quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Vou Matando

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Vou matando eu mesmo
sem dó nenhuma, sem piedade
toda vez que amo sem ser amado
toda vez que falo a verdade

Eu sou aquele que executa
nas vezes que choro pela vida
aquele que a súplica não escuta
que coloco o dedo lá na ferida

Eu mostro a miséria presente
os dias cheios de falsidade
esta sociedade tão doente
a moral com a fragilidade

Não tenho pena de nada
ai quem me dera ter sentido
é que a verdade é minha amada
ai quem me dera ter mentido

Falado que tudo é tão bom
e que a moral é decente
cada peito falta um coração
e todo são já está doente

Cada vida apenas quimera
goleiro de frente pro gol
cada um é mais uma fera
humano - é isso que sou

Eu sou aquele seu carrasco
aquele que não escuta o clamor
eu tenho ojeriza, tenho asco
mas também sempre sou amor...

Um Cigarro para Kamilly

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Morta e viva ao mesmo tempo na loucura insana de todos os dias. A rotina é a cortina dos cegos e dos desvalidos. Nem as coisas mais evidentes estão onde elas estão. As notícias lá de fora são meras banalidades escritas na areia mais fina.
Há hieróglifos pelas paredes com símbolos mágicos e muitos palavrões. Assim é o mundo em pílulas que matam sem matar. Nada sabe, nada sabemos, eis a flexão do verbo que nos ensinaram.
A falta de modos parece ser o modo mais correto. E a inutilidade já veio nas instruções de uso. Ocupe o espaço, queime oxigênio, colabore com a estatística, ajude nos gráficos, faça merda. Faça merda, seja merda, seja a derrota de Deus no mais cruel dos testemunhos.
Cada lugar é lugar nenhum. Aqui e ali e acolá é a mesma coisa. Pardais e mísseis são bem parecidos. Só as canções mudam. E os passos que alguém ensinam sei lá onde. Cordel às avessas por causa da pinga que alguém um dia tomou.
Leis? Tá gozando da minha cara? O único milagre existente é o pulmão que faz. Valentia? Coragem? Essa sabe bater o pé na bunda e sabe muito bem. Bravo é o cão antes de apanhar do gato. Corajosa é a barata que atravessa o asfalto. Seja esmagada e um clássico acabou de ser escrito.
Silêncio na praça ocupada pela multidão. A equipe de som toca o maior dos silêncios. Não desperdice a chance dos cinquenta centavos caídos no chão. Maconha de cinco hoje na promoção. E a cara do noia era engraçada.
Patéticas palavras que não servem para mais nada. E o filme repetido na televisão nova cheia de poeira. Queremos a sombra do vale das sombras e nem sabemos disso. Entender nada pode ser a mostra da maior inteligência. Não se sofre se cantamos a música estrangeira. O cara xingou a própria mãe e não sabia. 
Confunda as coisas o máximo que puder. A mulher vira homem. O homem vira mulher. Labirintos são feitos para se perder. E os fios que nos salvariam foram usados para enforcar o mais inocente de todos que já vi.
Meia dúzia e seis são quase a mesma coisa. Detestemos o que detestamos já de antemão. Tudo envelhece com pouco tempo. E nudez não causa mais comoção. Essas imagens não possuem mais vidro e nem medo algum.
Quase amamos e é o máximo que podemos. As luas são infinitamente grandes debochadas. Um desafio maior é ser alguma coisa. Vamos rindo das piadas que não têm graça. O maior presente nesse momento presente é o desprezo. E o que sai dos seios é puro veneno.
Não pergunte e nem responda porque isso pode fazer muito mal. E a única sensação boa é do sonho desfeito. O profeta profetiza sérios absurdos. Que tudo voltou ao normal e acabou a cerveja. Batucar nas panelas e quebrar os móveis da sala. Rabiscaríamos nas paredes se pudéssemos. Casa de pedreiro o espeto é espeto.
O primeiro à entrar que acenda a luz. Os pesadelos agora já fazem fila. A atriz pornô quase gozou. O instinto de sobrevivência se viciou em abismos. O marrom agora é verde por decreto. E um carnaval em dias proibidos.
Quem ligou a máquina do vento sabe o que faz. As fotografias se enjoaram do papel. É melhor não enxergar do que ser cego. E as uvas-passas estão chegando. No natal comemoramos um velho chato que adora coca-cola e não sabe rir.
A mais puta caprichou na lição de casa. O sonhos estão abertos para visitação pública. Não há mais restos de comida no prato. Os restos agora são outros. São vendidos em embalagens coloridamente indispensáveis. Cada caminho é caminho nenhum. Cada meta não deve ser mais alcançada.
Rouxinóis agora não escutam mais apelos. E aquilo que foi belo algum dia agora faz parte do abominável. Isso aí. Adjetivos sem questão e superlativos arrumados pelas prateleiras. Gavetas e tapetes agora são desnecessários. Dispensáveis até. 
Nunca mais fale mais isso. Um simples sabonete pode mudar toda uma história. E um pequeno beijo faz vida e morte. Podem dar alguma esmola para esse cego. A minha tábua ouija já está programada. Sinais de fumaça agora bem vindos.
Nem acreditei quando colocaram créditos. A felicidade agora é a tristeza com um outro molho. Chutem os cegos. Batam nos mendigos. Assustem as crianças. Traição agora é bem-querer. Freud agora se preocupa mais em fumar seus charutos. Foda-se.
É proibido proibir. Só que o preço é bem alto. Os memes que o digam. Isso foi macumba e das brabas. Aperte a tecla se assim o quiser. Esqueça isso. A mente está deveras cansada. Qualquer coisa serve agora. É só procurar no site e está lá.
Desculpe a bagunça daqui de casa. Faltou avisou para uma revolução. É desconhecido o que é. Pode ser um cemitério clandestino em pleno Central Park ou alguém cagou na Calçada da Fama. Gosto é gosto. Já dizia uma velha que esqueceu de morrer.
Morta e viva ao mesmo tempo depois de alguma coisa. Se fodeu! Se fodeu! Compre uma cova com antecipação. Capriche no caixão e nas outras coisas. Quem chora cumpre seus compromissos. Jogue fora suas roupas que hoje é o dia do lixeiro. Prometo que encho a cara no dia do funeral. Vou falar as mesmas coisas que todo idiota diz. 
Quer um cigarro Kamilly?...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Eu Sei de Tudo

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eu sei de tudo
não sei de nada
eu sigo mudo
por essa estrada

eu sei da vida
eu não sei da morte
eu vi a ferida
mas não vi o corte

eu tenho fome
também tenho frio
perdi meu nome
eu sou um vadio

eu sei correr
também sei cair
eu com você
não estou aqui

eu sou da terra
sou de outro mundo
não quero guerra
sou um vagabundo

eu não vi a uva
também nem o ovo
a vista turva
desmaiei de novo

eu não sei a letra
mas eu sei cantar
se estou careta
é que posso voar

eu faço a festa
sou o rei da folia
um sol na fresta
acenderá o dia

eu faço o verso
tem o pé quebrado
não sou perverso
mas como sou errado

eu falo asneira
mas ela é sincera
é uma maneira
de domar a fera

eu faço a pirraça
acordo a vizinhança
quem tem a graça
sabe toda a dança

eu tenho estilo
meu estilo é felino
não ter sigilo
eis o meu destino

eu sou um poeta
como da palavra
é a minha seta
mas não é escrava

eu sei de tudo
não sei de nada
eu sigo mudo
é pela madrugada

Pobre de Mim

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o som já morreu
e a luz fugiu das minhas retinas
o tempo se escondeu
e agora só há por aí esquinas
não sou mais eu
sou apenas resultado de várias sinas

gato de pelo ruim
mais triste assim
pobre de mim...

o dia amanheceu
o sol é como a arma que dispara
a aranha já teceu
a armadilha mais bela e rara
minha fé de ateu
brinca e gargalha na minha cara

não sei donde vim
é não ou é sim?
pobre de mim...

o mundo é um fariseu
isto está mais do que provado
o bicho já comeu
aquele meu sonho guardado
a noite é um breu
voltei pra casa assustado

gato de pelo ruim
anjo de botequim
pobre de mim...

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Antes do Antes

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plácidos corações amarrados em bando
ciranda amena de uma juventude perdida
eu não conheci nada em meio à tudo
quase que essa feia cidade me encanta
meu relógio saiu correndo de desespero
e as explicações que eu tinha saíram correndo
os ossos chacoalham silenciosamente
e os nossos próximos jazigos estão prontos
são épicas essas histórias que não temos mais
a demência acabou bebendo a aguardente
enquanto os meus sapatos davam notícias
a estrada acabou tendo um amor por mim
eu estou proibido de respirar dentro do fogo
afinal de contas as dores tem seus direitos
nunca mais falarei com as paredes do quarto
seguramente bons conselhos são tentações
se ver meu coração por aí mande lembranças
os pássaros ainda estão quietos nas nuvens
e mesmo que insistisse não poderia fazê-lo
entre logo no poço cheio de escorpiões
e sinta as carícias que meu leito nunca deu
a mentira acabou tendo lá suas dúvidas
e as minhas torturas fizeram sua lição de casa
a contramão é o único jeito de conseguir
algum consolo para nossos dilemas inúteis
nunca faça versos debaixo das chuvas
o óbvio vem aí com seus argumentos vazios
não tentarei nunca mais o que mais importa
uso as cartas que acabaram caindo da manga
espelhos azuis são exímios bailarinos
e os solos de piano encontram-se quietos na fila
a nudez dela pode ser apenas um disfarce banal
eu quero descansar de todas as minhas artes
e me esquecer se algum dia eu esqueci
só a maldade conhece todos os aposentos
os meus discursos foram os mais hilariantes
só se superando com as piadas dos funerais
daqui um segundo um segundo vai além
as pérolas acabaram indo para outras paragens
e o brilho dos teus olhos é simplesmente um abuso
acabou o milho e acabou de acabar a pipoca...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Ela Canta

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Ela canta
seu canto me espanta
me desnorteia
seria a sereia?
anjo ou capeta?
ilusão ou cometa?

Ela canta
seu canto me encanta
num dia findo
que rosto mais lindo
outro não vi
está aqui ou ali?

Ela canta
seu canto me acalanta
numa noite escura
a mais pura loucura
seguro porto
estou vivo ou morto?...

Não Que Eu

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não que eu seja
não que eu veja
não me proteja

eu vou por aí por todos os cantos
cada passo que dou é uma magia
já estão secos aqueles meus prantos
troquei a minha noite pelo teu dia

não que eu cante
não que eu me espante
não que eu me agigante

eis a pergunta: onde é que vou parar?
onde estão as estrelas do meu bolso?
Um dia conseguirei parar de chorar?
e olha que eu achei que era um moço

não que eu dance
não que eu amanse
não que eu tenha chance

eu permaneço no mesmo canto sentado
o silêncio é tudo que ainda me restou
enquanto eu canto mesmo se calado
por onde andará esse meu grande amor?

Tiro de Raspão

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Aquele tiro que você me deu
só pegou de raspão
o meu corpo não morreu
só morreu meu coração

Morreu com mentiras baratas
com aquela sua traição
e eu nem vali trinta pratas
no meio da multidão

Quase pegou na minha bola
e me jogou pelo chão
mas como a vida é um escola
eu encerrei a questão

Aquele tiro que você me deu
parecia até de canhão
o meu corpo se surpreendeu
mas não perdi a razão

Morreu todas as vãs esperanças
apagou aquela imagem
vou desmanchar suas tranças
borrar sua maquiagem

Quase pegou na minha testa
mas até que me defendi
agora é só um fim de festa
vou ver se vou por aí...

Eram Os Bacurais, Eram Os Lampiões

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Por mais que o tempo me afaste de todas as coisas, uma parte de mim ainda estará sempre por lá. Não é exagero dizer que o velho que sou ainda continua menino, menino, menino tantas e tantas vezes que assim o perguntarem.
Eu vejo tudo ao meu redor cheio de medo, soluço e engulo o meu choro e como dói minha garganta. Um amargo vai descendo aos poucos como um veneno que enfim vai parar todas as minhas funções vitais. 
Acabo quase duvidando de tudo que aprendi um dia. Não há mais a simplicidade, encanto verdadeiro de tudo que há. Mas, teimoso que sou, pirracento com certeza, ainda continuo insistindo em guardar tudo que ganhei, fugiu tudo de minhas mãos, mas da alma, não!
Eram os bacurais, eram os lampiões, eram os carnavais, eram as estações...
Onde andará a singeleza que superava a vaidade que em nada vai dar? Ainda conto conchinhas e faço castelos na areia molhada. Não aprendi a andar de bicicleta, pelo medo do tombo, mas ainda sou o que mais sonha. Estou aqui! Escutem meu canto desafinado que fala de nada, mas acaba falando de tudo.
A água pelos céus me trouxe vertigem, faltou ao ar e eu desmaiei. Por triz, como tudo o que há, por um triz, mesmo quando pareça bem diferente. Tudo é como é. 
Eu não morri, nada morreu, apenas um véu macio cobre tudo, não sei até quando, mas talvez até a minha redenção. Farei caretas se chegar lá em cima, escolherei a nuvem mais macia para meu descanso. Desculpem, anjos, não toquem harpas, os violinos são bem mais bonitos.
Eram os bacurais, eram os lampiões, eram os temporais, eram as emoções...
É um velho na praça vendo como é rápido a lentidão de tudo o que há. Os passarinhos são o coro mais lindo que existe, o vento o animador de plateia e as folhas caídas dão seus saltos mortais.
Eu gostaria de fechar os olhos, tapar os ouvidos, cerrar os dentes, mas para isso deveria estar tudo bem, mas não está. Toda a dor do mundo ainda é minha, toda sombra ainda escurece meu caminho e cada maldade acaba atrapalhando meus versos.
Tenham pena dos meus versos, são crianças miúdas que mal aprenderam à andar, falam poucas coisas, não conhecem quase nada, mas pelo menos tentam sorrir.
Eram os bacurais, eram os lampiões, eram só sinais, eram as estações...
Cada manhã é um viajante que segue sem dizer um adeus, saudade qualquer um deixará, mesmo que vejamos um papel em branco, é que há mensagens que são invisíveis como o ar que nos cerca, nem por isso são dispensáveis.
Ainda há caras e bocas num televisor desligado, não foi culpa minha, nem culpa de ninguém. Afinal, somos seres humanos e todos nós trememos. De frio, de fome, de vergonha, de aflição. Até os soldados se amedrontam no primeiro barulho dos canhões.
A verdade é que cada um gostaria de viver mais um segundo. Me deixe sair da fila, me deixe sair da espera. Já provei minha paciência em quase todos os ângulos, mas alguns até que são demais.
Eram os bacurais, eram os lampiões, eram os festivais, eram os corações...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Eu Rio

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Eu rio do rio
já me acostumei...
No cio um frio
por aí onde andei...

Eu poeta eu sou mau
arranco rosas com dos dentes
E me lembro do carnaval
outros dias mais contentes
Foi antes do temporal
os meus pés estão doentes...

Eu frio do rio
já me transformei...
No cio do rio
nunca mais eu terei...

Eu poeta sou louco
tenho meus dedos dormentes
Esperando tão pouco
talvez uns dias mais diferentes
De tanto gritar sou rouco
por desejos mais ardentes...

Eu Sou Um Canalha

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Eu sou um canalha, não presto, 
sou um traste, o resto
e nos meus versos não exprimo nada,
sou o óbvio, a palhaçada,
repito as mesmas porcarias
que disfarço como alegrias.

Eu sou um canalha, um inútil,
um inconsequente, um fútil,
digo que sou sempre o melhor,
mas sou de carne, sou pó,
dou importância ao dinheiro
e nunca fui um guerreiro..

Eu sou canalha, um basbaque,
a minha defesa é o ataque,
tenho sempre a razão,
mesmo sem ter coração,
sou mesquinho e tão falso,
o meu rumo é o cadafalso.

Eu sou um canalha, filho da puta,
a vida podre, só há disputa,
acho que tudo eu venci,
nem vou percebendo que morri,
morri de inveja, de mesquinhez
e nem percebo que é minha vez.

Eu sou um canalha, uma tralha...

domingo, 28 de outubro de 2018

Façam Suas Apostas, Senhores!

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Façam suas apostas, senhores!
Os nossos jogos já vão começar!
Apostem nos prazeres mais efêmeros,
Nas ilusões mais vazias, torpes, inúteis
Que faz que o tempo que temos corra,
As rugas cheguem e a morte chegue!

Façam suas apostas, senhores!
Hoje a noite promete ser maravilhosa!
Encontrem o medo em cada esquina,
A violência espreitando pelos cantos,
A maldade, a sordidez em todos nós,
Novas guerras ainda serão inventadas!

Façam suas apostas, senhores!
Preparem todas as mentiras possíveis!
Custa tão pouco poder trair os amigos,
Destruir todos os alheios sonhos,
Rasgar todas as nossas fantasias
E quebrar todos os nossos brinquedos!

Façam suas apostas, senhores!
Cuidem muito bem de suas vantagens!
Falsos milagres para falsas orações,
Vamos sorrindo junto á tristeza,
Gargalhando sem motivo nenhum,
Como hienas para um banquete de restos!

Façam suas apostas, senhores!
Juntem todas as suas moedas dos bolsos!
A plateia está lotada, o orgulho chega
Acompanhado da mais tola vaidade,
O seu prêmio será mil palmas desnecessárias,
Todos somos idiotas ao mesmo tempo!

Façam suas apostas, senhores!
Até eu vou fazer as minhas...

Ela Vela a Vela

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Ela vela a vela
para que queime tudo, não sobre nada...

Ela é a paixão que mata,
o amor que dá a vida,
ela é a faca que corta,
mas também é a ferida...

Ela vela a vela
para que queime tudo, não sobre nada...

O relógio anda devagar,
esse lento tudo exprime,
ela é o meu perdão,
mas também meu crime...

Ela vela a vela
para que queime tudo, não sobre nada...

E pra onde vire a cara,
ela não sai da mente,
me sinto tão bem,
devo estar doente...

Ela vela a vela
para que queime tudo, não sobre nada...

Ela é a mãe e a filha,
ela é o almoço e a janta,
eu entendo e não entendo,
é a pecadora e a santa...

Ela vela a vela
para que queime tudo, não sobre nada...

Tenho que então parar,
tentar dormir um pouco,
parar de fazer poemas,
parar de rir tal um louco...

Ela vela a vela
para que queime tudo, não sobre nada...

sábado, 27 de outubro de 2018

Uma Saudade

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Uma saudade de dias aqueles
uma saudade pra lá e pra cá
dias que o tempo um dia levou
dias que não vão retornar...

Dias de um leve balanço
que a brisa também balançou
hoje nem sei por onde ando
hoje nem eu sei aonde vou...

Quase que esqueço de mim
não sei mais o meu endereço
pois tudo que começa acaba
temos que pagar o seu preço...

E o gosto amargo na boca
chega ao fundo de minh'alma
e sinto como se até o desespero
fosse repleto de mais calma...

Uma saudade de dias aqueles
uma saudade pra lá e pra cá
e enquanto há vida lá fora
aqui dentro só posso chorar...

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Balada do Cavaleiro da Solidão

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Eis que venho com meu fiel ginete de terras ignoradas e de tão longe, mostrar-lhes em nesses versos de sangue a tristeza que carrego sempre. Não reparem, é tudo que tenho e que posso mostrar.
No mais, eis aqui essas rugas que o tempo me presentou e as minhas lágrimas, dois rios que seguem em direção ao nada. Passo horas me frente ao espelho, não por vaidade, mas para ver se descubro respostas para algumas envelhecidas perguntas: onde estarão todos que um dia amei? por que a morte os levou com seu vento tão frio? e os amores que tive? ainda existirão em alguma dessas pesadas nuvens?
Eis que fito com o coração aflito velhos moinhos. Novo Quixote que sou de passados tempos, só consigo ver a maldade de muitos, as novidades insanas, as pedras de castelos desmoronados que fazem das grandes cidades antigos depósitos. Depósitos de que? Do lixo que fazemos ao decorrer dos dias e que dia desses nos sufocará...
No mais, não encontro mais nenhum dos carnavais como aqueles, em que um menino se vestiu de palhaço e riu de tudo, usou todas as cores do mundo para mostrar tudo o que queria, e que afinal, hoje não quer mais.
Me preparo para abrir a porta da gaiola de todos os pássaros, também abrirei a porta dos sanatórios para que de lá saiam os seres mais sensatos que a natureza criou. Não sei, sinceramente, qual o preço de tal risco, mas é esta a minha empreitada. 
Talvez os meus versos me protejam, aclamados pelas multidões ou silenciosos num canto de escura caverna, tanto faz. Meus versos, meus versos, meus versos, amigos inseparáveis, filhos de minha grande amada, criações do louco cientista que sou.
Eis que o trotar quebra o silêncio da amortalhada noite, perturba o silêncio pelas madrugadas e espera um novo dia que virá aos poucos com seu punhal rasgando a escuridão. Aí sim, com o começo de uma nova manhã, poderei te encontrar, minha amada que ainda dorme o sono passado...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Tão Comum

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Tão comum...
os dias fazem sua parceria
a acabam tirando nossa alegria
catástrofes guerra muita fome
tragédias famosas ou sem nome

Tão comum...
destinos em leilão são assim vendidos
paixões e amores todos traídos
não há caminhos só há estradas
e publicamente mentiras são contadas

Tão comum...
entrar em desespero perder a calma
lembrar do corpo esquecendo a alma
achar que qualquer plano dará certo
desconheça que o inimigo está perto

Tão comum...
achar que só com os outros acontece
e que tudo o que sobe nunca desce
ver beleza onde beleza não mais há
ser mais um tolo e disso até gostar

Tão comum...
achar que ter sucesso é ter um carrão
que o objetivo da vida é ter um milhão
achar que o comum agora é estranho
ser mais uma ovelha dentro do rebanho...

Tão comum...

(Extraído da obra "Novidade dos Metais" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Urbana Idade Número I

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dias tempestuosos estes
onde tudo se funde e se confunde
e as nossas solidões fazem alarida companhia...

dias mais que nublados
em que as nuvens são de canos e chaminés
e as nossas feridas se abrem cada vez mais...

não é que eu queira chorar
mas esse é o nosso modo de viver
somos assim e nada podemos mudar...

e as coisas agora estão piores
com tantos arranha-céus braços erguidos
para um céu que não escuta nossos clamores...

e as filas acabam aumentando
e eis que novos ídolos surgem das sombras
mas são de barro e logo serão destruídos...

você viu a nova novidade nova?
jogue logo fora o que presta
não ter sentido algum é a palavra de ordem...

politicamente correto politicamente incorreto
amenidades nada amenas e futilidades fúteis
servidas numa mesma bandeja de prata...

lixo pelas ruas - eis a nossa nova decoração
palavras escritas inutilmente em todos os muros
nada mudou em séculos só os nossos olhos...

crianças nada inocentes - eis o nosso futuro
construir novas celas cada vez mais requintadas
e apontar o revólver para sua testa e atirar...

remédios muito piores do que as doenças
poesia sem sentido de grande mestres do nada
a maldade agora vem com cobertura de chocolate...

agora cruzes são vendidas baratas e acessíveis
podemos comprá-las em suaves prestações mensais
e sentarmos na sala para ver deliciosas calamidades...

nos palcos de teatros mambembes encenam-se
a peça de moralidade burguesa do momento
que fariam corar de vergonha a mais ralé das putas...

a morte anda sobrecarregada de tarefas
e nem os fins do mundo dão conta de tudo
e a loucura aprendeu á usar seus novos disfarces...

dias tempestuosos estes
onde tudo se funde e tudo se confunde
e as nossas solidões são carrascos e salvadores...

(Extraído do livro "Novidade dos Metais" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

As Mentiras Que Te Contam

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as mentiras que te contam
as peças que te aprontam
faz parte de um grande esquema
vamos matar o poema?

mentiras éticas
mentiras céticas
tão lindas e tão coloridas
tão engraçadas e tão divertidas!

as mentiras que te contam
as mentiras que te apontam
é apenas mais uma ferida
vamos viver sem vida?

mentiras nuas
mentiras cruas
que ferem e que maltratam
que adoecem e que matam!

as mentiras que te contam
as mentiras que te montam
faz parte da grande sabotagem
vamos até a miragem?

mentiras grossas
mentiras nossas
estamos sós num labirinto
já doeu tanto nem sinto!...

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Cena

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Eu entro em cena
faço a cena
grito bem alto
pra todo mundo ouvir
me descabelo
me lacrimejo
nada mais faço que isso...

É tudo cena
vivemos a cena
acordo a vizinhança
com pedidos absurdos
talvez me ouçam
bem provável que não...

É essa a cena
os atores em cena
perdemos a fala
esquecemos o script
as tolas multidões
desconhecem o seu caminho...

A guerra em cena
é moda em cena
desconhecer tudo
esquecer talvez
num só arremedo
de velhos sonhos desbotados...

Eu quero a cena
final em cena
pelo menos tentei ser feliz
naquele certo dia
mas se consegui ou não
são outros quinhentos...

Eterna Espera

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As gotas caem, caem
As esperanças vaiem, vaiem
É um sono eterno em mim
Por que sofrer assim?

As alegrias correm, correm
As esperanças morrem, morrem
Eu escondido num canto
Por que esperar tanto?

Os dias vão, vão
As bocas falam não, não
E como dói essa ferida
Por que isso se chama vida?

O gato dorme, dorme
É a saudade enorme, enorme
No meu rosto o susto
Por que todo esse custo?

O rato esgueira, esgueira
É só besteira, besteira
Já é tarde até o cedo
Por que ainda tenho medo?...

Poema das Possibilidades

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Só é possível pegar as estrelas
se pegá-las com a mão
porque só é possível vê-las
aonde é que elas estão...

Só é possível viver um amor
se ele te dói e dói mais
porque ele transforma a dor
até em grandes carnavais...

Só é possível alguém se conhecer
se conhecer o desconhecido
não se importa viver ou morrer
desde que se tenha vivido...

Só é possível ser sempre lembrado
pelas coisas que não se fez
porque entre o certo e o errado
existe sempre um talvez...

Só é possível alguém cantar
se o seu canto é mudo
fechar os olhos é poder olhar
olhar quase que tudo...

Só é possível ser o mais são
se conhecer a loucura
na mais completa escuridão
a noite não é mais escura...

Só é possível vencer o tédio
se matarmos a rotina
e conseguimos o remédio
se desprezarmos a sina...

Só é possível ler esses versos
se os deixarmos de lado
pois são melhores dispersos
bem num canto guardado...

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Sobrevoos


Sabe, Maria, eu sempre tive medo de grandes alturas. Subir numa cadeira já me traz a aflição da iminência de um tombo, de me machucar todo ou, sei lá, que aconteça alguma fatalidade...
E quando eu passo num viaduto ou atravesso uma passarela? As pernas doem mais do que de costume, ficam bem mais pesadas e eu sinto tipo uma vertigem daquelas bem pequenas, que me afligem não por achar que naquela hora eu caio, não é isso, mas que fazem perder a noção de tempo e achar que aquilo ali é que é a tal de eternidade.
Não sei se isso já nasceu comigo, se foi por causa do tombo no cinema. Eu contei? Eu não me lembro qual ano, qual mês, qual dia, essas coisas já estão todas empilhadas na minha memória na parte do esquecimento, mas qual o dia da semana, isso eu tenho certeza que sei. Era um domingo, eu tenho certeza que era. O velho só ia ao cinema no domingo. Coisa de gente velha? Gente velha tem uma porção de manias, mas isso agora não vem ao caso. Só sei que era domingo, tenho a impressão que não era um domingo daqueles quentes.
Pois bem, a gente sempre ia domingo no cinema que havia lá em Santa Cruz, lá no alto embaixo da igreja matriz. Era um cinema bem diferente, enorme, no subsolo da igreja. Meu pai ia primeiro na bilheteria, comprava os ingressos pra nós três e depois ia na lojinha que tinha do lado de fora, comprar as balas Juquinha e os bombons Prestígio era quase um ritual. Nada de pipoca e outras manias dos americanos nos cinemas de lá, tudo era muito mais distante do que nos dias de hoje. 
Mas prossigamos. Não sei porque cargas d'água a gente chegou um pouco atrasado e o filme estava começando. O bobo aqui cheio de pressa saí correndo na frente. Não deu outra, no primeiro degrau escorreguei e caí pra trás e, ai já viu né? Os primeiros dez degraus eram uma reta, depois tipo um descanso e virando pra esquerda o resto da escada. Meu pai quase caiu correndo atrás pra me socorrer, tinha perdido a fala. Depois de um álcool passado no lombo com quem vinha chegando vendo, fomos assistir o filme, mas doía muito.
Pode ser isso, não acha? E eu tenho muito medo de altura, muita mesmo. Sinto um baque no meu coração quando tenho que olhar lugares altos, subir escadas, elevador eu tenho pavor, escada rolante pra mim é o inferno.
Mesmo assim, o ser humano é engraçado, sabe Maria? Duas coisas eu não tenho medo e até gosto. Andar de roda-gigante. Eu adoro! Todo final de ano vinha um parque pra aqui onde eu moro, algumas vezes numa praia, outras vezes em outra. Meu pai sempre levava à noite pra andar, o brinquedo que eu mais gostava (também gostava daqueles carrinhos que batem uns nos outros e tentar ganhar um Mirabel com os tiros de rolha, mas só ganhei um uma vez), gostava muito de estar lá em cima e ver o mar à noite bem lá na frente, lá longe e um monte de luzes refletidas nele. Era lindo...
A outra coisa é viajar de avião. Quando surgiu a oportunidade de ir em Portugal, no começo eu gelei. Uma distância tão grande, num espaço de tempo enorme, e, ainda por cima, sozinho. Acabei gostando, mesmo com aquelas duas turbulências que aconteceram, uma na ida e outra na volta. Talvez a única coisa meio ruim no avião é ter que ficar um tempão sem poder fumar. Só que vale a pena, isso vale.
Mas não era bem isso que eu queria te falar, minha cara. É sobre uns sonhos estranhos que venho tendo nestes últimos tempos. São sonhos estranhos, meio esquisitos mesmo. Não que a maioria deles não o seja, são mesmo. Mas esses...
Um deles é que eu consigo voar, sem asas, sem ser passarinho, simplesmente voo. Só que neles, eu acabo voando meio baixo, quase que caindo, mas mesmo assim não tenho medo na hora, dá pra sentir isso. Como eu voo? Uma coisa muito estranha, sabe? Umas vezes num automóvel voador, feito filme mesmo; em outras, numa espécie de cadeira mágica; já voei até em casinha de brinquedo, dessas de criança, feitas de madeira.
Das outras vezes, é mais esquisito ainda. Como lhe expliquei tenho pavor de escadas. Pois é, nesses sonhos que andam acontecendo ultimamente, o medo não existe. Aparece sempre alguma escada no sonho e eu (veja só, que loucura) adoro sair escorregando nelas. Elas viram um escorrega e desliso com se não acontecesse nada, sem medo e sem dor.
Pois é, Maria, nem imagino o que isso significa, pode ser alguma coisa ou pode ser nada, nunca se sabe, né? É que eu acabo me lembrando de outros voos, de outros medos, o tempo parece tão longo, mas é puro engano. Todas as coisas correm, os inícios às vezes tem pressa e as vezes não, mas os finais são afobados e ariscos. Os finais são imprevisíveis, apesar de parecerem assim tão óbvios.
Outros voos, outros voos, alguns que a gente imagina, outros não, mas quem sabe?...

(Extraído do livro "Os Contos Que Eu Te conto" de Carlinhos de Almeida).

É Poema

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É poema feliz ou triste
tudo que me cerca então
toda a chuva que existe
quanto o sol deste verão

É poema esse passarinho
poema o cão que late
poema rosa, poema espinho
que acaricia ou me bate

É poema quando danço
e também quando eu paro
e quando na rede balanço
entre o vulgar e o raro

É poema se eu me amo
poema também se me odeio
se desencontro ou chamo
se fico na ponta ou no meio

É poema se faço a rima
ou se nem sei como rimar
se olho o mundo lá de cima
ou se mal posso rastejar

É poema todo o mundo
é poema toda essa vida
a eternidade ou o segundo
se é a cura ou a ferida

É poema o que tento
também poesia o que faço
se pro teu colo eu venho
pra aliviar meu cansaço...

domingo, 21 de outubro de 2018

Mesmo Que Sangrem

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Mesmo que sangrem meus pés,
mesmo que sangrem, 
falta-me tempo para os meus sonhos
e cada segundo é tão importante
quanto pode ser toda a eternidade.

Mesmo que sangrem meus dedos,
mesmo que sangrem,
não posso parar de colher as rosas
que meu jardim me presenteou
é a vida presenteando a morte.

Mesmo que sangrem meus olhos,
mesmo que sangrem,
com a visão total da luz do sol,
minhas pobres pupilas dilatadas
não fugirão nunca da verdade.

Mesmo que sangrem meus amores, 
mesmo que sangrem,
hei de guardá-los dentro do peito,
setas que apontam para as estrelas,
as únicas que poderão lá chegar.

Mesmo que sangre minha alma,
mesmo que sangre,
mesmo que sinta total vertigem,
não posso deixar de ser eu mesmo,
mesmo que o preço seja o mais alto...

Uma Eterna Busca do Nada

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Domingo tal qual indefinido
Cate os pequenos lixos pelas ruas
As mãos calejadas de poeira cósmica
E os ombros cansados de tantos zumbidos...
Não sabemos quem é que errou
E muito menos quem certo está
Numa certeira pantomina feita de homens
E desejos que nunca serão satisfeitos...
Nos portões as nulidades quase expostas
E a não-beleza se transformando aos poucos
Porque certamente os segredos bailam
Mas pronunciá-los pode ser uma maldição...
Águas correndo sempre mais fiéis
E os espaços banidos de si mesmos
Como sempre se teve e sempre se terá
Mas que nunca paramos para observar...
As mãos tremem e os pés como sempre doem
Mas eu sigo confiante ou mesmo louco
Entre os brilhos de algumas moscas voando
Ou será que era em algum tiroteio?...
São domingos com cara de tempo algum
O que será servido mesmo se não gostamos
E nossas caretas não serão computadas
Pois os fatos são sempre tão insignificantes...
Um menino procura desesperadamente
Algum pedaço de papel perdido por aí
Para poder desenhar os cadáveres de seus sonhos
Mortos em homéricas batalhas de confete...
Não procurar a perfeição é o modo perfeito
De achar alguma vida entre os escombros
Das coisas mais singelas que guardamos
Antes que as guerras malvadas começassem...
Os vagabundos cães descansam sem remorso
São mais sábios que a grande maioria 
Que diz conhecer algo e desconhecem a si mesmos...
Acabei de fazer uma nova máquina voadora
Ela é impulsionada por minhas insistentes vontades
E com um combustível de alta octanagem 
As muitas paixões em que insisti e insisto...


sábado, 20 de outubro de 2018

Ao Menino

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Ao menino que eu fui, ao menino que eu era um dia, eis aqui o meu total agradecimento. Não foste o mais feliz entre todos, pelo contrário, foste talvez um dos mais tristes que já conheci por esse mundo à fora, mas eu sempre te amei.
Amei teus risos sinceros pelas manhãs, eles eram mais fortes do que os teus choros pelas noites de insônia ou de pesadelos. Amei contigo teus amores impossíveis que foram e não voltarão jamais, amores que faziam queimar o peito e que teus olhos te traíam.
O meu agradecimento, ao menino que tinha medo de escadas e das alturas, mas que sonhava sempre em poder voar. O mesmo menino que olhava com todo o prazer do mundo as casas vistas lá de cima quando podia passear de roda-gigante.
Eram felizes dias de carnaval aqueles e ainda lembro do teu rosto pintado com as cores do palhaço que te acompanhou por toda a tua existência. Eram ruas cheias de barro que o teu contentamento transformava em coisas bonitas mesmo naqueles dias de frio e de chuva.
Ao menino que eu fui, ao menino que eu era um dia, eis aqui o meu total agradecimento. Não foste o mais belo entre todos, mas carregavas nos teus olhos, já naquele tempo, todos os meus sonhos que acabei vendo morrer um à um.
Brinquei contigo naquelas tardes solitárias em que enfileiravas teus pobres brinquedos e vi neles todo o encanto do mundo. Fui teu parceiro de pequenas e inocentes aventuras e contigo desenhei os sóis risonhos no chão do quintal pedindo tempos melhores. 
Chorei contigo pelos que amávamos e que um dia partiram e com o mesmo medo olhei os brancos jazigos porque desconhecíamos o inevitável caminho da morte.
Muito obrigado por teres me compreendido, aceitado as minhas queixas, perdoado a maioria dos meus erros, ter comemorado junto os poucos acertos que a vida nos oferta.  Obrigado, obrigado de todo o coração.
Meu confidente, meu cúmplice, meu mestre, a tua antiga inocência valia mais do que todas as moedas que carreguei nos bolsos; as tuas fantasias são ornadas de todas as cores do mundo.
Tu me ensinaste à fazer os versos que ainda me mantêm vivo, me apontaste onde as nuvens dormem e as estrelas brincam, e isso, nunca poderei te pagar.
Ao menino que eu fui, ao menino que eu era um dia, eis aqui o meu total agradecimento...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...