meu caminho e cada maldade acaba atrapalhando meus versos.
Tenham pena dos meus versos, são crianças miúdas que mal aprenderam à andar, falam poucas coisas, não conhecem quase nada, mas pelo menos tentam sorrir.
Eram os bacurais, eram os lampiões, eram só sinais, eram as estações...
Cada manhã é um viajante que segue sem dizer um adeus, saudade qualquer um deixará, mesmo que vejamos um papel em branco, é que há mensagens que são invisíveis como o ar que nos cerca, nem por isso são dispensáveis.
Ainda há caras e bocas num televisor desligado, não foi culpa minha, nem culpa de ninguém. Afinal, somos seres humanos e todos nós trememos. De frio, de fome, de vergonha, de aflição. Até os soldados se amedrontam no primeiro barulho dos canhões.
A verdade é que cada um gostaria de viver mais um segundo. Me deixe sair da fila, me deixe sair da espera. Já provei minha paciência em quase todos os ângulos, mas alguns até que são demais.
Eram os bacurais, eram os lampiões, eram os festivais, eram os corações...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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