terça-feira, 2 de outubro de 2018

Benzedura

A REZA POR DONA SINFOROSA | PATRIMÔNIO PARA TODOS
Meu ajuda criatura! Tá me dando uma tremura... Eu não sei o que é que cura. Pode ser até frescura. Mas sou bom e me atura...
Em passos desencontrados encontrei o meu destino. Em sombras de papel fiz ilusões. Quase todos os dias havia uma visita. Como vai? O sono e o medo faziam seu par...
Quero apenas um segundo. Eu não sei falar quimbundo. Já andei por meio mundo. Mergulhei lá no fundo...
Estou cansado como todos. E os carros apressados cumprem seu papel. Os insetos pousam onde necessário for. E as chances são apenas cartas marcadas pelo invisível...
Agora só falo não. É mais do que uma tentação. Caminho pela escuridão. Só quero uma refeição. Então?
Velozes e furiosos na minha poética licença. São muitos códigos. Muitos mesmo. A única decoração possível é a da velha casa. Nunca antes fomos tão depois. Primeiro o um e após o dois...
Antes do antes vem o depois. Há muito que se propôs. Quero meu feijão com arroz. O rei mesmo se depôs. Ora pois pois...
A filosofia pula de galho em galho. Cansam deveras propostas de arremedos. É um frio de tirar a camisa. O trabalho não dá tanto trabalho assim. Borboletas e lâmpadas são as dádivas da velha sala...
Fatos e fados estão fadados. São tiros para todos os lados. Os penduricalhos estão pendurados. Para jogar dados nos faltam dados...
As minhas musas foram na manicure. Eu escutei velhas toadas até dormir. Nossas mancheias estão vazias. Não entender é uma forma de interpretação qualquer. Nada mais e nada menos...
Cada vida é viva. Depende da iniciativa. Só conhecemos isso de oitiva. Como anda devagar a nossa diva. Nem sempre temos alguma coisa nutritiva...
Os gatos parecem com alferes. E os cães são patuscos quando o são. Há bem mais que três patetas nos conferes. Fique sério toda vez que rir. É isto mesmo o que precisamos...
Temos medo de abrir a cova. Domingos não são feitos para prova. Nem sempre a renovação nos renova. Eu acabo ganhando uma sova...
Não conto bem mais do que meus dedos. A linha do horizonte não é chilena. Botecos e estrelas têm semelhanças esparsas. Eu mexo com as tintas como quem corre algum perigo. Cinzas aparecem de todos os cantos...
Nunca pensei no pensamento. Errou? Só lamento. Logo chega qualquer vento. Seja breve por um momento. O fogo sempre foi meu elemento. Nada foi à contento...
As fadas capricham naquilo que não fazem. Estou com sono e não quero sequer dormir. As pausas foram feitas para os que têm. Está aberta a temporada de caça aos fatos. Almôndegas caem muito bem...
Se eu pudesse me prolongava. Com mil artifícios logo escapava. Eu estou aonde não estava. Por essa eu já esperava. Não desejo mais o que desejava...
A velha benzedeira briga com o quebranto. Falar tem todo um não-significado. O pós-moderno morreu como ancião. Um instante perdido paralisa o ar. Acadêmicos e sábios desculpem o mau-jeito...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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