terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Estruturas


O surdo escutou minhas palavras
O mudo repetiu o que eu dizia
Em cada canto e encanto estavas
Mesmo nesta minha triste folia
O coxo saltitava em passos largos
O louco mostrava a sua teoria
E nós bebíamos os goles amargos
Do que restou desta alegria
A estrela brilhou na madrugada
Em sua luz fraca como tremia
A própria noite era embriagada
E cada um de nós ria e bebia
O morto quis viver na marra
Forçando o sonho que sumia
Vem enlouquece e cai na farra
Falou a tristeza que me queria
Anjos azuis se cobrem de fuligem
Era o tempo que a alma existia
Eis as estatísticas que atingem
Como ninguém mais atingiria
O homicida estremeceu e viu
A visão que ao cego estremecia
E quando a noite então fugiu
Eu ria e chorava e bebia
A chuva secou nossos caminhos
Marquei os passos com maestria
Delicadamente trancei espinhos
E me deitei mesmo à revelia
O surdo escutou minhas palavras
O mudo repetiu o que eu dizia
E dentro de um copo tu estavas
E eu bebia e bebia e bebia!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Carliniana XLIV (Tranças Imperceptíveis)

Quero deixar de trair a mim mesmo dentro desse calabouço de falsas ilusões Nada é mais absurdo do que se enganar com falsas e amenas soluçõe...