sábado, 14 de dezembro de 2013

Cego

Quando te olhei não vi mais nada. Era um rosto de sol como hoje quase não se vê mais. E as flores brincavam nele como num grande jardim. 
Era um jardim esquecido faz tempo. E me fez mais feliz do que as pessoas que passam apressadas pelo mundo. Com seus automóveis do ano e suas pretensões mesquinhas. Esqueci mesmo a hora da novela.
Esqueci do mundo que roda impiedoso. Esqueci da poeira que sujava meus pés. E a luz que tira o cor das coisas. Porque a cor estava por ali no teu sorriso.
E o teu sorriso me fez lembrar de coisas e coisas. E algumas delas não poderiam nunca serem expressas por alguma palavra. À não ser que eu inventasse novas.
Novas palavras. Novos versos. Novos tons. Pra as mesmas coisas antigas que salvam os homens. O sonho nos salva. O riso nos cura. O choro nos lava. E assim nem precisamos de tecnológica novidade.
Novidade pra mim era teu rosto. Novidade pra mim era a tua voz. Porque só o amor faz que todas as coisas se repitam sempre novas. Porque só o sonho atravessa o tempo sem morrer. Porque a ternura atravessa as pedras como a luz atravessa as frestas da janela. Sempre e sempre ainda.
E ainda assim fui andando e andando. Cego por te ver... 

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